Blog do Flavio Gomes
Gomes

ENTREVISTA COM O BLOGUEIRO (11)

SÃO PAULO (hoje dá) – Serão 18 remessas de perguntas, estamos na oitava. Nem metade, ainda. Mas tudo bem, estou curtindo. Apenas não tenho tempo de tocar esta coletiva todos os dias. Arrancada, música, carros antigos, carreira profissional, política (de novo), jornalismo e automobilismo são alguns dos temas. Vamos a eles. Não sem antes dizer […]

SÃO PAULO (hoje dá) – Serão 18 remessas de perguntas, estamos na oitava. Nem metade, ainda. Mas tudo bem, estou curtindo. Apenas não tenho tempo de tocar esta coletiva todos os dias.

Arrancada, música, carros antigos, carreira profissional, política (de novo), jornalismo e automobilismo são alguns dos temas. Vamos a eles. Não sem antes dizer que tirei as cores que separavam os blocos de pergunta/resposta. Vocês acham que ficou melhor assim? Dá um trabalho desgraçado colocar aquelas cores e muita gente reclamou. Se desse jeito está OK, me digam. E insisto, pela milionésima vez: não adianta fazer mais perguntas. A sessão de perguntas durou dois dias, 1º e 2 de julho. Quem perguntou, perguntou. Quem não perguntou, espere pelo segundo turno — se houver.

E comentem mais, vocês estão muito lentos.

[bannergoogle] Bruno Valente – Flávio, tudo bem? Então vou mandar algumas perguntas de curiosidade: Qual o momento mais marcante de sua carreira? Qual a sua corrida inesquecível ( pode incluir aí até o saudoso 69)? Qual piloto brasileiro mais importante da atualidade para vc?
RESPOSTA – Tudo bem. Manda. Pela ordem, então. 1) A cobertura da morte do Senna. 2) Acho que já respondi, e é capaz que mencione outra, porque às vezes a gente embaralha a memória. Veja bem: a memória. Nunca a opinião e a visão dos fatos. Neste exato momento, me ocorre como corrida inesquecível o GP da França de 1989, o primeiro que cobri fora do Brasil, em Paul Ricard. Só por isso, porque foi o primeiro que fiz na Europa, e hoje estava lembrando disso. 3) Felipe Massa.

Leon Neto – Protesto! Deveria ser somente 1 (uma) pergunta por leitor! Vc fez 4! No seu caso so deveria valer a primeira (“tudo bem?”)
RESPOSTA – O chilique do rapaz aí em cima foi dirigido a Bruno Valente, o leitor aí de cima. Então, nada a responder. Apenas registro porque, como disse, tudo seria publicado.

Harlan Rodrigo – Por que você algumas vezes xinga e ofende os leitores do seu blog que têm opiniões diferentes da sua?
RESPOSTA – Procure ler o que escreveram aqueles que ofendo. Esse é o primeiro ponto. Depois, tente imaginar o que me escrevem alguns que hoje estão na caixa de spam do blog. Por fim, não xingo quem tem opinião diferente da minha, necessariamente. Quando alguém coloca sua opinião com respeito, recebe respeito. Quem vem com a cabecinha fora do engradado, se achando valente, leva dois pés no peito. Não aceito que venham à minha casa para me ofender. Isso aqui é minha casa.

Schumacher, o melhor de todos

João – Pra você qual foi o piloto mais completo da história do automobilismo mundial? (Entre todas as categorias (F1,Indy e etc) ) e qual foi o mais gentil contigo e o mais mala?
RESPOSTA – Schumacher, fácil. Há muitos pilotos gentis com quem convivi. Hill, Zanardi, Alesi, Panis, Massa, Herbert, Da Matta, Gugelmin… Mala? Barrichello. Era (e é) um rapaz difícil. Montoya também.

