Blog do Flavio Gomes
F-1

TINTIM POR TINTIM (2)

SÃO PAULO (no surprises) – Tudo que posso dizer é: tomara que chova amanhã. Porque Spa é legal demais e espetacular demais e linda demais, mas quando se tem um domínio absoluto de alguma equipe, numa pista longa e rápida como essa, a equação é: sem intempéries, nada de emoção. Já vi corrida bem chata […]

tt000002SÃO PAULO (no surprises) – Tudo que posso dizer é: tomara que chova amanhã. Porque Spa é legal demais e espetacular demais e linda demais, mas quando se tem um domínio absoluto de alguma equipe, numa pista longa e rápida como essa, a equação é: sem intempéries, nada de emoção. Já vi corrida bem chata na Bélgica. Há esse risco agora. A Mercedes está alguns anos-luz à frente. Se largar direito, desaparece. E as brigas possíveis, Red Bull x Ferrari x Williams, parecem pouco prováveis. Seus carros ficaram espalhados pelo grid, cada piloto com um problema diferente.

Torçam para chover, em resumo. E para todos se atrapalharem na largada, ficarem parados no lugar sem saber onde é a embreagem, para que Merhi e Stevens completem a primeira volta em primeiro e segundo, com Button e Alonso em terceiro e quarto.

Fez sol de novo hoje em Spa, e ninguém entendia nada desde as primeiras horas da manhã. Dois dias sem chuva? Tem de ver isso aí…

O tempo firme confirmou a superioridade acachapante dos mercêdicos em todos os treinos. Hamilton cravou mais uma pole: décima no ano (em 11 corridas), sexta seguida, 48ª da carreira. Rosberguinho não ameaçou, embora tenha ficado em segundo. O passeio da dupla está marcado. Mas vamos a um breve relato da definição do grid belga.

O Q1 era apenas pro forma, porque McLaren e Manor Marussia são cativos, como se sabe, e ocupariam quatro das cinco vagas da degola. A primeira parte da classificação servia apenas para apurar o carro que iria se juntar a eles, e a honra coube a Felipe II, que decepcionou redondamente. O brasileiro, 1s044 atrás do líder Hamilton, ficou em 16°. Como Sonyericsson cravou um bom 11° lugar, Nasr acabou ficando com o mico da eliminação e amargou o vexame do toco do companheiro.

Button (a 2s070), Alonso (a 2s512), Stevens (a 4s040) e Merhi (a 4s191) fecharam o grupo, pela ordem. Bonitton e El Fodón del Ultimo Pelotón trocaram de motor de novo e perderam 105 posições. Ambos estão, neste momento, a caminho da Dinamarca, de onde largam amanhã no final da tarde, com previsão de terminar a corrida por volta das 14h locais de terça-feira.

“Não será um problema”, declarou Alonso à imprensa em concorrida coletiva. “Estamos acostumados com essa perseguição do Balestre. Ele é francês, vocês sabem. Nós somos ingleses. Estivemos em guerra por mais de 100 anos.” Os jornalistas se entreolharam, mas reconheceram a acuidade da alusão histórica. “Existe também um evidente preconceito com os japoneses aqui na Bélgica. Eles querem manter o monopólio das batatas fritas e não deixam nossos pastéis entrarem no mercado de jeito nenhum.” Essa menção gastronômica foi compreendida apenas por alguns brasileiros, aqueles que frequentam feiras. Assim que terminou o breve encontro com os notícipes, Fernando pediu licença e avisou que tinha de viajar. “Vou-me embora pra Pasárgada, lá sou amigo do rei. As aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá.” Um dos médicos da McLaren, diante do olhar interrogativo dos repórteres, disse apenas: “Manuel Bandeira, uai. E Gonçalves Dias”.

[bannergoogle] Lewis deu uma humilhada básica no lote no Q1, fazendo seu tempo com pneus médios — 1min48s908, 0s015 à frente de Rosberguinho, igualmente com borracha mediana. O resto esfolou a borracha macia com medo de uma queda antes do previsto. Era uma vaga só, graças aos atuais nanicos, mas sabe como é, seguro morreu de velho. Pérez foi a surpresa da primeira parte do treino, em terceiro. Massa bateu na trave, em 14°.

