Blog do Flavio Gomes
F-1

VAI, MAO!

SÃO PAULO (e o sono, como faz?) – Hamilton, três poles em quatro corridas neste ano. OK, com o carrão que tem, é quase obrigação. Mas não é bem assim, não. Ele tem um companheiro de equipe capaz de fazer o mesmo, e nem tomou conhecimento dele agora há pouco na chuvosa Xangai. E vamos […]

OLYMPUS DIGITAL CAMERASÃO PAULO (e o sono, como faz?)Hamilton, três poles em quatro corridas neste ano. OK, com o carrão que tem, é quase obrigação. Mas não é bem assim, não. Ele tem um companheiro de equipe capaz de fazer o mesmo, e nem tomou conhecimento dele agora há pouco na chuvosa Xangai. E vamos observar com carinho os números do inglês mercêdico: foi sua 34ª pole, o que nas estatísticas significa olhar pelo espelhinho para Prost e Clark (33), a quem deixou para trás, e ter como meta três monstros sagrados, apenas: Schumacher (68, o dobro que ele; OK, vai ser bem difícil chegar lá), Senna (65) e Vettel (45).

Lewis parte como favorito amanhã para o GP da China, chova ou faça sol. Deve sair de Xangai na frente de Rosberguinho na classificação. Aliás, “deve”, não. São 11 pontos de desvantagem, afinal. “Pode” é melhor. Seja como for, os dois deixarão o imenso território xinguelingue mais próximos na pontuação, reforçando a tese de que temos dois campeonatos neste ano, um dos pilotos da Mercedes, outro das demais equipes.

O sábado foi de chuva o tempo todo na metrópole chinesa. No Q1, com 14 graus medidos pelo Celso, o povo foi para a pista com pneus para chuva forte. Menos a Caterham, que preferiu os intermediários porque a inscrição lateral, em verde, combinava com o carro. No pitwall, Marcão Mattiacci anotava um monte de números freneticamente num bloquinho. Até que alguém avisou a ele que não precisava, estava tudo registrado no computador, e foi assim que o novo chefe da Ferrari tomou sua primeira decisão corporativa: suspendeu as encomendas de bloquinhos.

Quando faltavam 5 minutos para o fim, a pilotaiada começou a colocar intermediários como a Caterham, e os tempos foram caindo bastante. Na bandeira quadriculada, Verme, Grojã e Gutierros travaram intensa batalha para saber quem sofreria bullying de noite, juntando-se aos degolados de sempre — no caso, Koba-Mito, Branquinho, Sonyericsson, Chatton e Maldanado, que sequer saiu dos boxes. Dançou o mexicano da Sauber. Na frente, Comandante Hamilton virou 1min55s516 e ficou em primeiro, seguido por Hulk, Tião Alemão e Rosberguinho. Massacrado foi o sétimo.

No Q2, a chuva diminuiu um pouco. “Intermediários Para Todos” foi a campanha que a Pirelli lançou imediatamente, e pelo jeito foi convincente. Os pneus para chuva extrema, implacável, forte, intensa e gelada, conhecidos pela sigla EIFIG, foram largados num canto.

Massa quase se deu mal na segunda parte da classificação. Quando colocou pneus novos, errou na sua primeira volta e na segunda, pressionado, bateu um nono lugar salvador, mas com tempo pouco promissor. Um monte de gente ainda estava na pista, abrindo volta, no momento em que o cronômetro zerou. Mas Hulk, Button e o tagarela Raikkonen, os que mais ameaçavam o brasileiro, não conseguiram melhorar. Degola decretada, na ordem, para Kimi, Bonitton, K-Viado, Fútil, Magnólia e Maria do Bairro. Notem que os dois da McLaren ficaram fora do Q3, resultado decepcionante. Passaram Hamilton (P1 de novo, 1min54s029), Vettel, Rosberg, Ricardão, Alonso, Sapattos, Grojã (palmas para ele), Verme, Massa e Hulk.

Tião, o Alemão, foi o primeiro a sair para a pista no Q3, com intermediários. A chuva apertou um pouco, e alguns acharam que poderia ser o caso de usar os pneus biscoito Globo, mas logo notaram que era burrice.

