Blog do Flavio Gomes
Televisão

TOP JORDAN

SÃO PAULO (tenho minhas dúvidas) – Dificilmente o “Top Gear” da BBC repetirá o sucesso de sua formação original, desfeita após o chilique de Jeremy Clarkson com um produtor no ano passado. Mas os caras estão tentando, e é claro que o novo programa terá uma cara diferente e muito própria, a julgar pelo time […]

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SÃO PAULO (tenho minhas dúvidas) – Dificilmente o “Top Gear” da BBC repetirá o sucesso de sua formação original, desfeita após o chilique de Jeremy Clarkson com um produtor no ano passado. Mas os caras estão tentando, e é claro que o novo programa terá uma cara diferente e muito própria, a julgar pelo time escalado e divulgado hoje pela emissora britânica. A estreia está marcada para maio.

A novidade positiva é Eddie Jordan. OK, era especulado, mas como confirmaram agora, aproveitemos para comemorar. Porque o velho irlandês é uma figura divertida e muito boa de câmera. Assim como era um grande dono de equipe, também — morro de saudades de times como a Jordan, a Minardi e outros menores que disputavam o Mundial com enorme dignidade.

A pilota alemã Sabine Schmitz, conhecida como a “Rainha de Nürburgring” (saiba por quê aqui), é outra que promete. Será a primeira mulher a fazer parte do elenco fixo do “Top Gear” em 15 anos, é engraçada e guia bem. Stig também continua, garantia de boas risadas.

[bannergoogle] Mas o resto, sei lá… A apresentação estará a cargo de dois atores, Chris Evans e Matt LeBlanc. Bom, são populares e ligados em carros, devem segurar a onda, pelo menos. Mas duvido que cheguem perto da turma que foi para a Amazon. Os outros dois são Chris Harris e Rory Reid. Harris é um jornalista que faz relativo sucesso com vídeos sobre carros no YouTube. Confesso que nunca achei nada demais em suas produções. Reid é outro “youtuber”, esta praga da modernidade. Foi escolhido a partir de uma espécie de concurso em que os candidatos tinham de enviar vídeos de 30 segundos para impressionar os produtores.

Ambos são fãs declarados da série e se dizem inspirados por ela. Pode ser que eu caia do cavalo e que sejam ótimos — a produção ajuda, mais de US$ 1 milhão por episódio –, mas me parece que apelar para “youtubers” num programa como o “Top Gear” seja acreditar um pouco demais nas redes sociais e no poder da internet.

Tem coisa muito boa na rede? Ô, se tem. Mas tem muita babaquice, hedonismo em estado bruto e gente de TV seduzida por números do Google Analytics? Tem também. Basta ver as merdas que fazem sucesso no Brasil nesta curiosa categoria de “youtubers” — Kéfera, Whindersson Nunes, Chris Figueiredo, Isabela Freitas, Felipe Neto, gente que fala de si própria ou sobre o nada absoluto para milhões de adolescentes embasbacados.

“Youtubers” e “instragamers” são fenômenos que para mim ainda carecem de uma boa explicação. Empresas se deixam levar pelos dados estrondosos de visualizações, despejam fortunas nesses garotos-propaganda e eles estão aproveitando a onda e enriquecendo.

Acho ótimo, embora considere o conteúdo que produzem uma porcaria — é difícil compreender que cinco milhões de pessoas se interessem pelo nome que a menina quer dar ao seu cachorrinho, ou pela reação do menino a um peido no elevador. Mas tal conteúdo não é exatamente pior que o produzido por décadas pelas emissoras de TV que concentravam as verbas publicitárias. No fundo, é tudo uma porcaria só, com a diferença de que agora tem mais gente produzindo as mesmas porcarias, milhões de pessoas com suas câmeras digitais e smartphones, e meia-dúzia, por alguma razão, faz muito sucesso e enriquece. Antes, quem enriquecia eram os donos das emissoras de TV, também eles uma meia-dúzia. Sendo assim, é preferível ver a molecada saída do zero ganhando dinheiro com suas bobagens do que saber que os magnatas históricos de sempre etão se tornando cada vez mais milionários.

Eu tenho a impressão — só impressão, vejam — que esses sucessos monumentais fazem pouco mais para uma empresa anunciante do que apresentar números gigantescos a elas e satisfazer seus marqueteiros. Nada garante que a audiência consuma os produtos que eles mostram, mas também nada garantia que a Nestlé venderia mais leite condensado se colocasse uma anúncio na novela das oito. Imagino que as grandes corporações tenham pessoas preparadas para analisar esses dados e o resultado das ações que patrocinam. Que sejam todos felizes.

Só que daí a pescar em vídeos pueris do YouTube dois caras para participarem do “Top Gear” vai uma certa distância. Repito: posso estar errado e eles se tornarem um sucesso milagroso. Mas lembremo-nos que Jeremy Clarkson, James May e Richard Hammond não saíram dessa plataforma em que todo mundo se acha engraçado e acredita que o mundo se interessa pelo que fazem e pensam. Seu talento é de outra natureza. Bem maior, inclusive. E anterior ao YouTube.

FAZENDO JUSTIÇA…

Creio que ao citar os “youtubers” que mais fazem sucesso no Brasil eu tenha cometido injustiças ao chamar todos de “merda”. Não são. PC Siqueira, por exemplo, foi atirado na vala comum sem fazer parte dela. Jout Jout também. Por isso tirei seus nomes da lista e peço desculpas. Como disse, tem muita coisa boa na internet, também — embora as piores sejam as mais vistas.