Sempre que ouço aquela música do Chico, “Meu guri”, lembro de você, Dener. Já lembrava, na época. Era tocar no rádio, Dener vir à cabeça. Tinha certeza que sua vida se encerraria de modo trágico e breve, nada de premonição, apenas uma certeza, porque a gente que sabia dele desde guri sabia que seria assim.
E por saber, seguíamos seus passos, dribles e gols com alegria e orgulho, orgulho que nunca acaba, porque demos ao nosso guri a chance de vencer, a gente sabia que isso seria longe do nosso Canindé, das nossas fronteiras, o mundo era maior que o Canindé, Dener era maior que o Canindé, sempre soubemos disso. Ele disse que chegava lá, e a gente esperava que chegasse. Só que a cada jogo, a cada gol, baixava uma enorme melancolia. A certeza de que aquilo era bom demais para durar. Seria curto.
Mas mesmo assim amamos nosso guri com todas as forças, de tudo fizemos para tê-lo conosco por alguns segundos a mais, e ele nos devolveu o esforço com sua arte, seu amor por aquela camisa, por aquele solo sagrado.
Dener, Dener. Morreste numa madrugada de segunda-feira sem que pudéssemos te defender, como sempre fizemos. Madrugada escura, dormindo. Soube quando cheguei de Aida, no Japão, no aeroporto. Morreu aquele menino, o Denis, me disse o motorista do amigo. Que Denis?, perguntei, O da Portuguesa, ele respondeu, e eu quase morri junto, e na Marginal passamos pelo ginásio de fachada amarela onde estava o corpo, meu Canindé, nosso campo, seu palco, templo universal. Chorei em silêncio para você não perceber, menino. Tu gostava mesmo era de fazer a gente rir.
20 anos, guri. Aquele gol contra a Inter de Limeira segue gravado na alma, não na retina, que o tempo apaga as imagens. A alma, não. Do outro lado do campo, levantei-me e bati palmas como se aplaudisse uma peça de Mozart executada por ele próprio. Ali o futebol poderia acabar, fechar suas portas e agradecer.
Dener, Dener. Fizeste o Gol Fundamental e comemoraste como sempre, gritando e enlouquecendo sua pequena plateia, seus seguidores, seus protetores. A camiseta sempre maior que os braços finos, o número quase escondido dentro do calção, a magreza, a beleza, nosso maior orgulho, nossa mais preciosa pedra.
Dener, Dener, somos muito gratos a você, guri.