Blog do Flavio Gomes
F-1

MANÁ-MANÁ (2)

VINHEDO (jogando damas com os velhinhos) – Tenho uma tese. Nunca mais haverá equilíbrio na F-1. Com regulamentos tão ortodoxos e carros tão sofisticados, computadores infalíveis e engenheiros talentosos, o fato é que do jeito que um carro sai do forno, fica. A margem para desenvolvimento é muito pequena. E se alguém acerta a mão […]

manamana2VINHEDO (jogando damas com os velhinhos) – Tenho uma tese. Nunca mais haverá equilíbrio na F-1. Com regulamentos tão ortodoxos e carros tão sofisticados, computadores infalíveis e engenheiros talentosos, o fato é que do jeito que um carro sai do forno, fica. A margem para desenvolvimento é muito pequena. E se alguém acerta a mão um pouco mais, como fez a Mercedes neste ano, ou a Red Bull nas últimas temporadas, ou a Ferrari um pouco mais atrás, a Brawn em 2009, esquece. A Mercedes é 1s mais rápida que a mais rápida de todas as outras em 2014. Ninguém vai buscar esse segundo. Esqueçam, o Mundial acabou, será uma disputa entre Rosberg e Hamilton e pronto.

Mas não foi sempre assim?

Sim, em alguns momentos do passado, como em 1988 e 1989, com Senna e Prost. Ou na era Williams-Renault, que dava até pena do resto, entre 1992 e 1997 — com os intervalos cedidos à Benetton de Schumacher. E vou dizer, acho que só… Fora desses períodos, sempre houve alguma disputa. Lotus x Tyrrell, Williams x Benetton, Ferrari x McLaren, Williams x Renault, Jabaquara x Santos, Remo x Paysandu, sei lá.

Bom, tudo isso para dizer que obviamente apenas Rosberg e Hamilton lutaram pela pole agora há pouco numa das mil e uma noites barenitas, e foi mamão com açúcar, baba do boi, uma moleza irritante. Lewis cometeu um errinho na segunda tentativa, Nico já tinha tempo, a equipe avisou e acabou. Pole para o alemão, primeira dele no ano, Mercedes na primeira fila, Rosberguinho com 1min33s185, Comandante Amilton a 0s279, e o terceiro colocado, Ricardão, a 0s866.

O australiano da Red Bull enfiou uma latinha na fuça de Vettel, mas larga atrás porque graças à cagada da equipe na Malásia perdeu dez posições no grid e parte em 13°. Tião Alemão, num treino medíocre, ficou no Q2, 11°, mas ganhou uma posição com a punição do parceiro e parte em décimo.

A segunda fila, pois, terá Sapattos, ótimo desempenho, com Pérez, igualmente muito bem (quinto tempo, quarto no grid). Raikkonen e Bonitton em quinto e sexto, Massa e Magnussen em sétimo e oitavo, Alonso e Vettel em nono e décimo, eis aí as cinco primeiras filas para o GP do Bahrein de amanhã.

A surpresa, claro, é Maria do Bairro com a Force India. Hülkenberg, o bom da equipe, empacou no Q2. Ainda não li as explicações e nem vou, porque está saindo uma picanha e eu estou aqui escrevendo. Massa atrás de Bottas virou a única disputa importante na TV, pelo que pude perceber, mas estão superestimando esse negócio. São pilotos que se equivalem e eles vão se revezar nos grids sem maiores dramas ao longo do ano. São tão parecidos no desempenho que no Q2 ambos fizeram exatamente o mesmo tempo. No Q3, o finlandês foi bem melhor. Terceiro e sétimo, vai dar briga, se Felipe largar bem. E é uma briga boa, essa da Williams. Mas Massa, se quiser realmente se impor como líder do time, vai ter de camelar treino a treino, corrida a corrida. Porque o loirinho do olho azul é bem rápido e metido a besta.

No Q2, além da eliminação de Vettel, foi interessante ver novamente Kvyat na frente de Vergne. Como já dito aqui em priscas eras, é bom, o soviético. Grojã conseguiu levar a Lotus à segunda parte da classificação e merece um troféu. E a turma do fundão terá os quatro de sempre, da Caterham e da Marussia, acrescidos de Maldanado e Sutil.

Resumindo, uma classificação bem normal, exceção feita à eliminação de Tião Alemão no Q2. A Ferrari foi muito mal com Alonso, que tomou 1s8 de Rosberguinho. É coisa demais, e não tem como tirar isso, esqueçam. É um horror para qualquer piloto perceber, na terceira corrida do ano, que está fora da briga pelo título. Precisa ser um herói para se manter motivado. Por isso Kimi, já de saco absolutamente na lua, usa óculos escuros até de noite para dar entrevista.

A F-1 precisa de algum antídoto para essas hegemonias anunciadas cedo demais, já na pré-temporada. Algo que permita a reação dos esmagados por aqueles que, por um motivo ou outro, acertam a mão logo de cara. Ah, mas é justo que quem trabalha melhor se dê bem. Sim, é justo. Mas é justo que se permita que os outros tenham como enfrentá-los. Do jeito que são esses carros, construídos sem espaço nenhum de melhora porque o regulamento proíbe tudo, acaba tudo muito rápido.