Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE ONTEM DE MANHÃ

SÃO PAULO (hoje tem coisa pacas) – A guerra deflagrada na Mercedes, os motivos de cada um, o futuro da dupla Ferrari, Vettel dando uma de come-quieto, os azares de Massa, a estreia de Lotterer… Um GP nunca termina na quadriculada, como sempre digo (nunca disse isso, mas a frase é boa). Vamos aos ecos […]

SÃO PAULO (hoje tem coisa pacas) – A guerra deflagrada na Mercedes, os motivos de cada um, o futuro da dupla Ferrari, Vettel dando uma de come-quieto, os azares de Massa, a estreia de Lotterer… Um GP nunca termina na quadriculada, como sempre digo (nunca disse isso, mas a frase é boa). Vamos aos ecos de Spa:

– Está na cara que quando Rosberguinho falou que fez o que fez “para provar uma coisa”, referia-se a este momento aí do lado. Foi no começo do ano. Hamilton, deliberadamente, agrediu o companheiro nos países baixos. Isso não se faz. É muito mais grave que qualquer toque em corrida. As imagens tomadas por um cinegrafista amador me foram enviadas anonimamente pelo Renan do Couto. Não é montagem. Está tudo explicado.

– A Mercedes não sabe direito o que fazer. Qual a única ordem de equipe aceitável numa situação dessas? Não façam merda. Porque o título vai ficar em casa, com um ou com o outro. Melhor que seja decidido com lisura e sem mais atritos. Se possível, sem um bater no outro. Se não querem mais se falar, paciência. Se tiverem de almoçar e jantar em motorhomes separados, tudo bem. Mas não batam um no outro. Esse foi o motivo da ira de Lauda e Wolff ontem. Não há mais ilusões sobre camaradagem. Nenhum vai abraçar o outro numa vitória, ou pole. A paz acabou. Ou, como escrevem nossos amigos das organizadas nos muros dos clubes, “A PAS ACABOL”.

– Agora, que é divertido pacas, é. OK que assistir ao fim de uma longa amizade é algo que pode chocar, é meio triste, como disse ontem, mas do ponto de vista de marketing para a categoria, não há nada como uma grande rivalidade. Leva as pessoas a assumirem um lado, a torcerem para um ou para outro, a odiarem o rival, a procurarem defeitos atávicos e qualidades únicas. De que lado você está? Do neguinho emotivo, aguerrido, talentosíssimo, que se sente injustiçado, ou do branquelo coxinha, loirinho, frio e calculista, igualmente talentoso, que luta com as armas que tem e é vaiado no pódio? É uma boa disputa, convenhamos.

– Sobre o toque, mantenho minha visão do momento: coisa de corrida. Podia ser evitado, mas não podia ser tão bem calculado quanto algumas pessoas imaginam. Há uma diferença entre bater de propósito e não se esforçar muito para não bater. Rosberg assumiu o risco porque tinha menos a perder, talvez. Se batesse e os dois não pontuassem, não mudaria muito sua vida. Hamilton, por sua vez, não tinha muito a fazer. Estava na frente, fez sua linha. Nico poderia ter tirado o pé levemente. O ponto que depõe contra o alemão, para mim, é apenas um: precisava tentar a ultrapassagem na segunda volta? Poderia esperar um pouco mais? Acho que sim. O que não faz dele automaticamente culpado. E há um fato: ele não evitou. E isso faz dele automaticamente um pouco culpado. Um pouquinho só.

– Raikkonen e Alonso ficam na Ferrari em 2015, disse Machu-Pichu. OK. Têm contrato, tudo bem. Mas ainda acho que no fim do ano Kimi vai pedir para sair, se não enxergar uma luzinha no fim do túnel. Alonso não tem para onde ir, exceto para a McLaren, para liderar o projeto com a Honda. Mas acho improvável.

– “E na Mercedes?”, alguém pode perguntar. Sim, porque do jeito que a coisa anda, alguém consegue imaginar dois caras que passaram a se odiar tanto continuarem na mesma equipe? A conferir. Esse tipo de relacionamento não funciona. Prost se mandou da McLaren no fim de 1989. Piquet foi embora da Williams depois de conquistar o título de 1987. O próprio Alonso achou por bem não ficar brigando com Hamilton na McLaren, ao final da temporada de 2007. São todos competitivos, e quase todos dizem que não precisam ser amigos de seus companheiros de equipe. Mas, no fundo, ninguém gosta de conviver tão intimamente com quem não gosta. Um acaba roendo a corda.

– Não se iludam com o mau campeonato de Vettel. O rapaz não se acertou com esses pneus e com a maneira que esses carros devem ser pilotados, com turbo, dois motores extras e frenagens diferenciadas, para usar um termo caro aos dias de hoje. Eu diria que está usando esta temporada para se adaptar à nova F-1, algo que outros pilotos conseguiram rapidamente. Ele voltará muito forte no ano que vem. Quanto a Ricardão, é um que pegou a mão rápido. Como Bottas.

– Já Massa… Não sei se vou continuar usando a frase “precisa desesperadamente de um bom resultado”. Venho falando isso desde, sei lá, Mônaco. Somem-se à dificuldade de ter um companheiro velocíssimo e muito bom, tecnicamente, azares como o de ontem, de carregar restos mortais de pneu furado no assoalho por voltas a fio. A Williams levou dois pit stops para perceber. Felipe deveria ter parado na hora. Mas também não sabia o que estava acontecendo. Sabia que algo estava acontecendo, mas não exatamente o quê. No fim das contas, porém, fica apenas a sensação de que está desperdiçando chance em cima de chance de fazer um bom campeonato com um carro surpreendentemente bom. Bottas, por sua vez, aproveita cada oportunidade.

– Lotterer, coitado, deu só duas voltas. Mas largou na frente de Ericsson, que é um piloto fraco. Não sei qual o dedo da Audi nessa brincadeira. Talvez haja. Talvez não, e tenha sido apenas para curtir um pouco. Saberemos.