Brunolustosa82 – Flavio, ja comentei uma vez sobre provas de arrancada, e você simplesmente falou que nao gostava.. tudo bem compreendo, mais acredito que a arrancada é o esporte a motor que pode ser a única a estar em todos os estados do Brasil, merece uma certa atenção. Você já assistiu um festival Brasileiro de arrancadas em Curitiba que acontece todo ano em dezembro? ficaria muito feliz em ver seus comentários tambem no mundo da arrancada. Porém é apenas um desejo de um velho leitor de seu blog e também piloto a mais de dez anos de arrancada. obrigado pela atenção e desculpe a chatiação.
RESPOSTA – Vou te contar o que é chateação. Em 2008, no “Limite”, da ESPN, mostramos um vídeo de uma prova de arrancada nos EUA em que um dos competidores morreu depois que seu carro explodiu. Fiz um comentário qualquer, chamando a atenção para o risco dessas competições, para o alto índice de acidentes e para a situação no Brasil que era, e é, bem pior. Falta de segurança, fiscalização, habilidade, preparo dos pilotos, excesso de debilidade mental do público, amadorismo, estupidez. Porque é claro que não se pode falar de arrancada olhando apenas para o mundo quase cor-de-rosa das competições oficiais que têm um mínimo de organização — e são poucas, a maioria é uma várzea, basta dar uma busca nos vídeos que correm por aí. O universo de arrancada, e você sabe muito bem disso, é muito mais amplo. Não se resume a Curitiba. Pois bem. No dia seguinte, comecei a receber ameaças. Um cara, ou mais de um, descobriu meu endereço e meu telefone. Ameaçou matar meus filhos e minha ex-esposa. Descreveu minha rotina, a dela e a dos meninos. Passou a me telefonar dez, vinte vezes por dia, no celular e em casa. De madrugada, na maioria das vezes. Sempre usando números falsos, ou chamadas não-identificadas. Colocaram meus dados pessoais, RG, CPF, endereço, numa comunidade de arrancadas no Orkut, na qual mais uma dezena de retardados me juraram de morte. Colocaram anúncios em sites de arrancadas usando meu telefone, nome e e-mail. Me telefonavam a cada cinco minutos para comprar carburador de Dodge ou grade de Chevette. No Mercado Livre, também. Até meu carro de corrida anunciaram. Um cara gravou um vídeo em Piracicaba, acho que era locutor dessas provas, igualmente me ameaçando e tal. Está no YouTube, é só procurar. Quando começou a me encher razoavelmente o saco, coloquei a polícia atrás, rastreando IPs, ligações e outras coisinhas que não posso contar. Tenho amigos interessantes na polícia, amigos de infância, e não hesito em recorrer a eles quando essas coisas acontecem. Não é carteirada. São as armas que eu tenho. Quem acha que sou vulnerável se engana redondamente. Essa história durou uns 15 dias. De uma hora para outra, acabou. Não sei o que meus amigos fizeram, nem quero saber. Em resumo: por conta de um comentário sobre um acidente, fui atacado por criminosos. Se você participa disso há dez anos, deve conhecer o tipo de gente com quem convive. Tem de tudo, eu sei. Gente boa, profissionais dedicados e apaixonados, mecânicos competentes. Mas tem isso, também, esse tipo de gente que me ameaça de morte porque eu não gosto de arrancada. Do ponto de vista esportivo, acho uma competição pobre, sair correndo em linha reta, algo que não apura habilidade nenhuma – apenas a capacidade de alguém de enfiar o pé no acelerador e torcer para não acontecer nada. Acho perigoso, vive morrendo gente, é pouco fiscalizado e coloca também o público em risco. Não acho que seja propriamente um esporte, é uma modalidade de racha transferido para um autódromo, às vezes, e praticada nas ruas, na maioria dos casos. Não sou ingênuo. Quem faz esses carros, racha na rua o tempo todo. Numa pista, de vez em quando. Depois do episódio de 2008, decidi simplesmente ignorar a existência de arrancada. Não faz parte do meu mundo. Também não falo de pelota basca, ou badminton. A diferença é que os praticantes/devotos/entusiastas desse negócio não são pessoas com quem eu gostaria de ter qualquer tipo de relação.

