Blog do Flavio Gomes
Gomes

ENTREVISTA COM O BLOGUEIRO (FIM)

SÃO PAULO (acabou!) – Vou aproveitar a calmaria do feriado para encerrar a mais extensa coletiva de todos os tempos. Fui entrevistado pela blogaiada a partir de uma postagem do dia 1º de julho motivada por um podcast em que os integrantes falavam um monte de coisa de mim. [bannergoogle] Notei que muitos dos meus […]

SÃO PAULO (acabou!) – Vou aproveitar a calmaria do feriado para encerrar a mais extensa coletiva de todos os tempos. Fui entrevistado pela blogaiada a partir de uma postagem do dia 1º de julho motivada por um podcast em que os integrantes falavam um monte de coisa de mim.

[bannergoogle] Notei que muitos dos meus leitores (ou seriam seguidores, agora?) acham que sabem muito, mas no fundo, no fundo, chutam barbaridade sobre gostos, preferências, posições, opiniões – falo de mim, mas isso vale para qualquer pessoa, digamos, pública.

Foi interessante. Por dois dias o post ficou aberto para perguntas. Chegaram 354. Respondi absolutamente tudo, sem editar as questões – acho importante dizer isso sempre não só pelos erros de ortografia e gramática, dos quais me eximo, mas porque era essencial respeitar a maneira de cada um de se expressar. Elas foram feitas em dois dias, 1º e 2 de julho. Depois o post foi “trancado”.

Não ficou pergunta sem resposta, ainda que algumas merecessem. Mas quem sai na chuva é pra se queimar, dizia Vicente Matheus, e aceitei as regras que eu mesmo criei.

Espero que tenham gostado. Demorou mais do que eu imaginava para responder tudo, quase cinco meses. Nesse lapso de tempo, Hamilton conquistou o tri, o Corinthians foi campeão, arrumei mais um emprego, a Portuguesa não subiu, o Estado Islâmico atacou Paris e a “Playboy” acabou. Acontece muita coisa em cinco meses.

Mas pode-se dizer que as perguntas eram atemporais. Teve muita coisa sobre Fórmula 1, claro, mas notei uma grande curiosidade da blogaiada por minhas posições políticas – que à maioria dos leitores daqui parece um tanto exótica. Exótico, penso eu, é ser ferrenhamente de direita neste país esfolado pela elite econômica e política por 500 anos.

Mas também me perguntaram muito sobre carros antigos, vida pessoal, amenidades, profissão. No geral, faço um balanço bem positivo. Não sei se as repostas a essas 354 perguntas dizem inteiramente quem sou, e não sei sequer se interessa a alguém saber quem sou. Foi um bom exercício, pessoalmente falando. Na verdade, acho que no fim das contas acabei sabendo bastante sobre vocês, também. E é legal conhecer quem lê o que escrevo aqui todos os dias, incansavelmente.

Daqui a duas semanas este blog completa dez anos no ar. É bastante tempo. Poucos duram tanto. Mas estou cumprindo aquilo que me comprometi a fazer. Dez anos atrás, não existiam as redes sociais. Blogs eram, por assim dizer, uma novidade para os jornalistas. Para mim, ele continua sendo a forma mais eficaz de dizer o que penso com alguma profundidade sobre as coisas que me interessam. Dedico a ele mais horas por dia do que a qualquer outra atividade. Gosto de fazer. Graças ao blog, muita coisa aconteceu na vida real, e só isso já faz com que ele tenha valido a pena.

Mas do blog falo quando ele fizer aniversário. Vamos à última leva das 18 sessões de perguntas e respostas mais demorada de todos os tempos.

Tiago – Qual momento mais especial na F1 que você viveu?
RESPOSTA – A morte de Senna, claro. Como jornalista, nada que presenciei foi mais marcante. Mas falando apenas pessoalmente, deixando os fatos jornalísticos de lado, foi muito especial para mim cobrir meu primeiro GP fora do Brasil, em Paul Ricard/1989. Era minha primeira vez na Europa, um garoto começando a conhecer o mundo. Tenho saudades daquele garoto. Guardo até hoje as cópias em telex dos textos que escrevi. Tem alguns pedacinhos aí embaixo. Vale a pena ler, como arqueologia jornalística. É só clicar na imagem e, depois, na cruzinha no alto para aumentar o tamanho. Vocês verão, por exemplo, que Senna atribuiu a Deus o atraso da McLaren na produção de um novo câmbio. E que fui confundido com um piloto por um motorista de táxi.

