Blog do Flavio Gomes
Grande Prêmio

15 ANOS HOJE

SÃO PAULO (long and winding road) – Eu não tinha a menor idéia, para ser honesto. Mas nesta semana, pelo Facebook, o moleque apareceu e perguntou: dia 1° de março não faz 15 anos do Grande Prêmio? Eu não falava com ele havia alguns meses. E descontado esse breve papo de meses atrás, havia muitos […]

SÃO PAULO (long and winding road) – Eu não tinha a menor idéia, para ser honesto. Mas nesta semana, pelo Facebook, o moleque apareceu e perguntou: dia 1° de março não faz 15 anos do Grande Prêmio?

Eu não falava com ele havia alguns meses. E descontado esse breve papo de meses atrás, havia muitos anos. Nada muito espantoso, para quem conhece. Teve um dia que ele foi de ônibus, sei lá, para a Bolívia para ver o Corinthians. Sumir por alguns anos não é nada demais.

O moleque em questão é Tales Torraga, primeiro funcionário do site.

Conheci o Tales em 21 de março de 1996. Claro que não anotei a data na agenda — mas ele, sim. Foi quando fiz uma palestra numa faculdade em Mogi das Cruzes, onde ele morava. Eu tinha o quê, 31 anos?, mas já cobria F-1 havia um bom tempo, e àquela altura a Warm Up já existia e eu mandava minhas matérias para mais de 50 jornais brasileiros, além de trabalhar na Jovem Pan.

Tales era um menino de 16 anos tarado por F-1, que lia tudo, devorava jornais e revistas, e tinha uma memória assombrosa. Ao final da palestra, ele veio até o palco, se apresentou e pediu para que eu autografasse o livro que tinha em mãos. Era um anuário “AutoMotor”, não lembro qual edição. Mas  eu que escrevia aquele negócio, como faço até hoje.

Conversamos rapidamente e ele perguntou se poderia visitar meu escritório um dia, e é claro que eu disse que não tinha problema nenhum.

Mesmo não tendo me autorizado, foda-se, vou reproduzir parte do que o moleque me escreveu sexta-feira.

Che, o lance de 15 anos de site me agarrou uma nostalgia do caralho. Era esta idade — 15 — que tinha quando comecei a frequentar sua redação! Que puta louco generoso você, empregou um maloqueiro de Mogi que não tinha nem RG ou CPF! Como você e o Cabeção me zoavam por isso, hahaha. Eu tinha 16 e você me dava cheque em branco pra comprar coisas, me entregava cartão de banco e senha pra sacar grana. Que doido da porra! A primeira vez que mexi num caixa eletrônico NA VIDA foi porque você me pediu. Hahaha.

A vida é loucura, Gomes. Aos 7 eu lia sua cobertura na Folha, aos 10 recortava, colava e montava caderninhos com seus textos de F-1. Aos 15 te conheci — 21 de março de 1996, lembro até hoje –, aos 16 você, doido de tudo, me botava ao vivo no Fórmula Jovem Pan e me deixava fazer materinhas na agência, aos 19 começamos algo que, porra, tá no ar desde antes da estreia do Barrichello na Ferrari, e logo no primeiro GP quase destruí sua sala. Imagina sua cara chegando da Austrália e vendo a redação detonada e de forro caído porque o louco do funcionário socou e arregaçou a merda inteira? Hahaha.

Meu pai me botou no mundo e você me direcionou nele, anão. Sem você é bem provável que eu tivesse morrido brigando pela Fiel Macabra ou despencado de um surfe no trem. Hahaha. Começamos o site e, 100% pelos seus ensinamentos, batalhei espacinhos na Quatro Rodas, na Folha, na Época, na Veja, na Placar, na Autoesporte, na Galileu, na Bandeirantes, na Jovem Pan, editei revistas, me deram até prêmio nacional por isso, fui correspondente em Buenos Aires, mês que vem saem meus 11º e 12º livros. Por total besteira minha perdemos contato. Achava bonito ser excêntrico, soberbo e retardado, um Bobby Fischer — meu ídolo de infância, lembra? Te amo, enano pelotudo.

Como se percebe, o Tales me chamava de “anão”, ou “rato”. O Cabeção a que se refere é Everaldo Marques, segundo funcionário do Grande Prêmio. A cara do site (puxa, a gente não se preocupava em registrar essas coisas) em 2000 pode ser vista aqui. Sem as imagens, mas alguns links funcionam, ainda. Parece que foi em outra vida. Não sei bem quando o Tales saiu do site. Se possível, Torrada, depois nos conte. O tempo passou muito rápido e não registrei efemérides. Devia.

E por que fui dar emprego a um menino de Mogi mal saído das fraldas, que ainda tinha Exército pela frente, tinha acabado de entrar na faculdade? Porque o Tales escrevia pacas, conhecia o assunto como poucos, e disso posso me orgulhar: só gente boa, boa demais, trabalhou aqui. E trabalha, ainda, sob o comando do Victor Martins, outro “Tales”, que chegou ao site de maneira parecida, era um estudante de jornalismo que me mandava e-mails esplêndidos, nada más.

No fim de 1999, já contei a história aqui, Matinas Suzuki Jr., que estava montando o iG, me chamou para fazer um site de automobilismo — que na prática eu já tinha, o Warm Up, mas apenas engatinhando. Chamei o moleque de Mogi. Em coisa de um mês estávamos fazendo os testes. Fomos eu e o Tales que desenhamos a página. O José Otavio, da ProdutoBrasil, que a tirpu do papel e colocou no ar. No dia 1° de março estreamos, segundo o Torraga, “porque era uma data fácil de lembrar”. Pode isso?

Pode. Podia. Naquela semana de estreia, eu estava na Austrália. O Tales, na nossa pequena redação na Paulista. Ele dormia lá, até o dia em que um segurança me avisou e eu falei que aquela porra não era hotel, para ele arrumar uma casa. Acho que foi isso. Pode ser que ele tenha continuado dormindo lá, comendo suas pizzas e hot dogs de cinquenta centavos. E eu não me importava, exceto pelo desconforto evidente. Mas precisava parecer um chefe.

15 anos hoje. Do site que era Warm Up, e virou Grande Prêmio porque o Matinas pediu um nome em português. Idiota que sou, não sei sequer quem fez o logotipo da nossa página. Creio que alguém do iG, acho que jamais saberei.

15 anos se passaram e sobrevivemos. O site e todos nós, que o fizemos e fazemos.

Tenho muito orgulho de todos que escreveram e seguem escrevendo essa história.