Blog do Flavio Gomes
Grande Prêmio

GRACIAS TOTALES

Por TALES TORRAGA* Rato, Desculpa a demora. Não sabia o que escrever. Sigo sem saber. Foda-se. Não vou escrever sobre o lugar. Lugares me importam um caralho, você sabe. Vou escrever com palavrão. Homenagem a você. Não os falo mais. Quase não falo mais. Quer que eu escreva da salinha? Gesso, carpete e tinta. Só. […]

Por TALES TORRAGA*

Rato,

Desculpa a demora. Não sabia o que escrever. Sigo sem saber. Foda-se.

Não vou escrever sobre o lugar. Lugares me importam um caralho, você sabe.

Vou escrever com palavrão. Homenagem a você. Não os falo mais.

Quase não falo mais.

Quer que eu escreva da salinha? Gesso, carpete e tinta. Só.

Nossa história é do caralho, Anão. Fodida mesmo. Sei lá se é boa ou ruim, só sei que merece mais que um texto único. Talvez um livro. Pouquíssimos, põe poucos nisso, começaram a trabalhar descobertos e lapidados pelo ídolo.

Merece um livro. Não por mim ou por você. Pela generosidade. Só ela explica você parar qualquer coisa e cuidar de um caipira de 15 anos cuja habilidade única era lembrar a marca da luva do Pace em 1973 ou o acerto de câmbio do Hill em Adelaide 1994.

Alienado da porra, um puta retardado.

Treina com os profissionais, faz pré-temporada, amistoso, joga contra o time pequeno.

Os 19 anos me jogaram na cara a camisa 5.

Você, Pelé para mim, com a 10, Everaldo, um Didi, com a 8. Um fenômeno, El Cabezón.

11 de junho de 1996, te visitei pela primeira vez, catei o trem, 27 estações até chegar, metrô Brigadeiro, 27, Senna e Villeneuve. Deu certo, pensei. A gente não pensa só bobagem.

1997, andei à noitinha 6 km da República até você, sem um puto, não tinha nem pra voltar pra Mogi, nem RG eu tinha, jogava xadrez apostando grana com os velhinhos, eles me zeravam e eu saía na mão e apanhava de bengala, você, mijando de rir, me dava o cinzeirão cheio de moeda, “Pega tudo, vê se come, estuda final em vez de brigar.”

1998, sem avisar un huevo, “Toma, é teu”, me entregou o livro do Boy George. “Estava em Londres, lembrei de você, comprei”. Li em dois dias. Nem fui pra escola.

Quando quiser entender por que mudo tanto, taí a razão. Karma Chameleon. Boy George e Bobby Fischer. Camaleão e doidão. Así fue. Jajaja.

1999, começamos o site, você soube que eu tava sem geladeira, me deu cheque em branco, “Compra lá, para de beber, sua mãe está preocupada”, ela te ligava sem eu saber, sigo sem saber o que falavam, e se não sei é melhor não saber.

2000, escrevi besteira qualquer, estava na Paulista, você na Alemanha, sábado da primeira vitória do Barrichello, caguei numa estatística, sabia que os italianos e suecos liam a gente e publicavam nossas efemerdas, te liguei com o cu piscando, os caras já tinham fechado, “Relaxa, valeu avisar, falo com eles, cheque nas próximas.”

Esporro é para os fracos.

2003, quis sair, tinha 22 anos, não sabia o que estava fazendo, sigo sem saber, você me acompanhou até o elevador para se despedir, quase chorando, não dei bola, idiota e insensível, falei qualquer besteira, é sempre melhor ficar quieto, e a gente depois se viu vez ou outra, dois caras livres sem se encher, segui juntando letrinha, você também, no fundo o que a gente faz é um punhado de papel com tinta.

Hoje, nem papel nem tinta. Irrelevância total. O mundo está explodindo e a gente está apertando o botão.

Aprendi no 807 que era outro tempo e as pessoas teclavam menos e se viam mais, aprendi que a gente era mais gente, eu não parava de abrir a porta, abraçar e pedir um café para o Fábio Seixas, cara que adoro, você sabe, para o Cândido Garcia, para o Reginaldo Leme, para o Edgard Mello Filho, para o Claudio Carsughi, para o Téo José e para o Francisco Santos (!), digo que aprendi que abrir a porta, abraçar e servir café é muito mais importante que o pneu do Trulli ou a asa do Schumacher.

Apegou, aprisionou, Enano.

Gracias TOTALES y siempre, loco. Te quiero.

* Tales Torraga criou o Grande Prêmio.