Blog do Flavio Gomes
Comes & bebes

DA FORÇA DA GRANA

SÃO PAULO (fico triste) – Gigetto e Suntory — Shintori, nos últimos anos. São dois excepcionais e tradicionalíssimos restaurantes de São Paulo que estão fechando as portas. Um pouco da nossa história que se vai, melancólica e tristemente. O Gigetto foi inaugurado em 1938 na Nestor Pestana, e nos seus anos de Rua Avanhandava virou […]

fechougigggg

SÃO PAULO (fico triste) – Gigetto e Suntory — Shintori, nos últimos anos. São dois excepcionais e tradicionalíssimos restaurantes de São Paulo que estão fechando as portas. Um pouco da nossa história que se vai, melancólica e tristemente.

O Gigetto foi inaugurado em 1938 na Nestor Pestana, e nos seus anos de Rua Avanhandava virou uma lenda da cidade, frequentado por artistas, cantores, jornalistas e intelectuais que a ele acorriam nas madrugadas para fazer planos, derrubar governos e viver a vida como se deve. Há pouco mais de dois anos, deixou o endereço e foi para o Bexiga. A nova casa nunca emplacou — perdeu o charme de lugar mais histórico do que exatamente de alta gastronomia, e isso foi fatal. No fim do mês passado, alguém notou que suas portas estavam fechadas. Ninguém sabe se voltará.

Fui algumas vezes ao Gigetto antigo, e apenas uma ao novo. Na Avanhandava, a gente sempre tinha a sensação de que alguma coisa importante estava acontecendo ali. Numa mesa, o Jô com algum convidado de seu programa. Em outra, Carlito Maia rabiscando frases em guardanapos. Mais adiante, o Betinho. Num canto, Antonio Fagundes comendo capeletti com Marília Pêra. E eu lá, quase sempre sozinho nos meus vinte e poucos anos, saindo do jornal tarde da noite, diante de uma lasanha e uma taça de vinho barato.

Do almoço na casa do Bexiga, nenhuma lembrança em especial. Nunca tive vontade de voltar. Isso é fatal para um restaurante. Do outro, morro de saudades — não sei se do restaurante, ou de mim com vinte e poucos anos.

Já ao Suntory, nunca fui — sempre teve fama de caro demais, não era pro meu bico.

Mas passo por ele todos os dias, a caminho de meu pequeno escritório na Paulista. Todos os dias. Mudou de nome há alguns anos para Shintori, mas sua cozinha, segundo consta, continuou sendo muito bem cotada.

A arquitetura, porém, era o que me encantava. Uma enorme casa de 1.800 metros quadrados em estilo japonês, que sempre me causou estranheza — um terreno daquele tamanho a uma quadra da Paulista nunca fez muito sentido, do ponto de vista econômico.

Bem, a estranheza acabou. O Shintori fecha não por causa da crise, mas porque não resistiu ao assédio imobiliário. O prédio está sendo desmontado, e cada vez que passo em frente dói um pouco meu coração paulistano que vai perdendo suas referências.

Mas acho que sempre foi assim.