Blog do Flavio Gomes
F-1

É TETRA! (2)

SÃO PAULO (aproveitemos) – Revezamento de azares. É assim que a banda toca em 2014. Em Silverstone, Rosberguinho ficou sem marchas. Hoje, Comandante Amilton quebrou o disco, tal qual faria Flávio Cavalcanti. (Se não sabem quem foi Flávio Cavalcanti, deem um Google. Pesquisem. Aprendam. Saibam alguma coisa sobre o passado. É tudo muito fácil, não […]

etetra2SÃO PAULO (aproveitemos) – Revezamento de azares. É assim que a banda toca em 2014. Em Silverstone, Rosberguinho ficou sem marchas. Hoje, Comandante Amilton quebrou o disco, tal qual faria Flávio Cavalcanti.

(Se não sabem quem foi Flávio Cavalcanti, deem um Google. Pesquisem. Aprendam. Saibam alguma coisa sobre o passado. É tudo muito fácil, não precisa procurar enciclopédia, nem perguntar para ninguém, nem ir à Biblioteca Municipal. Todo o conhecimento do mundo está ao alcance desse diabo de computador que você está usando. Use-o para alguma coisa útil. As pessoas andam burras demais, desinformadas demais, desinteressadas demais. Qualquer brasileiro vivo tem obrigação de saber quem foi Flávio Cavalcanti.)

Resultado do disco de freio quebrado, o direito, dianteiro: Hamilton estampou a proteção de pneus na primeira curva do Estádio e ali acabou a classificação para ele, ainda no Q1, mas já com tempo suficiente para passar ao Q2, o que significa que ele foi ao Q2, mas sem carro, e se quisesse sair correndo a pé no Q2, poderia. Entenderam? Só que com o calor infernal de hoje em Hockenheim, Lewis preferiu o ar-condicionado dos escritórios mercêdicos. Ficou em 16°, mas larga em 15° graças a uma punição para Gutierrez, ainda do GP da Inglaterra.

Quando falo de calor, é calor mesmo: 33 graus, com 55 na pista. Aquela história de fritar ovo no asfalto. Dava mesmo. A panca de Hamilton interrompeu o Q1 a 7min21s do final. Ele estava em segundo, com Sapattos, este fenômeno, em primeiro. Quando a pista foi reaberta, Rosberg fez o melhor tempo passando com as quatro rodas fora do limite da pista na última curva. Ui, ui, ui. Havia uma frescura oficial da FIA de proibir os pilotos de romperem a faixa branca do leito da pista. Ao que parece, o bom-senso prevaleceu e a frescura oficial foi revogada. Se tem lugar para passar com o carro, que se passe. Zebra, carpete, grama, brita, o que for.

O Q1 degolou Sutil (a Sauber está uma draga, este ano), Bianchi, Maldonado, Kobayashi, Chilton e Ericsson. Arquibancadas desertas testemunharam a abertura do treino, algo que a transmissão da FOM não conseguiu esconder. Grandes vazios no Estádio e nas tribunas patrocinadas. Horrível de ver. Mas não vou ficar repetindo aqui o que disse ontem, sobre a necessária reinvenção da F-1. Problema deles.

No Q2, Bottas mostrou que não estava para brincadeira e cravou uma volta em 1min17s353, o que parecia excepcional para as circunstâncias. OK, Rosberguinho virou 1min17s109 logo depois, mas percebeu que não poderia bobear no Q3, como bobeou na Áustria — perdendo a pole para Massa. A Williams se firmou como segunda força do campeonato, com algum atraso. Todos diziam isso na pré-temporada, que o carro era bom e tal, e que poderia bater Red Bull, Ferrari e tal, e isso finalmente começou a acontecer com frequência. Demorou meia temporada para tudo encaixar. Agora que encaixou, é melhor que os pilotos aproveitem.

O finalzinho do Q2 foi muitíssimo emocionante, as pessoas pararam de respirar e o mundo cessou de girar ao notar Hülkenberg, Button, Raikkonen e Pérez ameaçados pela guilhotina da ampulheta. Maria do Bairro foi o último a sair dos boxes e conseguiu a décima posição. O México inteiro está chorando de felicidade até agora. Seu companheiro Hulk também se safou. E rodaram, pela ordem: Button (vexame, Magnólia Atormentada passou fácil), Raikkonen (está dando pena), Vergne, Gutierrez, Grosjean e Hamilton, por motivos já mais do que explicados.

Apenas Williams, Red Bull e Force India, pois, seguiram com suas duplas para o Q3, acompanhados de uma Mercedes, uma McLaren, uma Ferrari e uma Toro Rosso. Tenho o hábito de chamar os carros de F-1 no feminino. Mas está errado. O certo é tudo no masculino, exceto para a Ferrari, que é mulher. Pelo menos era assim quando eu seguia manuais de redação. Agora, escrevo como quiser.

Logo de cara, e sempre com pneus supermacios, como todos desde o começo, Rosberguinho fez uma volta em 1min16s540 que foi, para dizer o mínimo, de foder. Só que no fim ele voltou à pista, just in case. Porque Sapattos podia conseguir alguma coisa extraordinária. E quase conseguiu. Ficou a apenas 0s219 de Nico na sua segunda tentativa. Uma volta espetacular. Massa fez a lição de casa sem o brilho do finlandês e fechou em terceiro, a 0s538 da pole. Rosberguinho não precisou melhorar seu tempo e colocou no seu livrinho de estatísticas: nona pole da carreira, quinta no ano. Magnussen, em quarto, fechou a segunda fila. Ótimo resultado. A terceira fila ficou com os rubrotaurinos, Ricardão em quinto (a 0s733 da pole) e Tião Alemão em sexto (a 1s037; definitivamente, Vettel faz sua pior temporada). Alonso, Kvyat, Hülkenberg e Pérez vieram a seguir nas dez primeiras posições.

Ficou muito fácil a corrida para Rosberg, embora seja bem claro que em algum momento Hamilton vai estar em segundo. Ou quase isso, porque a Williams aparece mesmo como uma adversária de respeito e vai dar trabalho. Portanto, Lewis terá de correr com a cabeça e dividir sua prova em três. Primeira missão: largar bem e não se meter em nenhuma cagada no pelotão da merda, que elas acontecem. Segunda missão: escalar o grid e se colocar atrás da Williams, tendo, para isso, de superar Red Bull e Ferrari. Terceira missão: tentar ganhar as posições da Williams para buscar um pódio e minimizar o prejuízo. Para fazer tudo isso, Hamilton vai precisar de paciência, o que nem sempre tem.

Para Massa, um pódio seria importantíssimo. Se não conseguir e Bottas levar mais um troféu (que deve ser feio de novo, é do banco), o terceiro seguido, vai ser duro. Tipo soco no estômago, até porque já não há mais desculpas e/ou explicações disponíveis no estoque.

Uma palavrinha final sobre Hockenheim. Sempre que mostram imagens aéreas da pista, é como se um punhal fosse cravado nas minhas costas. O que fizeram com esse circuito foi uma maldade inominável. A pista, única e desafiadora, rápida e misteriosa, virou uma merda sem tamanho. Todo ano falo isso, mas não faz mal. Falarei por todos os anos da minha vida. Quem já guiou no meio daquela floresta deveria se recusar a andar nessa porcaria.