Blog do Flavio Gomes
F-1

BIANCHI

SÃO PAULO – Em certa medida, Bianchi me lembrava Alesi. Francês, origem italiana, ferrarista. Era uma aposta da equipe, provavelmente para 2016. É raro a Ferrari apostar em alguém. Fizera isso com Jean no início dos anos 90 — ainda que ele já tivesse estreado, pela Tyrrell — e com Massa na virada para o […]

SÃO PAULO – Em certa medida, Bianchi me lembrava Alesi. Francês, origem italiana, ferrarista. Era uma aposta da equipe, provavelmente para 2016. É raro a Ferrari apostar em alguém. Fizera isso com Jean no início dos anos 90 — ainda que ele já tivesse estreado, pela Tyrrell — e com Massa na virada para o novo século, buscando-o na F-3000 Internacional e colocando-o na Sauber para aprender e saber se dava para o negócio.

Depois, a Casa de Maranello esqueceu um pouco das categorias menores, envolta em crises intermináveis, até adotar o francês e alocá-lo na Marussia até que as coisas clareassem no time principal. Era uma boa forma de, como acontecera com Felipe, dar a um jovem piloto a chance de adquirir experiência e mostrar serviço, o que ele realmente fez.

Bianchi foi quase sempre mais rápido que Chilton, seu companheiro em 2013 e 2014, e conseguiu algo quase impossível: marcar pontos com uma das nanicas que a F-1 recebeu em 2010. Com o nono lugar em Mônaco, colocou o time nas estatísticas e garantiu sua sobrevivência.

Jules sofreu um acidente horrível em Suzuka, pouco mais de nove meses atrás. Discutimos muito aqui suas causas e consequências, e a maioria concluiu que, como sempre, uma sequência de erros levou à batida na grua que retirava o carro de Sutil do local onde tinha rodado. Sutil, aliás, foi quem mais ficou chocado com o que viu — e nunca quis falar do assunto em detalhes. Um monte de coisas erradas. Sinalização de bandeira, presença de um trator à frente do guard-rail, baixa luminosidade, muita água, e nesse cenário sempre se procura um assassino — foi assim com Senna, o último a morrer em consequência de um acidente em corrida, em 1° de maio de 1994.

Mas não há um assassino, como não houve em Imola, como não se deve colocar ninguém na cadeia pela morte de Maria de Villota, tragicamente também ligada à Marussia, que morreu em outubro de 2013, mais de um ano depois de bater num caminhão da equipe em um teste na Inglaterra. Ela perdeu um olho, recuperou-se, deu entrevistas, era um poço de felicidade por ter sobrevivido mas, de repente, se foi.

Em automobilismo, acidentes acontecem e cabe a todos nele envolvidos minimizar os riscos. Eles, no entanto, sempre existem. Por erro humano, falha técnica, fatores fora do controle (como culpar alguém pelo animal que invadiu a pista e quase matou Cristiano da Matta?), algo sempre pode acontecer, e quando acontece num carro de corrida a possibilidade de o resultado ser grave é exponencialmente maior do que, sei lá, se suceder algo comigo caminhando pela calçada da avenida Paulista.

É assim, e quem gosta deste mundo precisa aprender a conviver com isso. Jules morreu agora há pouco em Nice, na França, mas desde Suzuka se sabia que não teria nenhuma chance de voltar. Em que mundo passou os últimos nove meses? Será que teve alguma consciência, ficou preso naquele corpo inerte sabendo do que estava acontecendo com ele, ouvindo os médicos, seus pais, amigos? O que se passa com uma pessoa entre o momento em que apaga para o mundo exterior, ainda que esteja viva, e o ponto final, o instante em que seu corpo é definitivamente desligado e deixa de funcionar?

O que estará acontecendo com Schumacher neste exato momento?

Jamais saberemos, mas sabemos como sofrem os que ficam por aqui, aguardando numa agonia sem fim o… fim.

Sempre me entristece muito a morte de um piloto, mais do que outras, me desculpem por isso.