Blog do Flavio Gomes
F-1

BURTI, 15

SÃO PAULO (escapou) – Nos lembra o Renan do Couto que hoje faz 15 anos do acidente que encerrou a passagem de Luciano Burti pela Fórmula 1. Foi em Spa, em 2 de setembro de 2001, depois de uma disputa com Eddie Irvine. Burti, então piloto da Prost, foi direto na barreira de pneus. O […]

SÃO PAULO (escapou) – Nos lembra o Renan do Couto que hoje faz 15 anos do acidente que encerrou a passagem de Luciano Burti pela Fórmula 1. Foi em Spa, em 2 de setembro de 2001, depois de uma disputa com Eddie Irvine. Burti, então piloto da Prost, foi direto na barreira de pneus. O acidente está no vídeo abaixo a partir dos 10 minutos.

Eu estava nessa corrida, trabalhando para o site, meus jornais e para a antiga Jovem Pan. Burti correu risco de morrer. A pancada foi muito violenta. Felizmente, nada aconteceu de mais sério.

Lembro que no dia seguinte, quando a maioria dos jornalistas brasileiros se mandou para outros destinos ao saber que estava tudo bem com o piloto, acabei indo a Liège, onde estava internado.

Parei o carro — um Audi TT, dei sorte na locadora — no estacionamento do hospital, um prédio moderno, de concreto aparente e muito envidraçado, todo aberto. Fui entrando. Não perguntei nada a ninguém e, quando vi estava no quarto de Luciano, que estava sozinho e inteiramente grogue — se alguém da equipe foi lá naquele dia, não vi; seus familiares ainda não tinham chegado do Brasil.

Quando me viu, Burti aparentemente me reconheceu. Ficou agitado, falou algumas coisas desconexas, pediu água. Eu dei. Não tinha uma enfermeira por perto, sequer, mas é que não precisava, mesmo. Ele tinha sido medicado na noite anterior, foi submetido a exames, nada de mais grave tinha acontecido, passava pelo que se chama de período de observação. O que tinha eram muitos hematomas no rosto, tudo roxo e machucado. Na época, não se usava o Hans. O desenho da viseira do capacete estava estampado em torno de seus olhos. Estava bem feio. Bem mesmo. Impressionava, inclusive.

Fiquei alguns minutos no quarto. Perguntei se estava bem, se precisava de algo, disse que seus pais estavam chegando, mas desconfio que ele não entendia nada do que eu estava falando. Continuava dizendo um monte de coisas sem muito sentido, mas depois de tomar um pouco d’água se acalmou e adormeceu. Peguei minha mochila e saí para tomar um pouco de ar.

Lá fora, vi que estavam chegando os parentes e o assessor de imprensa brasileiro dele, naquela hora. Todos, claro, preocupados, esbaforidos, tensos. Rapidamente, expliquei que estava tudo bem, indiquei o quarto, tentei tranquilizá-los. Me perguntaram onde estava o pessoal da Globo (“Sei lá”, respondi) e, preocupados, se eu tinha tirado alguma foto do rosto dele.

Fiquei quase ofendido com a pergunta. Evidente que não, respondi. Vim apenas ver como ele está, e como está bem, vou embora. Cuidem dele, encerrei, entrei no carro e fui para Frankfurt pegar meu avião. Jornalisticamente, não havia mais necessidade de permanecer na Bélgica, e o assessor iria tocar o noticiário dali em diante com boletins médicos oficiais e tudo mais.

Burti não voltaria à F-1 como piloto titular, mas seguiria na carreira como “test-driver” da Ferrari em 2002, “empurrado” pelo amigo Barrichello. Depois, voltaria ao Brasil para correr na Stock, onde está até hoje, e para ser comentarista da TV Globo. Onde está até hoje, também, traduzindo conversas de rádio e levando chibatadas do povo cada vez que fala que apareceu um macarrãozinho nos pneus.