O Q2 mal começou e Raikkonen quebrou. Mas quebrou bem quebrado, com o câmbio travado em quinta e o motor, não sei qual deles, se o MGU-K, o MGU-H ou o PQP do C, dando golfadas metálicas. Quando isso acontecia no #96, eu entrava no rádio (mentira, nunca usei rádio) e dizia: “Moeu tudo”. Bandeira vermelha, porque Spa, vocês sabem,tem quase 7 km e quando alguém para lá no meio precisa chamar a Guarda Florestal. Alegada pane hidráulica deixou o finlandês a pé.

A interrupção foi breve e a sessão recomeçou com pouco mais de 8min de tempo disponível. Mas ninguém saiu logo de cara. Sete pilotos já tinham tempos registrados. Rosberguinho, com 1min47s955, era o melhor até então. A briga para se livrar da foice afiada da exclusão seria superciliosa, decidida em frações de pentelhésimos — medida de tempo criada há alguns anos por Nelsinho Piquet, baseado na Ressonância Schumann.

Quando se dignaram a deixar os boxes, todos tinham plena consciência de que era para uma volta só. Portanto, erros não seriam tolerados. E muito cuidado com os limites da pista, porque as novas zebras belgas passaram a ser convidativas para espalhar em curvas de alta, levando o carro para a área de escape.

De fato, foi apertado. O primeiro excluído, Hülkenberg, ficou a 0s056 do décimo colocado, Sainz Idade. Desapontamento total, diante da boa forma de Maria do Bairro, o parceiro forceíndico. Dançaram também K-Vyado (de quem se esperava mais, pelo que a Red Bull mostrara até então nos treinos) e Sonyericsson, dos que registraram tempo. Verstappinho, que tinha perdido potência no final do Q1, nem saiu dos boxes. Kimi Dera Não Tivesse Renovado fechou o grupo dos que ficaram pelo meio do caminho.

Lá na ponta Comandante Amilton e Rosberguinho se alternavam nos melhores tempos. No Q2, deu o alemão, com 1min47s955. O inglês ficou a 0s069. Para se ter uma ideia do abismo para o resto, Tião Italiano, o terceiro, fechou sua volta 0s806 mais lento. E os comissários não deram muita bola para o fato de ele ter passado com as quatro rodas de sua Ferrari pelo acostamento em mais de uma curva. A Lotus, com seus dois carros no Q3, foi a surpresa do dia.

O Q3 decidira apenas quem ficaria com a pole, Robserguinho ou Comandante Amilton. No primeiro round, Lewis foi quase meio segundo mais rápido. As voltas foram feitas logo no início e todos retornaram aos boxes para a batalha final, com pneus novinhos em folha. A emoção estava reservada para os derradeiros segundos, certo?

Errado. A definição das primeiras posições acabou sendo de uma calidez bocejante. Hamilton melhorou seu tempo, fez 1min47s197, mas Nico nem chegou perto e terminou 0s458 atrás. Esperava-se uma Red Bull forte, e no fim quem ficou em terceiro foi Sapattos, 1s340 atrás da Mercedes mais rápida do dia. 1s340 atrás. 1s340 atrás. Repito para reforçar e para vocês entenderem o tamanho da pica. 1s340 atrás.

Daí em diante, equilíbrio. Grojã, o nome do sábado, fez o quarto tempo, cronometrando sua volta 1s364 mais lento que Lewis. Mas como perdeu cinco posições por troca de câmbio, larga em nono. A posição acabou no colo de um surpreendente Pérez (a 1s402 da pole), seguido por Ricardão (a 1s442), Massacrado (a 1s488), Maldanado (1s557), Tião Italiano (frustrante, a 1s628), o punido Grojã e Sainz Idade fechando os dez primeiros.

Se não largar mal como nas últimas corridas, Hamilton ganha fácil. Não há surpresas possíveis, no seco. Vou torcer para a Lotus, sonhei outro dia que Maldonado ia ganhar um GP neste ano, foi um sonho meio esquisito, mas vai saber…