Blog do Flavio Gomes
F-1

TEM DIA QUE DE NOITE… (2)

SÃO PAULO (mas ele não era ruim, só andava com carro bom?) – Sebastian Vettel. Coube a ele, depois de 60 GPs de jejum, colocar a Ferrari na primeira posição de um grid novamente. Foi o maior período sem poles da história da equipe italiana, como aconteceu entre 1990 e 1994. Só isso. A última […]

cinganihgtSÃO PAULO (mas ele não era ruim, só andava com carro bom?) – Sebastian Vettel. Coube a ele, depois de 60 GPs de jejum, colocar a Ferrari na primeira posição de um grid novamente. Foi o maior período sem poles da história da equipe italiana, como aconteceu entre 1990 e 1994. Só isso.

A última pole do time de Maranello fora conquistada por Fernando Alonso no GP da Alemanha de 2012. Naquele dia, um 22 de julho, o espanhol alinhou com Vettel, então da Red Bull, ao seu lado na primeira fila. Em terceiro, Schumacher. De Mercedes.

Depois disso, foram mais de três anos na labuta — até hoje, em Cingapura. Tião Italiano rompeu uma sequência de 31 poles seguidas obtidas por motores Mercedes na F-1, que desde a primeira corrida de 2014 fazia P1 aos sábados — dessas 31, apenas a de Massa na Áustria, no ano passado, não foi da equipe oficial da estrela de três pontas. A Mercedes, como time, tinha 23 seguidas. Hamilton, sete. Deixou de igualar marca que pertence a Ayrton Senna, oito consecutivas entre Espanha/1988 e EUA/1989. Só para registrar, o último motor não-Mercedes a largar na pole fora o Renault da Red Bull no GP do Brasil de 2013. Com Vettel, inclusive.

E foi um massacre meio esquisito. Tião largar em primeiro, como poderia acontecer com a dupla Red Bull, que vinha andando muito bem, era algo difícil, mas não impossível. A pista cingapuriana é uma dessas raras em que a Mercedes poderia ter alguma dificuldade adicional, e isso acabou se confirmando — desde o segundo treino livre, ontem, que ferraristas e rubrotaurinos mostravam que tinham força para conseguir algo que ficasse além do normal.

Mas colocar 1s5 na Mercedes? Nas duas, que não tiveram nenhum problema muito claro, algo como três cilindros a menos, asa furada, pneu radial? Não faz sentido.

Só que aconteceu. Vettel chegou à 46ª pole de sua carreira com uma exibição primorosa, fazendo 1min43s885 no Q3, mais de 0s5 melhor que o segundo colocado — que foi o novamente sorridente Ricardão, igualando Austrália e China no ano passado, onde também largou na primeira fila (ele ainda não fez poles). Na segunda fila, de novo Ferrari e Red Bull, com Raikkonen (a 0s732) e Kvyat (a 0s860; melhor posição do russo e de um russo num grid na história). E só depois aparecem as duas Mercedes. Comandante Amilton ficou em quinto, a 1s415. Rosberguinho, em sexto a 1s530. A volta de Vettel, para quem não viu, está aqui. Exuberante.

O inglês não entendeu direito — como ninguém entendeu. “Os pneus não funcionaram”, tentou explicar. Nico disse que se soubesse o que estava errado, “teríamos resolvido”. Ou seja: o que vimos hoje na feérica cidade-estado asiática foi um tenebroso mistério. Tem dia que de noite…

Fecharam o grupo dos dez primeiros Sapattos, Verstappinho, Massacrado e Grojã, este de macacão verde e, agora, pelo que se comenta aqui e ali, mais perto da Haas do que da futura Renault — consta que as negociações para compra da Lotus estão em fase final. A passagem do francês pelo time americano, que terá motores Ferrari, seria uma espécie de teste para que ele, em 2017, se tornasse titular da Scuderia em 2017.

[bannergoogle] O Q3 foi tão surpreendente que o que se passou nas duas primeiras partes da classificação não merece muitas linhas. No Q1, Kvyat ficou na primeira posição, com Hamilton em segundo a 0s4. Já estava estranho. Rodaram Felipe II, Sonyericsson, Maldanado (muito mal, na comparação com Grosjean), Cat Stevens e Primo Rossi (o estreante ficou a 6s183 do soviético, mas vamos dar um desconto). No Q2, novamente a Mercedes patinou e tomou quase 1s de Vettel, fechando a sessão em sexto e sétimo com Lewis e Nico. Foram eliminados Incrível Hulk, El Fodón de La Eliminación, Maria do Bairro, Sainz Idade e Bonitton.

O grid faz imaginar que teremos a corrida mais interessante do ano, em que pesem as dificuldades de ultrapassagem no circuito citadino de Marina Bay. Mercedes em quinto e sexto, com quatro carnes-de-pescoço na frente, é algo que a gente não sabe direito ainda no que pode resultar. Ainda mais porque não há no horizonte dos prateados nada que indique uma recuperação repentina. Quem diria que, neste campeonato, estaríamos dizendo “um pódio já será um ótimo resultado para a Mercedes”.

Claro que, de novo é bom insistir no ponto, essa virada de mesa tem tudo a ver com o tipo de pista, o horário da corrida, a temperatura dos pneus, as condições do asfalto muito escorregadio. De qualquer forma, indica que, pelo menos no que diz respeito à Ferrari, o trabalho tem sido feito com competência. Aos poucos, os italianos vão se aproximando. Num ritmo consistente de crescimento, que pode transformá-la numa rival de verdade da Mercedes no ano que vem, se estes não se mexerem.

A lamentar neste sábado, para os fãs da F-1 que não têm TV a cabo, o fato de a TV Globo ter simplesmente ignorado a classificação. O treino foi mostrado em alguns flashes durante um programa matinal de culinária e bricolagem. Acho uma maldade com o esporte.