Blog do Flavio Gomes
F-1

SOVIÉTICAS (3)

SÃO PAULO (taça merecida) – Assim que acabou o GP da Rússia, as mensagens de rádio de Hamilton e Rosberg para a equipe apontaram as diferentes direções que este campeonato tomou para cada um dos pilotos. Lewis, vencedor pela nona vez no ano e 31ª na carreira (igualou Mansell nas estatísticas), mandou um carinhoso parabéns pelo […]

sovieticas003SÃO PAULO (taça merecida) – Assim que acabou o GP da Rússia, as mensagens de rádio de Hamilton e Rosberg para a equipe apontaram as diferentes direções que este campeonato tomou para cada um dos pilotos. Lewis, vencedor pela nona vez no ano e 31ª na carreira (igualou Mansell nas estatísticas), mandou um carinhoso parabéns pelo título mundial de Construtores assegurado matematicamente e disse: “Estamos fazendo história”. A Mercedes chegou a 565 pontos e já não pode ser alcançada por ninguém. A Red Bull tem 342, seguida por Williams (216) e Ferrari (188).

Já Nico pediu desculpas por ter exagerado na dose na primeira volta, quando tentou passar Hamilton, fritou os quatro pneus, mais o estepe, teve de ir para o box para trocar tudo, caiu para último e precisou remar bastante para, com um carro excepcional, terminar em segundo. “Aquilo foi totalmente desnecessário, mas obrigado pelo carro que vocês me deram”, falou o alemãozinho.

E é isso. A direção de Hamilton é fazer história, sendo bicampeão. A de Rosberg, pedir desculpas pelos erros que tem cometido na hora da decisão.

No pódio, sorrisos contidos e nem um olhar trocado entre os dois pilotos da Mercedes, que fizeram a nona dobradinha no ano em 16 corridas disputadas. Comandante Amilton chegou a quatro vitórias seguidas e ampliou sua vantagem sobre Nico para 17 pontos — 291 a 274. Ainda há 100 em jogo nas três provas que serão disputadas (EUA, Brasil e Abu Dhabi, com pontuação dobrada), verdade. As chances de Rosberguinho evidentemente são concretas.

Ocorre que até hoje, na história nenhum piloto que venceu quatro GPs consecutivos perdeu o título. Não será agora. Acho.

Hamilton já é o campeão, na visão deste modesto escriba. Menos pela pontuação, mais porque seu momento é de enorme ascensão, depois de alguns tropeços na primeira metade da temporada, e ele passa muita segurança naquilo que está fazendo. Como fez hoje no chatíssimo GP russo, desde os primeiros metros da corrida. Largou bem, chegou forte na primeira curva, não se assustou com a tentativa suicida e precipitada de Rosberguinho, manteve-se calmo e tranquilo e deixou para o alemão o ônus da ansiedade. Nico, além de torrar a borracha, ainda passeou por fora da pista e foi obrigado a devolver a posição. Impassível, Hamilton nem pelo rádio comentou o tema. Depois que o companheiro teve de parar, a corrida foi só sua.

Uma prova com característica curiosa, a de não gastar borracha. Nico trocou seus pneus quadrados na primeira volta, colocou os médios e foi até o fim com o mesmo jogo. O resto também fez apenas uma parada, ali a partir da volta 20, e apenas porque todos são obrigados a usar os dois compostos disponíveis num GP. Apenas Felipe Massa fez algo diferente. Largando em 18° com pneus médios, apostou num pit stop de primeira volta, também, para fazer a corrida toda com macios e rápidos. Só que teve de parar de novo depois da metade do GP…

Rosberg se recuperou e chegou em segundo mesmo com o único pit stop na primeira volta. Massa, não. No início, até acompanhou o ritmo da Mercedes, escoltando o alemão. Na 20ª volta, Nico entrou na zona de pontos, assumindo a décima posição. Mas aí Felipe ficou. Tanto que na volta 28 fez uma segunda parada, caiu para 14° e novamente empacou atrás de Pérez quando estava em 11°, sua decepcionante posição final.

Mais ainda porque seu companheiro Bottas, pela quinta vez no ano, subiu ao pódio com a terceira colocação. Ele se manteve em segundo boa parte do tempo, ainda que distante de Hamilton. Mas Rosberguinho estava endiabrado, e com um carro assombroso. Na volta 30, chegou no finlandês da Williams, brigando pelo quarto lugar. Vettel, que ainda não tinha parado, era o segundo. Na 31ª, Sebastian parou e Rosberg passou Bottas, assumindo o segundo lugar que lhe era de direito. Mas, àquela altura, brigar com Hamilton era impossível. O inglês estava mais de 20s à sua frente.

Acomodadas as posições, a corrida seguiu sem maiores emoções até o fim. Foi chata mesmo, como se imaginava que seria pela falta total de criatividade no desenho do circuito. Hamilton venceu seguido por Rosberg e Bottas, os três que foram ao pódio para cumprimentar o presidente russo, Vladimir Putin — que entregou os troféus a Lewis e a Paddy Lowe, pela Mercedes. Button, Magnussen (esse, sim, fez um corridão; de 11° para quinto na largada e pontos importantes para a McLaren), Alonso (discretíssim0), Ricciardo (idem), Vettel, Raikkonen e Pérez fecharam a zona de pontos.

Pela primeira vez, os motores Mercedes ficaram com as cinco primeiras posições de um GP. Uma demonstração inequívoca de força e competência. Os alemães, na comemoração, fizeram questão de lembrar e dar créditos a Ross Brawn e Michael Schumacher, que em 2010 pegaram o touro à unha e construíram uma equipe — verdade que sobre uma base sólida da própria Brawn GP, campeã mundial de 2009.

O domingo de sol e céu azul em Sochi foi marcado, antes da largada, por muitas homenagens a Jules Bianchi, que segue internado no Japão. Pouco antes de o hino russo ser cantado por um coro de jovens, os pilotos todos se reuniram na frente do grid, foram cumprimentados por Bernie, Todt e outras autoridades, e depois se abraçaram em círculo em torno de um capacete do piloto da Marussia. Foi bem bonito e emocionante. Eles sabem que, de um jeito ou de outro, mesmo que Bianchi sobreviva, perderam um colega de trabalho em circunstâncias muito violentas.

Estas semanas de folga até o GP dos EUA farão bem aos pilotos, que precisam dar uma respirada. E quanto a Jules, só resta torcer e torcer e torcer.