Blog do Flavio Gomes
F-1

É TETRA! (3)

SÃO PAULO (fica, tem bolo) – Quando é que o Santander vai encomendar uns troféus decentes? Na boa, primeiro era aquele cocozinho. Agora, um treco de plástico, padronizado, que parece ter sido feito por algum carnavalesco de escola de quarta divisão. Como alegoria de bloco que sai lá atrás. Um horror. Não é justo um […]

etetra3SÃO PAULO (fica, tem bolo) – Quando é que o Santander vai encomendar uns troféus decentes? Na boa, primeiro era aquele cocozinho. Agora, um treco de plástico, padronizado, que parece ter sido feito por algum carnavalesco de escola de quarta divisão. Como alegoria de bloco que sai lá atrás. Um horror. Não é justo um cara se enfiar num carro de corrida e acelerar por quase duas horas para levar aquela porcaria para casa.

Pronto, o que de mais importante para dizer do GP da Alemanha está dito. E é necessário porque o banco espanhol patrocina um monte de corridas. Daqui a pouco vai ter piloto escolhendo a prova para ir ao pódio. “Opa, essa aí é Santander, melhor eu ficar longe.” Talvez isso explique o domínio da Mercedes no ano. Ninguém quer colocar aquela porcaria na estante. Não orna. Não combina com nada.

Os três que vão ter de levar a tranqueira na bagagem de mão hoje são Rosberguinho, Sapattos e Comandante Amilton. E foi um bom GP, esse de Hockenheim. Com menos calor, nem sol teve, Hamilton em 20° no grid (era 15°, mas trocou o câmbio e levou cinco posições de punição), duas Williams lá na frente escoltando Nico, o pole,  Alonso e Vettel em posições interessantes, dava para imaginar algo legal. E de fato aconteceu.

Menos para Massa.

Incrível o azar do brasileiro nesta temporada. Azar auxiliado por algumas bobagens, diga-se. Das quatro pancas de que me lembro (Austrália, Canadá, Silverstone e hoje), isento o brasileiro completamente apenas de uma, a de Melbourne, atingido por trás por um Kobayashi desembestado sem freio. Em Montreal, embora a FIA não tenha entendido assim, e quase ninguém, acho que Felipe foi o culpado pelo acidente com Pérez. Na Inglaterra, empacou na largada e por isso caiu para último, e por ter caído para último encontrou Kimi rodado pela frente. É aquela coisa: quem se coloca no pelotão da merda está sujeito a elas, as merdas. A batida não foi culpa dele, claro, até evitou o pior, que seria entrar no meio da Ferrari e atravessar Raikkonen pelos rins, mas se tivesse feito o trabalho direitinho na classificação e na largada, estaria nas primeiras filas, e não nas últimas.

E hoje não dá para culpar ninguém, nem Massa, nem Magnussen. O toque aconteceu na primeira curva. Bottas estava entre os dois, talvez um não tenha visto o outro. Felipe tirou o pé para não bater no companheiro e para tomar a curva, o que é absolutamente normal, mas tangenciou como tangenciaria se estivesse sozinho na volta, o que não se faz numa largada. E Magnólia também entrou na curva como se não houvesse mais ninguém na pista, o que igualmente não se faz em largada. Todo cuidado é pouco numa primeira volta, ainda mais numa pista estreita como a de Hockenheim.

O resultado foi que uma roda tocou na outra, e nessas horas quem está com o urubu sobrevoando o box é que se dá mal. No caso, o brasileiro. Seu carro capotou, arrastou-se de cabeça para baixo pela área de escape e desvirou. Não aconteceu nada com o piloto, felizmente. Mas sua corrida durou algumas dezenas de metros. Largando em terceiro, e vendo onde terminou Bottas, era prova para pódio. Já o jovem estreante da McLaren rodou, perdeu posições, não arrebentou o carro e conseguiu ir até o fim. Terminou em nono.

Massa vive um inferno astral daqueles, porque Bottas fez de novo uma corridaça. Acabou em segundo, e nas últimas seis voltas, com pneus macios, segurou o ímpeto de Hamilton, com supermacios, que vinha babando desde a primeira volta. Verdade que na fase derradeira da corrida o auge dos pneus-chiclete de Lewis durou exatamente até ele encostar no finlandês. Ele chegou a virar 1s5 mais rápido que Valtteri até colar na Williams, mas depois esse rendimento caiu um pouco. E o Mercedão que empurra seu carro é o mesmo que empurra a garrafa de Martini. Calmo e muito tranquilo, Bottas não chegou a ter seu segundo lugar ameaçado.

