Blog do Flavio Gomes
F-1

LONE STAR (4)

SÃO PAULO (ô, Nico…) – Hamilton tri. Dez vitórias no ano, 43 na carreira, título conquistado com três corridas de antecipação. Num GP que compensou todas as agruras do público em Austin. Os torcedores americanos praticamente não viram treinos. Mas viram uma grande corrida. No balanço das horas, ficaram no lucro. Ainda viram a consagração […]

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SÃO PAULO (ô, Nico…) – Hamilton tri. Dez vitórias no ano, 43 na carreira, título conquistado com três corridas de antecipação.

Num GP que compensou todas as agruras do público em Austin. Os torcedores americanos praticamente não viram treinos. Mas viram uma grande corrida. No balanço das horas, ficaram no lucro. Ainda viram a consagração de um campeão. Um tricampeão.

Alguém pode alegar que Rosberguinho bobeou no fim, que o campeonato poderia ficar aberto mais um pouco, pelo menos, que o alemão merecia vencer o GP dos EUA. Eu mesmo mentindo devo argumentar que isso é muito natural, Nico errar. Pouco, é verdade, mas quase sempre em momentos decisivos. E tanto faz onde o cara encerra a fatura. Era só uma questão de tempo.

Importante que a conquista tenha vindo em grande estilo numa prova muito boa, repleta de ultrapassagens e alternativas, com pista molhada e seca, com muitos pit stops, com vários abandonos, com disputas por posições e pontos até a última volta, com os aplausos para quem merece.

[bannergoogle] Rosberg estava com cara de bunda no pódio por culpa dele mesmo. Faltando sete voltas para o final, liderava com Hamilton em segundo, mas já sabendo que o inglês não tentaria nenhuma barbaridade desnecessária. Seus pneus eram quatro voltas mais velhos que os do inglês. Nico não teria problemas para vencer, recuperar um pouco da autoestima, buscar o vice com dignidade.

Mas deu uma escapada bisonha da pista, perdeu a ponta, teve de aguentar a tortura de ver o companheiro com seu sorriso brilhante no pódio, centro de todas as atenções. Poderia carimbar a faixa de Lewis com autoridade. Em vez disso, saiu de Austin como o pior dos derrotados.

A prova começou com pista molhada, todos de pneus intermediários, mas sem chuva, finalmente. Rosberguinho, na pole, largou mal depois de disputar, de novo, com Comandante Amilton, e chegou a cair para quinto na primeira volta. Toca daqui, esfrega dali, pedaços de carro ficaram espalhados pelo circuito e o safety-car virtual foi acionado — nesse período, há um tempo mínimo de volta que os pilotos podem fazer e as distâncias são mantidas. Foi na sétima volta que a pista foi liberada e Nico tratou de se recuperar, passou os dois Red Bull, foi atropelando, de repente estava em segundo de novo na décima volta.

No asfalto úmido, a Red Bull ia bem. Ricardão, na volta 13, passou seu companheiro e, logo depois, foi para cima de Rosberg. Assumiu o segundo lugar e na volta 15, ousadia das ousadias, passou Hamilton, também. Nico se animou e veio junto. A coisa ficou boa, como boa estava um pouco mais atrás, onde Verstappen acabava de passar Vettel pela sexta posição, levando o troco em seguida. Na volta 18, Rosberguinho partiu para o ataque ao companheiro mercêdico, passou, tomou e passou mais uma vez, e então Hamilton resolveu colocar pneus slick, na volta 19. Voltou em oitavo.

Foi a senha. Se o líder do campeonato resolveu fazer isso, os demais acharam por bem copiar — OK, tinha gente com slick na pista havia algum tempo, mas era a turma do segundo escalão, que tentava algo de diferente. Na volta 20, Kvyat, Ricciardo e Rosberg pararam. O australiano voltou em primeiro, seguido por Rosberg, pelo jovem soviético e por Hamilton. Todos com pneus para pista seca. Mas todo cuidado era pouco. Ainda havia pontos molhados. Raikkonen percebeu isso ao rodar, bater, arrancar uma placa de publicidade no peito para voltar aos boxes, trocar o bico e abandonar algumas voltas depois.

Os tempos de volta, que com pneus intermediários eram registrados na casa de 1min56s, caíram para a 1min48s. Os quatro primeiros andavam razoavelmente próximos, exceto Ricardão, coisa de 6s à frente. Na volta 21, Hamilton atacou Kvyat. Kvyat devolveu o ataque e passou de novo. E, então, Ricciardo escorregou no mesmo ponto em que Kimi bateu, perdeu toda a vantagem que tinha e na volta 22 Rosberg passou por ele como um foguete, assumindo a ponta. Hamilton fez o mesmo com Daniil e pulou para terceiro. Vettel fez o mesmo. Com a pista secando, os carros da Red Bull começaram a perder rendimento.