Felipe Reis – Flavio, percebo que o seu gosto musical é muito bom. Quais seriam suas bandas/artistas preferidos?
RESPOSTA – Não sou um ser musical. Ouço pouca música, porque a maioria dos meus carros não tem equipamento de som e ando muito de motoneta. Em casa, é muito raro colocar música para tocar. Mas gosto dos Beatles, Scorpions, Queen, Supertramp, Cat Stevens, Simon & Garfunkel, Ira!, Cazuza, Legião, Tim Maia, Bossa Nova, Chico, Gil, Caetano, Pretenders, Cranberries, REM, U2, UB40, Oasis, Pink Floyd, essas coisas.

Art Garfunkel (esq.) e Paul Simon: dupla inigualável

Roberto – Uma curiosidade que tenho, na época do grandepremio no iG surgiu um personagem muito legal e divertido chamado Maximo (ou Maximum) Bueno. Claramente era uma paródia muito divertida com os comentários sobre a narração do canal de transmissão da formula 1. Esse personagem sumiu, era você? Rs… Seria muito legal se ele voltasse e também comentasse as narrações da Formula Indy, que também são assustadoras com varios comentários do narrador que torce para que chova toda corrida e termine o quanto antes a transmissão… rs…
RESPOSTA – Não era eu. Realmente era engraçado, mas sabíamos que seria o tipo de coisa que se esgotaria rápido, porque ficaria repetitivo. Foi divertido enquanto durou. O personagem não tinha a intenção de criticar colegas, mas sim de tirar uma onda. O problema é que tem gente que fica melindrada com essas coisas.

Jefferson Paiva – Vamos lá! Flávio, eu voltei a ater um caro antigo por ler e acompanhar suas aventuras e amor sem fim pelos modelos antigos e clássicos. Então vai a minha pergunta: O que você acha da cena do antigomobolismo no Brasil? Existe alguma diferença gritante com relação á Europa/EUA? E uma curiosidade (que eu particularmente nunca entendi – possa ser ingenuidade minha): Por quê você chama os seguidores de merdinhas? Forte abraço e fica aqui meus aplausos pela pessoa que és: única.
RESPOSTA – Que bom. Que carro você comprou? Aproveite e divirta-se com ele. Acho que o antigomobilismo só cresce no Brasil, há eventos por todos os lados e uma frota muito interessante, especialmente de carros nacionais. As grandes coleções – de São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul, principalmente – são pouco conhecidas. Particulares demais, creio. Uma das nossas grandes derrotas recentes foi o fechamento do Museu da Ulbra. O reitor era um picareta, ao que parece, mas aquilo tinha de ser confiscado pelo governo e estatizado. Era uma coleção boa e completa demais para ser pulverizada do jeito que foi – inclusive com muitos leilões viciados. Há bons eventos no Brasil, como Campos do Jordão, Lindoia, Araxá, o Sul-Brasileiro, a Luz, o Sambódromo (os dois últimos acontecem com grande periodicidade em São Paulo). Os encontros temáticos também são bem legais, como o Blue Cloud – que ressuscitou a marca DKW no Brasil. Vivemos um pequeno problema da esculhambação da placa preta, mas acho que é algo inevitável. Ninguém paga mais caro num carro porque tem placa preta. Só quem não entende picas de carros antigos dá valor a isso. No fundo, regular esse mercado é desnecessário. Quem conhece os clássicos sabe o que compra e vende. Há boas lojas em todo o território nacional, também. Enfim, é um universo bem vigoroso. Claro que a cultura europeia e americana de carros antigos é mais sofisticada e organizada. Os eventos são apoiados pelas montadoras, algo que não acontece no Brasil. Essa seria a grande crítica ao que acontece por aqui: a total ignorância e indiferença das montadoras com sua história. Para mim, toda fábrica de automóvel deveria ser obrigada a ter um museu. Mas, no Brasil, isso não acontece. Nenhuma participa de nada. Merdinhas, agora. Uai, por que não? Poderia ser “amigos”, “tuiteiros”, “seguidores”, qualquer coisa. Merdinha é carinhoso. Foi inspirado no tratamento que uma amiga, a Carolina Mendes, dava aos seus seguidores quando acordava de mau-humor. Ela acordava e o primeiro tuíte era algo como “e aí, seus cretinos, dormiram bem?”. Eu apenas oficializei.

