Blog do Flavio Gomes
F-1

SÓ CHI FOR AGORA (4)

SÃO PAULO (como aqui) – Domingo de sol, céu azul, temperatura baixa, 16 graus. E uma corridinha pela frente. Com perspectivas, assuma-se, pouco otimistas de um espetáculo inesquecível. Afinal, Rosberguinho estava na pole com oito carros entre o seu e o do único que poderia ameaçá-lo, o parça Lewis Hamilton. O inglês teve problemas de […]

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SÃO PAULO (como aqui) – Domingo de sol, céu azul, temperatura baixa, 16 graus. E uma corridinha pela frente.

Com perspectivas, assuma-se, pouco otimistas de um espetáculo inesquecível. Afinal, Rosberguinho estava na pole com oito carros entre o seu e o do único que poderia ameaçá-lo, o parça Lewis Hamilton.

O inglês teve problemas de motor ontem, vocês se lembram. Não precisaram trocar nada que resultasse em punição, então largou em décimo, mesmo, por não ter feito tempo no Q3.

E até que as coisas começaram bem para ele. A largada foi meio tumultuada, graças a Kvyat. O rubro-taurino passou do ponto. Primeiro, na freada da primeira curva, deu um totó em Vettel, que tentava se colocar entre os primeiros — seu companheiro Raikkonen já tinha passado Bottas e estava em segundo.

A primeira faz tchan, a segunda faz tchun. O toque entortou Tião Italiano. Na curva seguinte, com o carro meio esquisito, ele deu uma tiradinha de pé, de leve. O bastante para Kvyat bater de novo, e aí Vettel foi parar na barreira de pneus, cuspindo marimbondos, puto como raras vezes se viu — para voltar mais rápido aos boxes, ele chegou até a dirigir a lambreta do comissário, que foi na garupa.

Depois,Tião Italiano foi se queixar com Christian Horner, ex-chefe. “Quem esse merdinha pensa que é?”, perguntou. “Amigo do Putin, melhor ficar na sua”, escutou. Foi embora na dele.

Bem, o safety-car entrou nessa hora, porque deu merda lá atrás também, com Gutierros se enroscando em Hülkenberg e Haryanto. Nessa zona toda, como eu dizia, as coisas ficaram legais para Hamilton, que fechou a primeira volta em quinto. Massa era o quarto. E Alonso, vejam só, o sétimo.

Lá na frente, Nico-Nico no Fubá. E aqui se faça justiça ao alemãozinho, que venceu de ponta a ponta depois de largar na pole e registrar a melhor volta da corrida. A isso aí se chama “Grand Chelem”. Não sei o que é “Chelem”, nem “Slam”, mas isso não importa. Apenas 24 pilotos conseguiram isso na história. Dos que estão em atividade, Vettel (quatro vezes, Índia/2011, Japão/2012, Cingapura e Coreia do Sul/2013), Hamilton (duas, Malásia/2014 e Itália/2015) e Alonso (uma, Cingapura/2010) fizeram o mesmo. Dos brasileiros, só Senna (quatro vezes ) e Piquet (três). O maior “grand-chelemedor” de todos os tempos foi Jim Clark, com oito dessas.

E ganhar as quatro primeiras do ano é coisa de gente grande. Toda vez que isso aconteceu, o sujeito foi campeão. Foi assim com Mansell em 1992, com Senna em 1991, com Schumacher em 1994 e 2004. E no caso de Rosberguinho, somem-se a essas quatro as últimas três do ano passado, perfazendo sete seguidas — façanha restrita a Ascari (entre 1952 e 1953), Schumacher (em 2004) e Vettel (em 2013, mas este chegou a nove, recorde atual na modalidade “vitórias consecutivas”).

[bannergoogle] Isso quer dizer que Rosberguinho já é o campeão? Bem, ele tem 100 pontos, contra 57 do Comandante Amilton, que no fim das contas fez uma corrida decente hoje em Sóchi e terminou o GP da Rússia em segundo. São 43 de vantagem em apenas quatro GPs. O problema é que ainda faltam 17. É uma temporada longa. Dá para reagir? Dá. O vento vai soprar o ano todo nas velas de Rosberg? Não. Hamilton vai pirar? Não sei.