Foi na volta 25 que Hamilton colou em Ricciardo. Na 26ª, passou. Estava 8s atrás de seu companheiro prateado. Então, a barata de Sonyericsson quebrou no meio de uma retinha e o safety-car teve de entrar para que o Sauber pudesse ser removido. Nessa hora, 27ª volta, Vettel correu para os boxes e espetou pneus médios. Ideia: não parar mais. Sainz, Hülkenberg e Pérez, estrelas do segundo pelotão, fizeram o mesmo. Era uma aposta interessante. Os ponteiros, com pneus macios, não conseguiriam ir até o final com aquela borracha.

A relargada demorou, apenas na volta 33. Rosberg, Hamilton, Ricciardo e Kvyat eram os quatro primeiros, mas Vettel não especulou muito e foi para cima do jovem comunista, depois entubou o australiano, que devolveu a ultrapassagem, mas não resistiu muito. Na volta, 34, Tião Italiano já estava na escolta da dupla da Mercedes, sem ter de parar de novo para trocar pneus. Aparecia como candidato à vitória se nada de anormal acontecesse.

Mas sempre acontece. Na volta 36, Hülkenberg tentou passar Ricciardo, que em uma volta perdera a posição também para Verstappinho. Se tocaram, o carro da Force India ficou num lugar meio esquisito e tome safety-car virtual de novo. Todo mundo devagar, e Rosberg tomou a decisão de trocar os pneus mais uma vez, diante da ameaça de Vettel. Teria a chance de se recuperar contra o ferrarista com pneus médios, certamente. A dupla da Red Bull fez o mesmo. Nico voltou em quarto. Na volta 40, pista liberada, o alemão não perdeu tempo e passou Verstappen. Um pouco mais atrás brilhavam Button e Alonso, acreditem, em quinto e sexto.

Hamilton tinha 5s4 de vantagem para Vettel, o segundo colocado. Ambos com pneus velhos. Com a borracha nova, Rosberg virava 2s mais rápido. Sua decisão fora perfeita. Iria passar os dois. Na volta 42, passou por Tião. Lewis estava 6s à frente. Não iria conseguir se segurar muito tempo com aqueles pneus.

Um novo safety-car, com a batida de Kvyat na volta 43, permitiu que Hamilton trocasse seus pneus sem perder muito tempo. Vettel fez o mesmo para colocar macios. Ambos perderiam suas posições para Rosberg, mas não tinha outro jeito. A relargada veio na volta 47, e o platinado da Mercedes não deu chances a Hamilton. Vettel, rapidinho, passou Verstappen e reassumiu o terceiro lugar. Seria o pódio natural.

Só que na volta 49 Rosberg escapou numa curva besta e Hamilton pulou novamente para a liderança. E já era. Até o final da corrida, a ação ficou mesmo para a turma do não-estamos-nem-aí, com Button, Alonso, Nasr, Maldonado, Ricciardo e quem mais viesse para a festa ganhando uma posição aqui e outra ali. Vettel ainda chegou em Rosberg na penúltima volta, mas pelo menos isso Nico fez: não deixou passar, permitindo que o título ficasse matematicamente decidido.

Como se nota na tela acima, Alonso, nosso herói, não aguentou o tranco. Seu carro perdeu potência no fim e na última volta ele perdeu o pontinho do décimo lugar para Ricciardo. Quem não tem do que reclamar é a Sauber. Felipe II, com cinco pit stops, conseguiu salvar um excelente nono lugar. Maldanado em oitavo e Bonitton em sétimo também merecem nossos aplausos. Mas bem, mesmo, foram Sainz, o sexto, e Verstappen, o quarto — OK, incluam Pérez nisso, quinto colocado. É que o espanhol largou em último. E Max, com 18 anos recém-completados, mostra maturidade de veterano em todas as circunstâncias — inclusive em condições dificílimas como as deste fim de semana, sem tempo de treinar num circuito onde nunca tinha pisado antes. Na classificação final, por conta de um pênalti de 5s por excesso de velocidade nos boxes, Sainz acabou caindo para sétimo e Button herdou o sexto lugar. Um prêmio para a McLaren e para o inglês.

Hamilton é um gigantesco tricampeão, piloto que inscreve seu nome na história da F-1 com números incontestáveis. Junta-se a galeria bastante exclusiva, daqueles que ganharam três ou mais campeonatos: Schumacher (7), Fangio (5), Prost e Vettel (4) e Brabham, Stewart, Lauda, Piquet e Senna (3).

Entrevistado, vejam só, por Elton John no pódio, a primeira coisa que disse foi: “Não acredito que você está aqui!”. Gosto desse estilo. Hamilton é do tipo que reverencia ídolos — no esporte, na música, nas artes. Sabe que é um dos maiores de todos os tempos naquilo que faz, também. Mas mantém uma dose de humildade que todos deveriam ter, por melhor que sejam.

Parabéns, tricampeão. Mr. Dennis não errou quando identificou em você, lá atrás, ainda garotinho, alguém muito diferente. Por mais que muita gente não goste dele, é preciso reconhecer o olho clínico do velho Ron.