Blog do Flavio Gomes
F-1

NA MANHA N’ALEMANHA (1)

SÃO PAULO (preocupante) – Não sei se consigo fotos, mas se conseguir vocês saberão porque elas estarão aqui. (Consegui. Peguei uns frames que o Grande Prêmio publicou durante a transmissão dos treinos livres. Dá para ter uma noção.) Vou dizer o que mais me chamou a atenção no primeiro dia de atividades do GP da […]


SÃO PAULO (preocupante) – Não sei se consigo fotos, mas se conseguir vocês saberão porque elas estarão aqui.

(Consegui. Peguei uns frames que o Grande Prêmio publicou durante a transmissão dos treinos livres. Dá para ter uma noção.)

Vou dizer o que mais me chamou a atenção no primeiro dia de atividades do GP da Alemanha, agora há pouco em Hockenheim. O vazio. O vazio me chamou a atenção. O vazio onde deveria haver gente.

Pode ser que não tenha reparado no passado, mas acho difícil, porque noto essas coisas. Assim, assumo que pela primeira vez ao menos uma seção inteira das monumentais arquibancadas do Estádio, trecho histórico e emocionante para quem gosta e conhece a história da F-1, será usada neste fim de semana como outdoor. No caso, de uma marca de relógios. No caso, Rolex. No caso, como se faz há tempos, desde sempre, suponho, no gigantesco e sem sentido autódromo de Xangai, na China — há arquibancadas inteiras lá, enormes, cobertas por lonas com inscrições incompreensíveis.

Foto enviada pelo blogueiro Fernando

Fechar um pedaço do Estádio é a derrota definitiva de uma categoria que precisa, urgentemente, rever um monte de coisa para chamar as pessoas de volta. Sem público, um esporte como esse não se sustenta. É diferente, sei lá, do judô, ou da natação. Essas modalidades podem ser praticadas para ginásios e piscinas vazios, porque seus custos não chegam nem perto do que gasta uma única equipe em um único dia de competição. Há muitos esportes, a maioria, eu diria, que sobrevivem sem a necessidade de atrair multidões. Em grandes competições, como Mundiais e Olimpíadas, aparecem os torcedores e todo mundo fica contente. Ainda assim, depende do esporte. Arco e flecha jamais vai encher uma arquibancada. Iatismo, também não. Nem maratona aquática. É assim, sem juízo de valor nenhum sobre cada um deles.

[bannergoogle]Mas a F-1, não tem jeito. Ou junta gente para ver, ou acaba. Porque ela depende de patrocinadores fortes e perdulários, que só irão gastar seus cobres se tiver gente pacas olhando suas marcas expostas. Nos autódromos e na TV. Quando há pouca gente num autódromo, significa que menos gente do lado de fora, na TV, está se interessando. A relação é direta. Eu, se estivesse depositando dinheiro num time hoje, desconfiaria dos resultados se olhasse para o Estádio nesta sexta-feira de Hockenheim.

Ah, mas é só sexta-feira, dirão. Verdade. Em geral, às sextas os autódromos não ficam cheios, exceções feitas a Canadá, Monza e ou ou outro mais. Aliás, a F-1 talvez seja a única modalidade no planeta que cobra ingresso para ver neguinho treinar, para passar um dia inteiro vendo carro andando sem valer nada. E tem gente que paga, porque corrida de F-1 não é todo dia, os carros são bonitos e barulhentos, as pessoas pagam, sim, para ver, apenas.

(Mentira, agora corrida é quase todo dia, um calendário de 21 etapas banaliza todas, e os carros não são mais nem bonitos, nem barulhentos.)

Só que aos sábados, também estão sobrando lugares. E aos domingos. No caso específico de Hockenheim, se estenderam lonas verdes gigantescas com Rolex em amarelo em trechos grandes das arquibancadas, é porque ali não haverá ninguém. Nem amanhã, nem domingo. E eu vi, com estes olhos azuis que a terra há de pedir que sejam colocados num pote como bolas de gude, aquela porra cheia até a tampa de quinta, sexta, sábado e domingo. E não faz tanto tempo assim, na escala de evolução da humanidade. Uns 15 anos, no máximo.

O crescente desinteresse por carros e corridas, especialmente entre os mais jovens, é visível a olho nu. Qualquer pesquisa chegará a essa conclusão. Não tenho números, nem base científica, mas no olhômetro (usei também o chutômetro) posso especular que de uns anos a esta data — de novo, uns 15 — coisa em torno de 40% do público de F-1 se extinguiu. São pessoas que ou morreram, ou começaram a meditar, ou viraram veganos, ou passaram a andar de bicicleta, ou não conseguiram pagar o IPVA, ou tiveram suas carteiras cassadas, ou abriram pousadas em São Miguel do Gostoso e na Pipa, ou estão fazendo pilates.

[bannergoogle]Somos sobreviventes teimosos, nós que insistimos nesse negócio, porque gostamos dele e somos, por definição, contestadores e politicamente incorretos — qualquer um que não se incomoda com gasolina, borracha e dinheiro sendo queimados sem objetivo nenhum, sem nenhuma responsabilidade fiscal ou ambiental, sem sentido algum, é, hoje, um transgressor da nova moral e dos novos bons costumes. Não sei como, juro, a F-1 se mantém de pé torrando tanta grana para gerar não mais do que indiferença no povão. Não sei como, nem até quando.

Bom, à pista. Primeiro dia normal, com Rosberguinho fazendo P1 nas duas sessões. Na vespertina, virou 1min15s614 e colocou respeitáveis 0s394 sobre Hamilton, o segundo. Vettel, em terceiro, ficou a 0s594. Verstappinho, Ricardão e Raikkonen fecharam os seis previsíveis primeiros. Button em oitavo e Alonso em décimo selam de vez uma certeza: a McLaren voltou a ser uma equipe, deu um belo salto do ano passado para cá, e seus horizontes se abriram de vez.

Massa foi o 15º, a 2s072 do líder. Péssimo. Bottas ficou em 13º a 1s811 do platinado alemão mercêdico. Nasr terminou em último, a 3s681 do melhor tempo da tarde. Péssimo. Ericsson ficou em 18º, a 2s516. Não é um ano bom para os brasileiros. Muito pelo contrário.

A grande atração do fim de semana é saber se Nico-Nico no Fubá reage. Se não reagir agora, já era.