Marcelo Machado – Desde que tive acesso a internet, sempre procuro por sites que possam modar minha opinião e conhecimentos da F1. Encontrei o grandepremio, quando era na Uol, e sempre gostei das colunas que o site tinha, principalmente a sua coluna. Ouvi, o chamado Podcastf1 sobre o roda x roda. Acredito que a intenção do pessoal, em momento algum foi de denegrir vossa imagem assim como a do Galvão Bueno. Transpareceu sim, que deve haver uma mudança de narradores/locutores em nosso meio de comunicação. Se a escolha, que me parece clara, for do carinha que anda de Lada, estaremos muito bem amparados. Em tempo: Tenho visto aqui em Goiânia, me parece que é um Miura, inteirinho. Quando tiver nova oportunidade, tentarei filmar para te mandar. O barulho é o máximo que se pode esperar de um carro esportivo.
RESPOSTA – Você mandou um comentário, não uma pergunta. Obrigado pela consideração. Quanto aos Miúra, eles foram produzidos com motores VW a ar no início, depois usaram motores de Passat TS e, finalmente, os AP 1.8 e 2.0. Quando fui verificar se esses dados eram corretos, descobri que existiu uma pick up chamada Miúra BG Truck — na prática, uma D20 modificada. Achei interessante. Tanto que até coloquei uma foto aqui.

BG Miúra Truck: nem sabia que existia

FOC – Qual ou quais pilotos, brasileiros ou não, dos que você conheceu pessoalmente quando acompanhava F1 “in loco” te decepcionou como pessoa (ser humano)?
RESPOSTA – Barrichello. O comportamento dele num episódio que não estou autorizado a revelar, envolvendo um grande amigo, me fez perder todo o respeito que tinha pelo rapaz.

Guarapari – Flavio, te acompanho há anos e ate ja contribui com um post seu quando vc era mais acessivel (foi ate por email, aquele da warm-up) sao 3 questoes: vc realmente usa seus carros antigos para se locomover diariamente, quantos eles sao, e se vc tem alguma carro novo para andar diariamente..abracos!!!
RESPOSTA – Mais acessível? Como assim? Respondendo: sim, uso diariamente, nunca ando de carro novo, até porque não tenho. Já dei a lista.

Gustavo – Uma duvida que tenho é que nunca vi uma corrida de F1 do autódromo, nem ao estádio ver uma partida de futebol . Quando mais jovem tinha vontade (como também tinha vontade de ir ao playcenter), mas passou. Hoje em dia, me parece melhor assistir de casa. Para quem quer realmente entender uma corrida e seguir os tempos volta a volta, acha que é melhor assistir da TV ou da arquibancada? Você quando está no autódromo, como acompanha as corridas de modo a poder entender o que realmente se passa na pista?
RESPOSTA – Não há nada como ver um evento esportivo no local. É uma experiência diferente, sensorial – tem barulho, cheiro, frio, calor, chuva. Não importa se os dados de volta a volta não estão disponíveis. Foda-se. Isso se vê depois. Nunca é melhor assistir de casa. Nada. Mas seu depoimento vai ao encontro do que penso sobre as pessoas que acompanham esportes hoje em dia. São preguiçosas. Nunca ter ido a um estádio, para mim, é algo inaceitável. Mas você ainda pode se recuperar. Quanto ao trabalho num autódromo, faço as duas coisas: vejo nos monitores, porque as informações são importantes, e na pista.

Marcio Alves RJ – Quem é o piloto mais chato de entrevistar? Não precisa ser alguém que você já entrevistou, pode ser do que você ouviu de colegas e analisando o perfil dele você concorde. Eu digo chato de chato mesmo “o mala”. Justifique sua resposta… :-)
RESPOSTA – Ah, nunca parei para pensar nisso. Acho que todo mundo é parecido, todos têm seus dias bons e ruins. Hoje em dia, como quase tudo acontece em coletivas, a gente nem tem como avaliar isso direito.

Lucas Oliveira – Flávio Gomes, qual dos 3 é o mais alto: Você, Ricardo Maurício ou Max Wilson?
RESPOSTA – Acho que é o Max. Não sei quanto eles medem. O Ricardinho é do meu tamanho faz tempo. Olha essa foto aí, de quando ele tinha uns 13 ou 14 anos.

Ricardo Maurício me ensinando a andar de kart em mil novecentos e bolinha

Kbça – Olá Flávio! Acompanho seu site desde 2009.Sou daqui de Ribeirão, o cara da confraria que fez um convite pra tomar um chopp , um dia que estiver passando pela anhanguera, quem sabe.Sou muito fã do Nelsão e gostaria de saber, na sua opinião, se o Nelsinho estivesse ainda na F1, teria capacidade técnica de estar hoje entre os melhores.esquecendo o episódio de Cingapura.
RESPOSTA – Acho que sim. Nelsinho tinha – e tem – talento. Era um piloto capaz de evoluir bastante. Estaria até hoje lá, e em posições interessantes. O que ele fez foi uma cagada monstruosa, a maior que já vi no automobilismo. Mas soube se reinventar. De qualquer forma, acho que ele desperdiçou uma carreira promissora. Quanto ao chopp, aceito o convite.

Eric – Quem fez mais pelo Scorpions, Uli Jon Roth ou Matthias Jabs? E por quê?
RESPOSTA – Sendo bem honesto, não tenho a menor ideia. Gosto da banda, mas não sou uma pessoa muito antenada nessas coisas. Se você me perguntar os nomes de todos os integrantes do Scorpions, não saberei dizer. Nem dos Rolling Stones. Mas considero “Winds of Change” uma das músicas mais bonitas de todos os tempos. Segue o clipe.