Tempo, há. Mas a cada corrida que passa, a cada atuação impecável, as coisas parecem mais rosberguianas do que hamiltonianas em 2016. Nico chegou a 18 vitórias na carreira, com a de hoje. Tendo levado aparentemente apenas um susto: entre as voltas 30 e 36, Lewis reduziu de 12s2 para 7s7 a vantagem do tedesco platinado na ponta. O que estava acontecendo?

Nada.

Tráfego, uma coceirinha no nariz, um aceno para a multidão, qualquer coisa pode ter tirado um segundinho aqui, meio ali, oito décimos acolá. Avisado pelo rádio, provavelmente, Nico se concentrou no que tinha de fazer e acabou recebendo a bandeirada 25s022 à frente do britânico. “Vai ter briga!”, torceu Galvón na transmissión. Não, não ia ter.

Bem, estávamos no safety-car da primeira volta. A relargada aconteceu na quarta, e imediatamente Sapattos recuperou a posição de Kimi Dera a Vodca Estivesse Gelada. Hamilton também não perdeu tempo. Passou Massa e, na sétima volta, atropelou Raikkonen e se colocou em terceiro. Enquanto isso, Kvyat pagava um stop & go de 10s pela presepada com Vettel. E Gutiérrez, um drive-through pela presepada com os caras do fundão. Punições aplicadas, vamos em frente — teve mais duas depois, pouco importantes: Sainz Jr. jogando Palmer para fora da pista, 10s; Nasr ultrapassando o leito carroçável do circuito, 5s.

No pelotão do meio é que estava a corrida, com Renault, Force India, McLaren e Haas brigando pelas posições intermediárias. As paradas nos boxes, pit stop único para quase todos numa pista que não gasta pneus, começaram com Bottas na volta 17. A estratégia era padrão: largar com supermacios e trocar para macios. Quem fez diferente não se deu bem — Ricciardo, por exemplo, que arriscou com médios, ficou tão lento que teve de parar de novo e terminou em 11º.

Hamilton parou na 18ª e saiu muito perto do finlandês da Williams, que se mantinha em segundo com alguma segurança. Na volta seguinte, passou. Raikkonen foi na 21ª. Saiu na frente de Bottas. Nico parou na 22ª. Tudo tranquilo, voltou em primeiro. Estava formado o pódio.

Daí até o fim, quase nada aconteceu entre os sete primeiros colocados, exceção feita à quebra de Verstappinho, que estava em sexto e fora o último a fazer pit stop. Todos espalhados, intervalos grandes de tempo entre todos, pouca ação. A disputa legal ficou para a turma que era puxada por Magnussen, o sétimo. Atrás dele, Grosjean, Pérez, Sainz Jr. e Button, num gás alucinante. Mas, na prática, sem tentativas agudas de ultrapassagem — o circuito soviético não é muito interessante, nesse sentido.

Na volta 40, o alarme falso da reação de Hamilton foi desligado. A diferença para Rosberg já subira novamente para 12s7. Na briga de foice do trenzinho puxado por Magnólia Arrependida, na primeira boa corrida da Renô nesta temporada, o único que conseguiu algo foi Bonitton, ao passar Sainz Idade na volta 50 para entrar nos pontos.

E assim foram até o fim os dez primeiros, Robserguinho, Comandante Amilton, Kimi Traz a Vodca?, Sapattos, Massacrado, El Fodón de los Pontóns, Magnólia, Grojã, Maria do Bairro e Bonitton, todos eles merecedores de aplausos.

Vladimir Putin entregou os troféus no pódio, virou as costas e foi embora. Antes, num papo estranho com Raikkonen, prometeu a ele um fornecimento vitalício de birita, arrancando do ferrarista um raro sorriso. Kimi, aliás, é o terceiro colocado no campeonato, com 43 pontos — dez à frente de Vettel, que tem tido muitos problemas neste ano. O grande barato dessa tabela é Grosjean em sétimo, com 22 pontos. Como foi um grande barato ver a McLaren com os dois nos pontos de novo, Alonso tendo feito uma corrida bem honesta.

Mais uma vez, só hino alemão no pódio, abreviando a cerimônia. Aliás, já são 30 GPs seguidos com “Das Lied der Deutschen” nos alto-falantes — quando não é para Rosberg, é para a Mercedes, ou Vettel. A última prova sem über alles pra galera da salsicha e da cerveja foi o GP da Bélgica de 2014, vencido pelo australiano Daniel Ricciardo da austríaca Red Bull.

Que importância tem isso?

Nenhuma.