O Blue Cloud, em Poços de Caldas (foto de 2010): encontro mais legal do mundo

Rodrigo Nascimento – Sou seu leitor assíduo, apaixonado por automobilismo e por carros. Como você explica a manutenção do interesse em corridas, com a CBA fazendo o que faz, a F1 do jeito que está?
RESPOSTA – O interesse do público ligado em automobilismo é majoritariamente dirigido ao que acontece no exterior. As pessoas não sabem direito o que a CBA faz – nem eu. O automobilismo nacional foi forte nos anos 60, 70 e 80. Começou a se enfraquecer na década de 90, com o desinteresse das fábricas e após a morte de Senna – e, também, com a mudança da relação entre os jovens e os automóveis. A F-1 tem perdido espaço e público no exterior, também. Isso se deve, novamente, a essa relação diferente das pessoas com carros. E, da mesma forma, à oferta ilimitada de outras coisas para fazer.

Douglas – 1 – Quantos carros na colecao? 2 – Qual o primeiro? 3 – Qual foi o que gerou a maior aventura ou historia para conseguir? 4 – Qual o que voce ainda nao tem e considera um sonho conseguir (aquele que vai fazer historia pra voce)? 5 – Consideraria ser cartola so pra arrumar a portuguesa? 6 – Consideraria ser cartola para arrumar a CBA (a portuguesa e mais facil)? 7 – Que acoes podem ser tomadas para que tenhamos uma escola que gere mais jornalistas esportivos bons (nivel Reginaldo, voce, Americo)?
RESPOSTA – Mais um multi-perguntador. Multipperguntador. Multiperguntador. O corretor do Word considerou as três versões inexistentes. Foda-se. Vamos às respostas. 1) Já falei, 36 ou 37, esqueci. 2) Um Belcar 1962, que está comigo até hoje, carro querido, jamais vou me desfazer dele. 3) Gerd, de longe. É só procurar os textos aqui. 4) Outro dia fiz um esboço dessa lista. Está assim, no momento (e sem hierarquia de preferência, eu vou lembrando e anotando): Pampa, F-75, Belina, Del Rey, Voyage, Apollo, Santana, Chevette Hatch, Brasília, Fiat 147 Pick Up, Panorama, GT Malzoni, Citroën DS. 5) Não. 6) Também não. 7) Nenhuma, jornalistas aparecem, não tem escola específica para isso.

O Belcar verde e branco 1962: primeiro da série, um queridão

Douglas – Que tipo de música você ouve?
RESPOSTA – Já respondi lá em cima.

André Fonseca – FG, algumas vezes no FSR é nítido que vc se segura para não responder algumas atravessadas que os outros participantes falam. No fim do programa, vc dá umas respostas “firmes e colocadas” para eles nos bastidores??? Como é aturar o Mano falando tanta asneiras e não poder dar risada???
RESPOSTA – Sou amigo de todos e temos uma relação ótima, fraternal. Somos no programa o que somos na vida. Não há máscaras, ali. Exceto quando me visto de Robin. O Mano é um puta cara, inteligente, sagaz, antenado. Não fala asneira nenhuma. Além do mais, é um puta amigo.

Douglas – Qual é o maior desafio na cobertura de automobilismo no Brasil?
RESPOSTA – Detesto perguntas com “desafio”. Sei lá. Não tem desafio nenhum, a gente busca o que todos buscam: público, leitores, seguidores, consumidores de informação. A cobertura do automobilismo no Brasil nunca mais será como era quando o automobilismo estava no auge. Não está mais. Somos jornalistas que atendem a um nicho. Isso é cada vez mais comum em todas as áreas. Acho que o desafio, mesmo, é viabilizar esse troço financeiramente. Mas é o mesmo em outras modalidades jornalísticas.

