Blog do Flavio Gomes
F-1

CONTO CHINÊS (3)

SÃO PAULO (NVTG) – Três corridas, o mesmo vencedor em todas. Sinal de que as coisas vão mal? Necas de pitibiriba. (Julgo ser gentil de minha parte explicar a expressão “necas de pitibiriba”. Mas como é madrugada e estou com muito sono, não vou.) Na verdade, três ótimas corridas até aqui na temporada, em que […]

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SÃO PAULO (NVTG) – Três corridas, o mesmo vencedor em todas. Sinal de que as coisas vão mal?

Necas de pitibiriba.

(Julgo ser gentil de minha parte explicar a expressão “necas de pitibiriba”. Mas como é madrugada e estou com muito sono, não vou.)

Na verdade, três ótimas corridas até aqui na temporada, em que pese o domínio de Rosberguinho, o incrível Rosberguinho, agora empilhando seis vitórias seguidas – as últimas três de 2015 e, agora, 100% de aproveitamento em 2016.

E onde estava Hamilton, quando mais precisavam dele os que acham Nico-Nico no Fubá um loiro aguado sem graça que não merece ser campeão?

[bannergoogle] Às voltas com os problemas de seu carro e com os próprios. Largou em último depois da quebra do MGH-do-B no sábado, bateu em Nasr, perdeu o bico, parou nos boxes cinco vezes – uma delas para dar apenas uma volta com supermacios, uma coisa muito esquisita – e nas últimas voltas chegou, sim, a brigar até pelo quarto lugar. Mas terminou em sétimo, com seu carro se arrastando para os padrões mercêdicos que conhecemos.

E o GP da China teve polêmica, também, o que é sempre garantia de diversão quando os microfones estão abertos. Logo na largada, Vettel deu uma brecha na curva 1 e Kvyat colocou o carro por dentro para ganhar a posição. Havia espaço de sobra. Tanto que passou. Mas Tião Italiano se assustou. “Oh!”, exclamou. E jogou o carro para a esquerda abruptamente, com medo de bater.

Resultado: acertou o pobre diabo de Kimi Dera Ele Tivesse Ficado Na Red Bull, que rodou e caiu para último. Ambos ficaram com pedaços de seus carros quebrados. Mas ambos se recuperaram divinamente na corrida. Vettel foi ao pódio em segundo, depois de passar todo mundo um monte de vezes, e Raikkonen terminou em quinto, guiando com a precisão e frieza de sempre para se recuperar do toque caseiro na primeira curva.

Pelo rádio, desde o início da prova, Sebastian culpou Kvyat. Quando recebeu a bandeirada, falou para a equipe, ainda no carro: “Mil desculpas ao time e a Kimi. Kvyat veio para cima de mim como um torpedo”. Ouviu um cri-cri-cri do outro lado, porque àquela altura todo mundo tinha visto o tape e percebido que o jovem soviético não fizera nada de errado.

Aí os dois chegaram na salinha pré-pódio. Kvyat sorria um sorriso que começava em Moscou, fazia a curva em Leningrado e terminava em Vladivostok. Vettel, semblante amarrado, foi a ele e reclamou. “Você veio pra cima de mim como um torpedo, a gente podia ter batido”, resmungou. “Eu estava só correndo, e (inaudível, parecia escuta pirata do Moro)…”, e o alemão continuou, “podia ter batido”, e o russo, “mas não bateu”, e a esta altura creio que Vettel está mandando mensagem para Kvyat se desculpando pelo chilique. “Foi uma manobra arriscada, mas esse é o tipo de coisa que pode te levar a um pódio. Vou continuar arriscando. Todos esperam isso de mim”, encerrou o assunto Daniil.

Que foi, mesmo, um dos nomes da prova com seu terceiro lugar e o 120º pódio da história da Red Bull. Prova que teve de novo um safety-car após os esfrega-esfregas da largada – entre os dois ferraristas, entre Grojã e Sonyericsson, entre Hamilton e Nasr. Mas a entrada do Mercedão com sirene só aconteceu na volta 4, depois que Ricciardo teve um pneu estourado. Tinha muito pedaço de carro espalhado pela pista, que precisava de uma faxina.

Deu dó do sorridente australiano. Ele largara – aí sim – como um torpedo, passando o pole Rosberguinho e assumindo a ponta. O pneu foi para o saco na volta 3. Estava perto dos boxes, foi perdendo posições, e depois ainda deu o azar de quase todo mundo fazer um pit stop durante o safety-car, enquanto ele teve de parar com a corrida em andamento normal.

Bem, alguns não pararam, como o já líder Rosberg. E a tabela de classificação apontava algumas bizarrices como Alonso em terceiro e Wehrlein em quarto. Uia. O segundo era Massa. Nenhum desses tinha passado pelos boxes, ainda.

[bannergoogle] Na relargada, a turma de pneu novo veio jantando lá de trás e na 15ª volta Vettel já estava todo pimpão em quarto. Hamilton, remando contra a maré, era o décimo. Ninguém mais se arriscava com pneus supermacios. Os macios e médios vinham sendo as escolhas mais eficientes.

Ah, nesse momento de pit stops frenéticos com safety-car aconteceu algo engraçado. Hülkenberg vinha entrando nos boxes com um Toro Rosso atrás. Vettel chegou junto. Os dois estavam muito lerdos e Sebastian passou ambos pela grama e os mandou à merda. Seria punido? Achei que sim. Mas não. Os comissários analisaram a fita e concluíram que Hulk estava desnecessariamente lento. E sabem por quê? Porque Pérez estava trocando pneus e ele quis segurar os outros até chegar sua vez. Tomou na tarraqueta: 5s de punição. Vettel saiu ileso.

E era um tal de para-e-volta, com quase todos optando mesmo por três pit stops e um último stint de médios para garantir. Hamilton chegou a andar em terceiro, mas não segurou a onda com sua adoração pelos boxes chineses – foram cinco visitas no total, só para lembrar.

Posições se alternavam o tempo todo (vejam o volta a volta acima), e na reta final da prova as disputas na frente – Rosberg à parte – eram um bálsamo para quem gosta de ultrapassagens difíceis e movimentos imprevisíveis. Na volta 40, o pódio estava definido com Nico, Tião e K-Vyado. Massa vinha em quarto com Bottas em quinto e Hamilton em sexto. O inglês passou o finlandês e partiu para cima do brasileiro.

Aí, de repente, chega Ricardão para a festa e atropela Lewis. Estávamos na volta 43. Na seguinte, o australiano nem tomou conhecimento de Massacrado e foi embora. Então, Hamilton esfregou as mãos e disse: “Esse aí é meu, te quero, vou te engolir inteiro!”. Só que passou uma volta, e nada. Outra, e nada. Mais uma, na 47ª, e quem passou foi Raikkonen, que aproveitou e levou Felipe I junto, assumindo o quinto lugar.

Massa ficou em sexto e Hamilton terminou em sétimo. Verstappinho, Sainz Idade e Sapattos completaram a zona de pontos.

“Este foi, provavelmente, o carro mais equilibradao que tive na vida”, exultou o platinado líder do campeonato. Com seus 75 pontos, abriu um monte para Hamilton, que tem 39. Ricciardo (36), Vettel (33), Raikkonen (28) e Massa (22) vêm a seguir.

Está num momento muito melhor. E ainda conta com os infortúnios que afligem Lewis. Se tem um ano para ser
campeão, é este.

FRASE DO DIA
“É, mas não batemos.”
Kvyat, quando Vettel disse a ele que poderiam ter batido na primeira curva