Vettel fez um bom tempo, até, mas Hamilton dizimou sua marca rapidinho: virou 0s633 mais rápido. Seria bem difícil alguém tirar do inglês mais uma pole. Rosberguinho, por exemplo, foi 0s795 mais lento nessa primeira bateria de voltas quase voadoras.

Só que a pista melhorou um tiquinho no final. Ricardão pulou para segundo, e Lewis foi ainda mais rápido, enfiando mais de 1s no australiano rubrotaurino, com 1min53s860. Quando a ampulheta zerou, todo mundo ainda estava na pista com condição de melhorar um pouco. Rosberguinho se desesperou e não conseguiu nem chegar perto do companheiro. Ricciardo melhorou, mas também não chegou — ficou a 0s595 da pole. O australiano, no entanto, cravou mais um punhal no peito de Vettel, que terminou em terceiro a 1s100 de Hamilton. Fecharam os dez primeiros Rosberguinho, El Fodón de la Quinta Posición, Massacrado, Sapattos, Hulk, Verme e Grojã.

É um top-10 interessante. A Williams merece respeito por ter melhorado muito seu carro para condição de chuva. Alonso, palmas por fazer andar uma trolha que se arrasta com Kimi. Os dois da Red Bull, aplausos por transformarem a viatura deprimente da pré-temporada em algo minimamente competitivo. E os outsiders Hülkenberg, Vergne e Grosjean, por entubarem seus companheiros de equipe sem dó, nem piedade.

Mas é este sorridente Ricardão que está merecendo algumas palavrinhas mais cuidadosas neste início de Mundial. O rapaz está metendo tempo, com alguma frequência, num dos maiores pilotos da história, Vettel, que outro dia mesmo conquistou seu quarto título mundial. E o germânico não é um veterano decadente que vive do passado. Nada disso. Acabou de levar a quarta taça, insisto. E Daniel não está nem aí. Mete o punhal e abre o sorriso. Isso deve irritar deveras Vettel, que até o ano passado era o queridinho incontestável da Red Bull, diante da desolação permanente de Webber.

Daí seu mau humor ao final da classificação, embora esteja na segunda fila, o que não é tão ruim assim. A cara fechada do alemão chamou a atenção das autoridades chinesas, que analisaram fotos e vídeos com um software que interpreta expressões faciais. O programa, adquirido por um agente infiltrado no comércio popular do Largo São Bento, concluiu que ele, Vettel, representava séria ameaça ao regime “por demonstrar clara irritação com a situação atual, sendo potencial disseminador da discórdia e insatisfação”. Por isso, designaram De Doduling para colar nele no fim de semana e, dependendo das provas obtidas, detê-lo para investigações e lavagem cerebral.

Meu camarada espião, no entanto, é fã de Vettel e, como sabemos, detesta encrenca. Com seu gravador de rolo escondido sob o gorro de lã, captou uma resposta do piloto a um jornalista ucraniano que perguntou a ele como vai a vida neste ano. “Vai mal”, disse Sebastian. Expert em edições de áudio, De Doduling juntou à resposta uma gravação antiga que retirou do YouTube e redigiu o relatório:

Camaradas, Sebastian Vettel apenas dá a impressão de contrariedade com a situação atual do país e do povo chinês. Ele é um dos nossos e isso pode ser comprovado por seu entusiasmo destacado na fita 005f aos 4min19s, quando cruzou no paddock do autódromo com um transeunte de origem desconhecida, vestindo uma camisa branca e preta, que a ele gritou: “Vai, Curíntia!”, expressão de júbilo famosa em país da América do Sul, ao que o investigado retrucou com “Vai, Mao!”, exaltando nosso Grande Líder, colocando-o muito acima da comunidade alvinegra de Parque São Jorge.

Achei meio arriscado esse relatório, porque corintiano, como se sabe, é que nem pardal e formiga, tem em todo canto. Vai que um de seus superiores é primo do Zizao, ganhou uma camisa, e o relatório mequetrefe de De Doduling vai para o vinagre. Gosta de brincar com o perigo, nosso espião.