Tiago Monteiro: Vagaroso no nome, só mesmo em Portugal

Leandro Vieiras – Qual foi o seu primeiro furo jornalístico? Aconteceu no início de sua carreira? Também gostaria de saber como você se sente profissionalmente (e pessoalmente porque não?), ao abrir espaço para talentos como a Evelyn Guimarães, o Renan do Couto, Juliana Tesser, entre outros jovens e excelentes talentos do jornalismo no GP, afinal, você também teve alguém que te deu oportunidades, e hoje você está na posição de abrir espaço à estes jornalistas!
RESPOSTA – Acho que foi uma matéria sobre a compra de livros didáticos pelo Ministério da Educação do governo Sarney. Compravam tudo do mesmo autor e da mesma editora. Mas acho que não deu em nada – o sujeito, inclusive, parece ser bom escritor e está na Academia Brasileira de Letras. Nunca fiz grandes descobertas. Antigamente a gente achava que era furo antecipar a equipe para onde um piloto ia (eu dei primeiro que todo mundo Barrichello na Ferrari, com o contrato, inclusive, mas e daí?), ou a mudança de motores de um time, essas bobagens. Sempre fui correto nas coberturas, mais do que em conseguir furos de reportagem – talvez porque tenha passado boa parte da carreira em cargos de chefia. Mas tem duas coisas que guardo com carinho. A primeira, descobrir meio sem querer que o nome completo do Tiago Monteiro, aquele que correu na Jordan, era Tiago VAGAROSO Monteiro. A segunda, me dar conta antes do que todo mundo de que o dia 23 de maio é o Dia Internacional da Tartaruga. Sobre a turma do Grande Prêmio, digamos que é meu maior orgulho na vida: abrir portas para gente talentosa. Todos os jornalistas que passaram por aqui foram encaminhados na profissão. Os que estão são fantásticos, jornalistas de primeiríssimo nível, gente da melhor espécie. Um dia escutei de alguém de alguma emissora de TV, ou jornal, que quando um novo contratado tinha passagem pelo Grande Prêmio já chegava com o respeito de seus pares. É a maior recompensa ao que fazemos aqui. Gostaria de poder fazer mais por todos eles. Infelizmente, não consigo.

Alessandro – Acompanho você desde 2007 e, exceto nos fim de semana, dificilmente passo um dia sem ler algo que você tenha escrito. Confesso que no início cheguei a te achar um sarna grosseiro, mas não deixava de acompanhar um pouco do seu trabalho. Com o passar do tempo aprendi a te respeitar, mais pela sinceridade e transparência de idéias do que por qualquer outra coisa, principalmente quando o tema extrapola os limites dos autódromos e avança por outros outras áreas, tais como política e conomina. É sobre isso que gostaria de te questionar: Considerando tudo aquilo que aconteceu e continua acontecendo, sem tirar da reta qualquer um dos ex ou do atual governo (Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula e Dilma) Qual a sua opinião sobre o futuro político do país? Você acha que temos chance de sermos uma nação sem estes escândalos de corrupção? Um país no qual o governo trate o dinheiro publico com respeito e objetivando o bem estar da população? Um lugar em que os políticos não se deixem levar pelos ganhos ilegais e pensem no bem comum e não do próprio bolso? Você vê luz no fim do túnel?
RESPOSTA – Chegou tarde, comecei em 1982… Ando com preguiça de falar do assunto, porque o grau de intolerância atingiu níveis insuportáveis. E já respondi sobre política em outras perguntas desta série. Não vou repetir tudo. Acho que infelizmente estamos derivando para a direita, para o conservadorismo, para a volta ao poder daquele que foderam o Brasil por 500 anos, para resumir. É isso que querem, e não me conformo: a volta das elites de sempre, dos escroques de sempre, dos filhos da puta de sempre. Quando o PT assumiu o poder, começou a mudar as coisas. Isso faz apenas 12 anos. Doze anos numa história de 515. E as pessoas têm a coragem de colocar a culpa de todos os males do país no PT, no Lula e na Dilma. É burrice demais. Apesar de ter feito tanta coisa, instituindo uma real política de combater a miséria e a desigualdade, ou talvez por isso mesmo, por lutar contra as injustiças de séculos, há reação. E a reação da direita nos últimos seis meses, se apropriando, inclusive, de algo que o PT está fazendo (investigar, punir), tem sido muito barulhenta e bem articulada. A mídia perdeu a vergonha, quer derrubar a Dilma de qualquer jeito. Mente, faz campanha contra, se engaja num possível golpe. É ridículo o que estamos vivendo. E os babacas das varandas gourmet compram esse peixe graças à sua já conhecida estupidez, acham que estão fazendo política batendo panelas na janela e vestindo a camisa da CBF na Paulista, se sentem no direito de ofender de modo virulento quem não se alinha com sua idiotia endêmica. Dá vergonha de ver, inclusive gente com quem me relaciono, se comportando assim. Enfim, vivemos uma babaquização generalizada e não vejo luz nenhuma no fim do túnel se essa turma ganhar na marra, e na verdade quero que se foda. Vou pro Uruguai assim que der.

