Blog do Flavio Gomes
F-1

OH, ANA JÚLIA! (3)

SÃO PAULO (corrigido, Vettel também foi punido) – O que salvou o GP do México foi o final. Era uma corrida das mais sonolentas, até Vettel chegar em Verstappen em busca do terceiro lugar. Sebastian tinha desenhado sua prova no dia anterior, ao escolher os pneus macios no Q2 para largar com eles e esticar […]

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SÃO PAULO (corrigido, Vettel também foi punido)O que salvou o GP do México foi o final. Era uma corrida das mais sonolentas, até Vettel chegar em Verstappen em busca do terceiro lugar. Sebastian tinha desenhado sua prova no dia anterior, ao escolher os pneus macios no Q2 para largar com eles e esticar o primeiro stint até não ter borracha nem para apagar o cabeçalho escrito a lápis no caderno. Fez isso. Só parou na volta 32, pouco depois de assumir a liderança com os pit stops de todos que estavam à sua frente. Max tinha parado na volta 12 — largara com supermacios.

Era a volta 68 de 71 no Hermanos Rodríguez — que bocejava havia algum tempo. Tião Italiano usando pneus médios com 36 voltas de vida. Verstappinho com os mesmos médios, mas bem mais gastos: 56 voltas. Era natural que o alemão da Ferrari estivesse mais rápido. A aproximação começara cinco voltas antes, quando a diferença dele para o holandês era de 3s5.

[bannergoogle]Na 65ª, o cronômetro marcava 1s4 a favor de Max. Logo, logo Vettel poderia usar a asa móvel. E foi o que aconteceu. Apareceu enorme no espelhinho de Verstappen, que não se assustou — como de costume. Mas tentou trapacear — como de costume.

OK, pode ser que eu esteja sendo duro demais com Max. “Trapacear” talvez não seja exatamente o que ele faz. Dando uma tucanada no termo, o moço “defende sua posição utilizando-se de métodos pouco ortodoxos”. Quando não muda de direção na zona de frenagem — o que foi proibido –, corta caminho e fica esperando para ver no que dá.

Vettel armou o bote e o rubro-taurino não quis nem saber. Retardou a freada, foi para a grama, não contornou duas curvas, obviamente levou vantagem em relação ao adversário e recebeu a quadriculada, três voltas depois, em terceiro. Comemorou como se nada tivesse acontecido. Vettel, furioso, xingou de Guilherme, o Taciturno, a Seedorf — passando por Gullit e Van Basten. Isso depois de se defender, ainda, de Ricciardo — que, ao contrário do companheiro imberbe, é limpo na pista como se fosse uma donzela angelical, evitou a batida, mas ficou fulo com o ferrarista.

A direção de prova avisou que iria investigar a opção de Verstappen pelo atalho depois da corrida, assim como a defesa de Vettel diante de Ricciardo. Mas fazia-se necessária uma decisão rápida pelo menos no primeiro caso, porque Vettel já estava chegando, na lista de xingamentos, a Cruyff, Van Gogh e até à pobre Anne Frank. Na salinha pré-pódio, saiu o veredito: Max punido com 5s em seu tempo total de prova, o que significava que cairia de terceiro para quinto na classificação final. O outro caso levaria mais tempo para ser analisado.

Foram chamar Vettel nos boxes, que àquela altura já estava sendo considerado persona non grata pela Casa de Orange. O troféu seria dele. Max fez cara de bunda. Sem ligar muito para seu pequeno drama pessoal, Hamilton e Rosberg, primeiro e segundo colocados, trocaram breves palavras com o rapaz e foram cuidar de suas vidas. Foram responsáveis por mais uma dobradinha da Mercedes.

Dobradinha que não foi ameaçada em nenhum momento no domingo ensolarado na Cidade do México — com algumas nuvens no céu, é verdade, mas temperatura agradabilíssima de 21ºC, que considero a mais civilizada de todas. A largada foi um pouquinho perigosa para Hamilton, o pole, tanto que ele também teve de ir para a grama ao retardar a freada para a primeira curva. Explicou que um dos discos de freio de seu carro apresentou problemas, e que quando chegou ao final da enorme reta, quase foi parar em Cancún na hora de brecar.

