Blog do Flavio Gomes
#69

P2, E MERECIDO

SÃO PAULO (vem mais) – Depois coloco os vídeos, que esse troço dá trabalho para editar. Odeio vídeos por causa da edição. Não existe nada mais chato. Mas isso não importa. Importa o segundo lugar que o Bon Voyage conseguiu sábado na Turismo N entre os dez carros da categoria — incluindo a turma de […]

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SÃO PAULO (vem mais) – Depois coloco os vídeos, que esse troço dá trabalho para editar. Odeio vídeos por causa da edição. Não existe nada mais chato. Mas isso não importa. Importa o segundo lugar que o Bon Voyage conseguiu sábado na Turismo N entre os dez carros da categoria — incluindo a turma de motores a ar, igualmente 1.6.

E foi segundo-segundo, mesmo, passando na pista os que estavam na minha frente depois de uma classificação muito ruim — sétimo na categoria, 21º na geral. Não pudemos treinar na sexta por causa da chuva e fomos para o treino que definia o grid com um carburador novo ainda não testado.

[bannergoogle] Putz. Saí do box e o diabo do carrinho não chegava a 5 mil giros. Parei imediatamente e os mágicos da LF — Nenê, Toninho, Léo e Marcônio — trocaram o carburador em minutos, e deu tempo de fazer uma voltinha ridícula em 2min15s417 para pelo menos não largar em último. As perspectivas eram tenebrosas.

Mas aí o Nenê, meu chefe de equipe e guru, resolveu ver o que o carro tinha de errado e inscrevemos o #69 na Força Livre. Ele foi para a classificação e fez uma volta em 2min13s353. O cara pilota de verdade, não é como eu. Mas sacou que faltava velocidade de reta, nossa quinta marcha era inútil e tínhamos problemas crônicos de freio — por isso seguro muito o carro no câmbio, mas como não tinha referência nenhuma de outro freio, achei que era assim mesmo.

Não era. Espetamos pastilhas novas, mais macias, e fui para a corrida. Na volta de instalação e na de apresentação, queimei freio do jeito que dava. Pastilha nova é foda.

Largamos bem, quatro posições ganhas, e todas da turma da minha categoria. Aí, na terceira volta, entrou o safety-car — batida do Doktor Arnaldo Faerman. Foi quando começaram minhas agruras. Tinha um Gol branco na minha frente, #333, o mesmo que me passou sob bandeira vermelha na prova de abertura, em janeiro. Mas era outro piloto — o carro foi alugado.

Eu estava em terceiro na nossa categoria. À frente do Gol, o Voyage vermelho do Silvio Bellucci liderando. Mas o cara do Gol não encostava no pelotão. Andava devagar, eu fazendo sinal para ele avançar e grudar nos demais, e nada. Foram três voltas assim, e finalmente, na abertura da terceira — a última com o safety-car à frente –, chegamos no pelotão e fizemos a volta toda em fila indiana. Não entendi a lerdeza do Gol, mas tudo bem. Como acabamos encostando nos caras da frente, teria a chance de, na relargada, tentar algo.

Só que quando apontamos na Junção, na subida para o Café, prontos para a relargada, o cara tirou o pé de novo. O pelotão começou a desgarrar, e eu não podia passar sob bandeira amarela. O cara do Gol dividiu o grid em dois: do líder até o Voyage do Bellucci, um buraco de uns dez carros, e ele à frente do segundo pelotão, lerdo, incompreensível, estragando a corrida de todo mundo atrás dele.

Relargamos e o sujeito imediatamente entrou nos boxes. Acabou minha prova. O Voyage vermelho já tinha quase uma reta de vantagem. Ele me tirou a chance de, pelo menos, brigar pela vitória. No vídeo dá para ver direitinho. Fiquei muito puto.

Daí até o fim corri sozinho. Quando terminou a prova, fui até os boxes do rapaz para saber por que ele tinha feito aquilo. Irônico, disse que estava quebrado. Perguntei, então, por que não tinha parado antes, em vez de levar o carro até a relargada e parar na minha frente sabendo que eu não podia passar sob regime de safety-car. Ele fez uma gracinha qualquer e perguntei se ele era bobo, ou namorado do cara do Voyage.

Seguiu-se um bate-boca ríspido. Mandei o cara tomar no cu e ele me chamou de “piloto de fim de semana” (todos somos, a não ser que tenha corrida de terça ou quarta-feira) e “comunistinha de merda”. Aí saquei que o boçal, por alguma razão, não gosta de mim — deve ler o blog, me segue nessas merdas de redes sociais — e fez de propósito. Xinguei-o mais algumas vezes, usando repertório vasto, virei as costas e fui ao pódio receber meu troféu.

Essas coisas enchem bem o saco. Aparecem uns anexos nessas corridas que a gente não sabe de onde vêm, nem para onde vão. Por mim, que vão para a puta que pariu. Mas que não venham estragar a corrida de ninguém. Uma coisa é cometer um erro e bater. Acontece. Já aconteceu comigo, como vítima e culpado. São mais de 13 anos na Classic e nunca — nunca mesmo — tive qualquer desentendimento com outro piloto na pista. A única treta em que me envolvi foi num briefing, com um tonto que desrespeitou nosso diretor de prova, o Ernesto Costa e Silva.

Enfim, já foi. Fechei a corrida a 10s do Bellucci, que provavelmente venceria mesmo se o goiaba do Gol não tivesse feito a babaquice que fez. Na geral, 12º — um bom resultado. Minha melhor volta foi registrada em 2min14s055, longe dos 2min12s2 que esse carro já virou. Mais tarde, o Nenê correu com ele na Força Livre e fez sua melhor volta em 2min13s716, 0s339 mais rápido que eu. Portanto, meu desempenho esteve longe de ser um desastre, ao contrário.

A vitória na geral ficou com o imbatível Puma do Denísio Casarini, da GTS. Fábio Coelho ganhou na TS de Passat (final emocionante, 0s120 à frente do Antonio Chambel), Erick Grosso levou na TL com Fiat 147 e o Bellucci faturou na Turismo N. Saí feliz com o segundo lugar, mas meio contrariado com o bate-boca. Não gosto dessas coisas. Mas, também, não se deve ficar quieto quando alguém te sacaneia na pista. Para quem corre, não existe nada mais abominável do que uma sacanagem deliberada. A gente percebe. Não tem bobo nesse negócio.