Blog do Flavio Gomes
F-1

NO LESTE (2)

SÃO PAULO (aqui, só água) – Por onde começamos? A pole do Hamilton, a diferença monumental para Rosberg, o mau fim de semana da Williams, o vexame da Sauber, ou Alonso? Alonso. Todo feliz com a passagem para o Q2, Fernandinho abriu sua volta em Hungaroring e sentiu algo estranho no carro. Pelo rádio, avisou […]

nolesteestatua2SÃO PAULO (aqui, só água) – Por onde começamos? A pole do Hamilton, a diferença monumental para Rosberg, o mau fim de semana da Williams, o vexame da Sauber, ou Alonso?

Alonso.

Todo feliz com a passagem para o Q2, Fernandinho abriu sua volta em Hungaroring e sentiu algo estranho no carro. Pelo rádio, avisou a equipe. “Perdi oito cilindros! A alavanca do câmbio saiu na minha mão! Tá dando choque no volante! Tem alguma coisa pendurada no capacete presa no meu pescoço! Chamem o Giancarlo!”

Eram vários dramas e, com calma, o psicólogo da McLaren, com especialização em Engenharia Mecânica pela Uninove, foi resolvendo um a um. “Seu motor tem apenas seis cilindros, Fernando. O câmbio é a borboleta atrás do volante. O volante não dá choque. Essa coisa pendurada no seu capacete é o HANS. Giancarlo era seu chefe em 2001.” Alonso, que apesar de recuperado do acidente de Barcelona anda um pouco agitado, começou a gritar mais ainda, tentando ser bem claro nas palavras. “É borboleta ou mariposa? E se for venenosa? Quem é esse alemão pendurado no meu capacete? Do que vocês estão falando, vocês estão loucos? Vou parar o carro e sair daqui!”

E de fato o fez, na entrada dos boxes. Pulou do cockpit e começou a empurrar o carro. Os comissários se aproximaram e Alonso gritava para eles: “Cuidado! Tem uma mariposa no meu volante! Quem de vocês aí fala alemão? Mandem esse cara desgrudar do meu capacete!” Mais fiscais foram se aproximando, a bandeira vermelha foi acionada e o treino, interrompido. Os carros iam voltando aos boxes e passando pelo espanhol, que gesticulava nervosamente e berrava aos colegas. “Passem, passem, está cheio de mariposa aqui, fiquem longe desse alemão maluco pendurado no meu capacete!”, dizia, até que, finalmente, os comissários conseguiram chegar aos boxes da McLaren.

“Me deem o carro reserva já!”, ordenou Fernando ao entrar na garagem. “E tirem esse cara do meu pescoço.” Os médicos chegaram, acalmaram-no, e Alonso ficou sem tempo no Q2. Larga em 15°.

Posição que obteve graças ao desempenho muito ruim da Sauber no Q1, que se juntou aos manor-marússicos e a Button na degola dos cinco últimos. Q1 que começou de um jeito diferente, com alguns pilotos fazendo longas séries de cinco ou seis voltas com os pneus médios, só para compreender o que vão enfrentar com eles amanhã na mesma hora, começo da tarde, com sol a pino em Hungaroring — temperaturas que, no entanto, não devem bater nos 30 graus, como hoje.

[bannergoogle] Nesse momento, todos com pneus médios, coisa de 1s5 ou 2s mais lentos que os macios por volta, a McLaren calçou a borracha mais macia e Button chegou a andar em terceiro, com Alonso em sexto, a apenas 0s590 do líder provisório, Hamilton, que praticamente simulava uma míni-corrida e virava tempos na casa de 1min24s. Faltando cinco minutos para o fim da sessão, a brincadeira estava boa mas era hora de trabalhar sério, e todos colocaram os pneus gosmentos — exceto Ricciardo, que calculou que seu tempo com os médios era suficiente.

Claro que Alonso e Button despencaram na tabela, mas Fernando se safou. Hamilton virou 1min22s890 lá na frente. Rosberguinho ficou 0s089 atrás. Na rabeira, foram eliminados, pela ordem, Bonitton, Sonyericsson, Felipe II, Leroy Merhi e Cat Stevens. O último colocado foi mais de 5s pior que Hamilton. Não é fácil a vida lá atrás, não.

Restavam 7min42s para terminar o Q2 quando Alonso enfrentou problemas com suas borboletas e mariposas, mas deu tempo de sobra para todos buscarem seus tempos, e Hamilton avisou: vou arrebentar o alemãozinho — no caso, Rosberg, e não o amigo imaginário do espanhol. Meteu 0s490 no companheiro de equipe, com um tempo muito interessante de 1min22s285. Caíram na segunda fase da classificação o Incrível Hulk (mas a Force India pelo menos andou), Sainz Idade, Maria do Bairro, Maldanado e, claro, Fernandinho.

No Q3, com pneus usados, Hamilton fez, de cara, 1min22s408, contra 1min22s766 de Nico. Com um jogo novinho em folha, o alemão teve problemas de saída de frente, saída de traseira e saída de emergência. Não melhorou. Lewis abusou: fez 1min22s020. A diferença para Rosberg no grid ficou em 0s575, maior vantagem obtida no ano. Foi a nona pole de Hamilton em dez corridas. Quinta na Hungria e 47ª na carreira — nunca é demais lembrar que só perde, nas estatísticas, para Schumacher (68) e Senna (65).

Não houve surpresas no top-10. Depois da dupla da Mercedes ficaram Tião Italiano em terceiro (a 0s719 da pole) e Ricardão, em quarto. Na sequência, Kimi Dera um Picolé Agora, Sapattos, K-Vyado, Massacrado, Verstappinho e Grojã.

Comandante Amilton é amplo favorito à vitória, mas atenção: a primeira volta em Budapeste é muito enroscada. O pelotão demora para se acomodar e a pilotaiada sabe que se tem chance de passar, é nessa confusão inicial — por isso, sempre é bom ficar esperto com o carro ao lado. Depois, as coisas se acomodam.

Rosberguinho, depois de um bom momento em Barcelona/Mônaco, voltou a ser engolido pelo companheiro. Tem de reagir, encerrar a primeira metade do campeonato mostrando seus lindos dentes brancos arreganhados para o parceiro. Senão, vai ficar fácil demais para Lewis. É bom que Nico olhe para o passado recente para ver o que o espera depois das férias. Ano passado, nas últimas sete provas, Hamilton ganhou seis e terminou outra em segundo.

Todos os carros, desde ontem, carregam mensagens para Jules Bianchi, que morreu na sexta-feira da semana passada. “Jules nei nostro cuori” é o que inscreveu a Ferrari nas laterais do cockpit. Hashtags como #CiaoJules e #JB17 também são usadas. O clima é claramente de tristeza contida na Hungria, por conta da perda do colega — mesmo que todos soubessem que isso iria acontecer, cedo ou tarde.