Para Hamilton, foi bom. Ele teve muito trabalho para escalar o pelotão, exatamente como se imaginava. Correria algum risco no início, para se livrar das chicanes móveis, e teria mais trabalho depois que chegasse a uma posição intermediária, porque encontraria carros mais difíceis de passar e pilotos carne-de-pescoço. Na quinta volta, já estava em 12°. Na décima, em décimo. E aí apareceu Ricciardo à sua frente, e logo depois Raikkonen, e outros tantos. Na volta 13, Comandante Amilton passou os dois, Ricardão e Kimi Dera Estar no Bar, numa manobra lindíssima. Como largou com os pneus mais resistentes, o inglês foi adiando sua parada até onde desse. Na volta 16, com as trocas da maioria, estava em segundo, a 7s de Rosberguinho, que já tinha feito seu primeiro pit stop.

Hamilton faria sua primeira troca na volta 27. Caiu para oitavo e começou a remar tudo de novo. Muitas vezes, abriu caminho à força, como com Button na volta 29. Pediu desculpas e foi em frente. Perdeu até um pedaço da asa — que não afetou em nada seu carro, o que só prova que essas asas dianteiras cheias de frestas e ondas são um exagero, uma frescura para justificar a existência dos túneis de vento.

Na volta 39, ainda com uma única parada, Hamilton já estava lá na frente de novo, em terceiro. Rosberg, que nem aparecia na TV, desfilava na ponta sem ser incomodado por ninguém. Parou na 42ª para sua segunda troca e enquanto isso Hamilton traçava uma estratégia voadora: mais duas paradas, para fazer a última parte da corrida toda com pneus supermacios em bom estado. Foi assim que parou nas voltas 43 e 51, e nessas idas e vindas ia atropelando quem aparecesse pela frente. Só sobre Alonso foram duas ultrapassagens.

Na volta 50, um possível susto para Rosberg. Sutil rodou na entrada da reta dos boxes e deixou o carro lá, atravessado na pista, sem cartão de Zona Azul. Um safety-car poderia atrapalhar bem seu final de corrida. Mas a direção de prova achou melhor mandar os fiscais darem um jeito, e eles conseguiram empurrar a Sauber para o acostamento.

Assim, Rosberguinho recebeu a bandeirada com sossego e paz em primeiro, pela sétima vez na vida e quarta na temporada. Festa dele, dos alemães, da Mercedes, de todo mundo. Semana encantada para o país, mas com muitos vazios nas arquibancadas de Hockenheim. De novo.

Bottas comemorou demais seu terceiro pódio seguido (300° da história da Williams), e Hamilton conseguiu minimizar o prejuízo que poderia ser bem maior, para quem tinha largado em 20°. Não parecia feliz ao ganhar o troféu, mas deve ser mesmo porque o prêmio é horroroso, coisa de festa junina de paróquia pobre. De quatro pontos, a diferença dele para Rosberg subiu para 14: 190 x 176. Faltam dez corridas, ainda, tem tempo. Nico segue em vantagem psicológica. Hamilton é impetuoso e amalucado. A briga é muito interessante.

Fecharam a zona de pontos, a partir do quarto, Tião Alemão (bela corrida, combativa, com luta e disposição), El Fodón de La Quinta Posición (demorou para fazer a última parada), Ricardão (se deu mal ao desviar de Massa de ponta-cabeça na largada, caiu lá para trás e se recuperou, com belas ultrapassagens e muita luta), Hulk (pontos em todas as corridas, como Alonso), Bonitton (discreto, mas OK), Magnólia e Maria do Bairro.

Semana que vem já tem mais, na Hungria. A Williams já é, em definitivo, até acontecer alguma coisa nova, a segunda força do campeonato. Pena para Massa que ele não está aproveitando o momento. Quase nada. Bottas, por outro lado, arranca o máximo do equipamento que lhe deram. Tem 91 pontos, contra 30 de Felipe. Graças a ele, a Williams passou a Ferrari e está em terceiro entre as equipes. Não há reparo a fazer ao campeonato do finlandês. Ao de Felipe, muitos. Tem meio ano para reagir e fazer jus à confiança do time no seu taco. E não vai dar tempo nem de respirar, porque domingo tem corrida na Hungria.