Luis – Como surgiu a (aparente) rixa entre vc e o Lívio Oricchio?
RESPOSTA – Não tem rixa nenhuma. Ele não gosta de mim, enxergamos o jornalismo de forma bem distinta, e creio que já respondi em alguma pergunta anterior. Ou foi sobre o Ico? Acho que foi sobre o Ico, e esclareci tudo. É só procurar. Quanto ao Livio, é exatamente isso: nossas visões de mundo são muito diferentes.

Hugo Caldas – Achava a coluna Gira Mondo, Gira espetacular. Porque não publica mais?
RESPOSTA – Publico esporadicamente alguns textos sob essa rubrica. Os ânimos políticos no Brasil se exaltaram demais, não tenho muita paciência com beócios.

Moacir – Por que não faz um programa na fox igual ao limite?
RESPOSTA – Teremos um programa de automobilismo. Mas não depende de mim.

Atenágoras Souza Silva – Sua pergunta ao Flávio é muito boa, Reube Reis. Indo mais ou menos na mesma direção, falando mais especificamente sobre o PT (não sou um antipetista), recentemente este paritdo fez um congresso, e há vozes de dentro do PT e de outros setores mais à esquerda que fazem críticas ao partido. Na sua visão, quais são os erros que o PT cometeu que gostaria de criticar, e que vão na contra-mão de uma transformação democrática ao socialismo? Ainda acredita que o programa petista caminha para esta direção? Um grande abraço do fundo do meu coração vermelho de outubro de 1917.
RESPOSTA – Já respondi. Para mim, o maior erro do PT foi fazer alianças espúrias com gente que não merece o menor respeito.

Léo Simas – Quantos posts serão necessários para responder todas as perguntas da galera aqui dos comentários ?
RESPOSTA – Dezoito. Este é o último.

Brito – 1 – Você realmente é comunista ou não? Digo isso pois é sabido que você tem um sarcasmo um tanto sádico e sempre reparei que quando você toca no assunto “política”, você defende a esquerda com tamanho vigor e paixão que acaba por ganhar tons cômicos e, não me leve a mal, realmente parece que você está tirando uma onda pra ver quem acredita. Se sim, como conciliar essa visão política com o mundo do automobilismo e suas marcas, vendas, conglomerados, CEO’s, e blablablas capitalistas? 2 – Você não acha que a curva Tamburello deveria ter sido mantida conforme o traçado original, acrescentando-se uma barreira de pneus ou “soft wall”? Não acha que foi uma burrice populista censurar uma curva superlegal apenas para acalmar os ânimos dos fãs, posto que há curvas tão ou mais perigosas no calendário da F1 (130R, Eau-Rouge, Blanchimont)? 3 – Dale Earnhardt ou Richard Petty? 4 – Qual é o maior “dream team” da história do automobilismo? A) Senna e Prost na McLaren-Honda ou B) Marinho e Bird na Vemag? 5 – O que acha de Gilles Villeneuve? Seria mesmo um grande campeão ou romantizaram demais a história só porque morreu? 6 – E o Moco? Teria chances em 77? 7 – Qual foi o piloto mais boa praça que já conheceu na F1 e qual o mais pé-no-saco? Pra finalizar: 8 – Edgard Mello Filho ou Murray Walker? (…) ou Galvão? Kkk
RESPOSTA – Esse aproveitou a chance… Respondendo pelos números. 1) Já falei sobre o assunto. Não faço tipo. Sou o que sou. 2) Não tinha como fazer muita coisa ali, na época. Ainda não existia a tecnologia do “soft-wall”. Poderiam refazê-la hoje, mas infelizmente a Tamburello ficou maldita e ninguém arriscaria ressuscitá-la, sob o risco de uma horda de sennistas se algemarem ao muro. 3) Petty. 4) Marinho e Bird. 5) Ele era bom, acho que seria campeão. Mas era muito doido. Por isso morreu. 6) Não seria campeão. A Brabham ficou em quinto naquele ano e não ganhou nenhuma corrida. Mas faria um bom campeonato. 7) Boa praça, alguns. Panis, Massa, Hill, Pirro, Coulthard… Pé-no-saco? Como disse antes, nenhum era ou é especialmente mala. 8) Edgard é foda.

Jurandir – Você ainda acha que o Vettel é melhor que o Senna?
RESPOSTA – Os números de Vettel são melhores que os de Senna e ele, muito jovem, conseguiu coisas inacreditáveis, como vencer uma corrida de Toro Rosso. Acho que são pilotos do mesmo nível, embora de gerações bem diferentes. Tendo como critério os resultados, até porque não há outro do ponto de vista objetivo, sim, Vettel é melhor que Senna.

Vettel em Monza: vitória com a Toro Rosso, equipe pequena, algo que Senna não conseguiu

Pedro – Você é petista?
RESPOSTA – Sou, voto no PT em todas as eleições, com raras exceções para cargos legislativos. Mas não sou filiado a partido nenhum.

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