Blog do Flavio Gomes
F-1

SAUDOSA MALOCA (7)

SÃO PAULO (snack de soja a gente passa) – Às vezes, sobre algumas pessoas, a gente diz: alguém tem de fazer um filme. Ou escrever um livro. Já falei isso um dia de Dulce Lee, certeza. “Ah, Gomes, quem é Dulce Lee?” Quando escrevi o texto abaixo, em 17 de março de 2005, o blog ainda […]

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SÃO PAULO (snack de soja a gente passa) – Às vezes, sobre algumas pessoas, a gente diz: alguém tem de fazer um filme. Ou escrever um livro. Já falei isso um dia de Dulce Lee, certeza. “Ah, Gomes, quem é Dulce Lee?”

Quando escrevi o texto abaixo, em 17 de março de 2005, o blog ainda não existia. Por isso, deve ter sido publicado na época em que o Grande Prêmio estava hospedado no iG — os links antigos não estão mais ativos. Ele explica quem é Dulce Lee. Leiam, e depois seguimos.

Havia uma fotógrafa nos anos 70 com quem topei de frente procurando já não sei mais o quê na internet, e também não importa, porque o que encontrei foi bem melhor. Uma moça alta, bonita, moderna, além de seu tempo. Credite-se à minha ignorância a falta de informações mais precisas, já que ela, Dulce Lee, é certamente bem mais importante e conhecida do que farão supor estas linhas repletas de impressionismo vago. Dois ou três telefonemas me ajudariam a compor um perfil decente, mas muitas vezes prefiro ficar com a impressão do que com os fatos, e não seria num espaço tão curto que contaria a história desta mulher. Um livro, quem sabe? (Mais um livro que nunca escreverei.)

Dulce, de 1970 a 1976, foi presença feminina quase única na ilha viril e máscula de Interlagos, Fórmula 1 incluída. E lá fora também, porque ela não clicava apenas aqui, circulava pela Europa com a mesma desenvoltura e talento. Amiga de todos os pilotos, foi casada com um deles, Anisio Campos, o maior desenhista de automóveis que o Brasil já teve — e ainda tem, porque Anisio continua firme e forte com seus longos cabelos brancos e despejando no mundo idéias que brotam sem parar de sua mente de artista.

E é isso que é Dulce, uma artista das câmeras e lentes, que emprestou às corridas durante alguns poucos anos um olhar absolutamente particular, de estética refinada a partir de técnicas de revelação e ampliação que, até onde eu sei, não se usam mais nesta era de retratos digitais gravados em “memory sticks”. Nada contra a modernidade, mas tudo a favor do que se fazia antes. As fotos de corridas publicadas em seu blog não me deixam mentir. São pinturas.

Dulce amava carros e corridas, e foi uma espécie de fotógrafa oficial da Equipe Hollywood, um ícone das pistas brasileiras de três décadas atrás. Usava “chapéus e colares diferentes” (as aspas são de um texto dela mesma) numa época em que “corridas eram corridas de verdade”. Seu trabalho, com carros, flores ou pessoas, é um primor.

Feliz coincidência esta, de achar no emaranhado de www’s em que se transformou a vida do jornalista o olhar de Dulce sobre as pistas, na mesma semana em que ganhei o livro de Tom Wolfe com um olhar literário sobre uma corrida de Nascar de 1964. Não se olha mais para nada hoje como antigamente.

Lido? OK. Encontrei o texto aqui, porque foi linkado em post antigo, de 2008, quando recebi um e-mail de Dulce Lee. Não lembro direito sobre o que era, quase certamente palavras carinhosas sobre a tal coluna de três anos antes, que de alguma forma chegou a ela bastante tempo depois. Mas, incrivelmente — não perguntem, algumas coisas a gente não sabe explicar –, lembro com precisão onde estava quando Dulce me telefonou um dia: na rua onde morava, a exatas duas esquinas da avenida que delimita o bairro. G0zado lembrar disso agora, do telefonema no carro.

Enfim, estou falando da Dulce de novo, anos depois, porque hoje um blogueiro pingou nos comentários esta matéria do “Diário Catarinense” assinada por Guto Kuerten — ótima, bem escrita, com vídeo e tudo. Ela mostra quem é a Dulce hoje, a artista que vive num santuário natural em Florianópolis, santuário que ela mesma ergueu, muito longe das pistas e do universo veloz que registrou há mais de quatro décadas.

Que figura, essa mulher.