Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE ONTEM À TARDE

SÃO PAULO (sem tempo para respirar) – Tem bastante coisa para falar da corrida de ontem. Não que ela tenha sido boa — não foi. Mas encaminhou o título, escancarou uma crise, revelou erros decisivos de alguns pilotos e equipes. E estabeleceu alguns números importantes. Vamos ao rescaldo de Austin, também conhecido como “tudo aquilo […]

SÃO PAULO (sem tempo para respirar) – Tem bastante coisa para falar da corrida de ontem. Não que ela tenha sido boa — não foi. Mas encaminhou o título, escancarou uma crise, revelou erros decisivos de alguns pilotos e equipes. E estabeleceu alguns números importantes.

Vamos ao rescaldo de Austin, também conhecido como “tudo aquilo que eu não tive tempo de escrever ontem, ou esqueci”:

– Hamilton, com 32 vitórias na carreira, é agora o britânico que mais ganhou corridas na história da F-1. Ele superou Nigel Mansell, que mandou um abraço a ele pelo Twitter. O Leão detinha a marca desde o encerramento da temporada de 1994, em Adelaide. Há 20 anos, ele foi convidado por Frank Williams para disputar as últimas provas daquele campeonato e não decepcionou, longe disso. Praticamente aposentado, cravou uma vitória inesquecível na Austrália– rara alegria num ano de traumas e tragédias.

– A diferença de 24 pontos que Lewis tem sobre Rsoberguinho necessariamente leva a decisão do título para Abu Dhabi — ou “Abu Double”. Isso porque mesmo se ele vencer em Interlagos e Nico não pontuar, a diferença sobe para 49. Na última corrida, Rosberg pode vencer e marcar 50, porque a pontuação será dobrada. Nesse caso, leva a taça se Lewis não pontuar.

– Por que Rosberg foi ultrapassado com tanta facilidade na 24ª volta do GP dos EUA? Porque errou. Nico apertou um botão errado quando tentou despejar potência do ERS para se defender. A potência não veio. Hamilton, sim. Veio e passou. E babau.

– E por que Massa não chegou ao pódio, apesar de se manter em terceiro por quase dois terços da corrida? Porque a Williams e ele mesmo erraram, como explicou Rob Smedley: um pit stop lerdo, chamada para o box na hora errada e uma volta ruim do brasileiro antes do pit stop. A + B + C = Ricciardo em terceiro e Massa em quarto.

– Pérez perdeu sete posições no grid de Interlagos por ter batido em Raikkonen e Sutil na primeira volta da corrida. Merecido. Esse menino faz muita bobagem, embora seja um piloto combativo e veloz.

– A crise é feia, ninguém nega. Nem mesmo Bernie Ecclestone, que fez uma espécie de “mea-culpa” e disse ser o responsável pelo mau momento da F-1, que largou com minguados 18 carros no Texas. O chefão da categoria, aos 84 anos, acha, no entanto, que dá para sair da crise — tinha um programa na TV Gazeta, nos anos 80, que se chavama “Vamos sair da crise”, alguém lembra? Bernie poderia começar pela distribuição de dinheiro, mexendo no Pacto da Concórdia — que como ele mesmo disse, foi feito em outro momento, e as coisas têm mudado muito rapidamente no mundo. Para se ter uma ideia de como essa divisão é perversa, veja quanto ganharam em prêmios por pontos no ano passado (os valores estão em milhões de reais):

Ferrari – 416
Red Bull – 404
McLaren – 240
Mercedes – 232
Lotus – 164
Force India – 148
Williams – 140
Sauber – 132
Toro Rosso – 124
Caterham – 76
Marussia – 24

Como se vê, a coisa é muito desigual. OK, meritocracia, a recompensa é maior para os que têm melhor desempenho e tal — embora a Ferrari leve sempre mais, por antiguidade (está no contrato…). Mas é um abismo brutal, que deve ser revisto. Senão, as equipes pequenas morrem. E as grandes não terão dinheiro para alinhar três carros. E afunda todo mundo junto. Ecclestone considera possível uma mudança nesses valores. “Se as equipes grandes aceitarem, não vejo motivo para não fazer”, falou.