Paulo Vanzolini: compositor e cientista

Douglas – Quem foi o personagem que você mais gostou de entrevistar nos últimos 25 anos?
RESPOSTA – Paulo Vanzolini. Eu adorava falar com ele.

Denis – Sei mais ou menos os carros que você tem. Afinal quantos carros (modelo, ano) vc tem na sua garagem? E uma sugestão daquelas bem furrebas, vc poderia ter um canal no VcTubo semelhante ao “Indiana Gomes”, começando pelos seus carros, que tal? Abraço.
RESPOSTA – Já respondi isso. Sobre programas no YouTube, você me paga um salário?

Douglas – Os autódromos estão cada vez mais vazios. O que você imagina que traria o público de volta?
RESPOSTA – Os autódromos no Brasil nunca foram propriamente lotados o tempo todo, mas é verdade que tinham público nos anos 60 a 80. Acho que também já respondi sobre isso. As pessoas não olham mais para um carro como olhavam antigamente. Corrida é algo que não faz o menor sentido para a maioria delas. Acho que boas organizações e promoções, com criatividade e envolvimento das montadoras, seriam capazes de aumentar essa presença nos autódromos. Mas não me iludo. O automobilismo regional alimenta uma boa máquina de fazer dinheiro que prescinde de público. Público só dá trabalho. É o pensamento de quem toca o automobilismo no Brasil.

Sanderson – Quem é melhor/maior: Alonso ou Vettel? De onde vem a paixão pelos lados?
RESPOSTA – São pilotos do mesmo nível, estão entre os maiores, mas fico com Vettel. Lados… Bom, prefiro meu lado esquerdo.

Sergio – Acompanho voce diariamente desde a Jovem Pam. Não vou discutir se é certo ou errado, mas qual a causa da sua fixação pela esquerda ?
RESPOSTA – Acho melhor rebater com outra pergunta. Por que a fixação pela direita? Já dei a lista de gente de esquerda e de gente de direita com quem dividir uma mesa de bar em outra resposta. Você escolheu qual? Não há fixação nenhuma, há apenas uma escolha. Eu tenho um lado – e agora é lado mesmo, não é brincadeira como na resposta anterior. Meu lado é muito claro. Claríssimo. Você nunca me verá do lado de Jair Bolsonaro. Ou de Silas Malafaia. Deu para entender? Qualquer um que tenha vivido nesta bosta de país comandado por militares e pela direita mais escrota do planeta, que assaltou o Estado, enriqueceu loucamente, alimentou a miséria, fez de nós o que somos, tem obrigação de ser de esquerda. Simples assim.