Ninguém nem pensou em puni-lo, porém, o que irritou muito Verstappen. Eu, particularmente, compreendo a não-punição nesse caso. Lewis não estava se defendendo de ninguém em particular, era largada, e em largada pode quase tudo para não causar um “big one”. Além de tudo, tinha problemas nos freios. Apenas acho. Mas respeito quem pensa diferente. Se eu fosse Verstappen, por exemplo, ficaria puto, também. Por que um pode e o outro, não? É uma boa pergunta.

[bannergoogle]Rosberguinho igualmente teve trabalho para se defender de Max, e ambos chegaram a tocar rodas. Wehrlein, lá no meio, foi tocado por Gutiérrez, rodou e bateu. Entrou o safety-car para limpar a pista, e ele só sairia na quarta volta. Nesse período, o único piloto da moçada que estava na frente que resolveu trocar pneus foi Ricardão, colocando um jogo de médios e caindo para a 15ª posição. Deixaria de ser um personagem da prova até as voltas finais, quando chegou de volta ao pelotão dos líderes — mercêdicos à parte, claro.

Era corrida para uma parada só, se nada desse errado. Assim, Max parou na 12ª volta, Hamilton foi aos boxes na 17ª e Rosberg, na 21ª. Vettel levou seu carro do jeito que dava até a volta 32, retornou à pista em sexto e preparou a segunda metade da corrida com pneus mais novos que os demais.

Nada de muito sério aconteceu a partir daí durante bastante tempo. Hamilton tinha mais de 4s de vantagem para Rosberg, que por sua vez via Verstappen perto, quase sempre menos de 2s atrás, mas tinha a situação sob controle. Na volta 40, os seis primeiros eram Lewis, Nico, Max, Ricciardo, Raikkonen e Vettel. Desses, Kimi e Ricardão teriam de parar de novo, o que acabou acontecendo.

Foi só na 50ª volta que Verstappen deu uma ferroada em Rosberg, que devolveu com um “X” bem dado e resolveu acordar, cuidando de seu segundo lugar com um pouco mais de zelo — estava de ótimo tamanho, num fim de semana em que não conseguiu fazer frente a Hamilton em nenhum momento.

Verstappen ficou quieto em seu canto, da mesma forma, e só foi lembrar que havia outros pilotos desejando o mesmo que ele na volta 67, quando Vettel chegou e aconteceu tudo aquilo que contei lá no alto.

A gritaria de Sebastian foi escancarada pela transmissão da TV. O alemão mandou o diretor de prova se foder e exigiu que Verstappen lhe entregasse a posição. Max, por sua vez, disse que o alemão tem “de voltar para a escola” para aprender a não falar tanto palavrão. Levar uma escovada de um fedelho a essa altura da carreira deve ser dose…

Tem sido uma marca desta temporada o destempero de Vettel no rádio, embora neste caso ele estivesse com razão. No grito, levou o troféu que, no fundo, mereceu — foi eleito pelo amigo internauta “Piloto do Dia”, inclusive.

Mas ele não ficaria com a taça. Três horas depois, aquela manobra defensiva contra Ricciardo cobrou sua conta. Os comissários consideraram a mudança de direção de Vettel “anormal”, por ter sido feita na zona de frenagem. Eu, sinceramente, achei que não foi bem assim. Mas os caras devem ter visto o vídeo um milhão de vezes. E esse tipo de coisa está proibida. Então, sei lá. Meteram 10s no tempo final de prova de Sebastian e ele caiu para… quinto. Atrás de Verstappen. Quem herdou o terceiro lugar foi Ricciardo. Ufa.

Hamilton chegou a oito vitórias no ano e, o que é muito mais importante, a 51 na carreira. Igualou o tetracampeão mundial Alain Prost e hoje, nas estatísticas da F-1, só está atrás de Schumacher, com suas 91 vitórias.

Rosberg, com o segundo lugar, viu sua vantagem na classificação cair de 26 para 19 pontos. No panic. Faltam duas etapas, Brasil e Abu Dhabi, e ele sabe que não precisa mais vencer para ser campeão. Hamilton salvou o primeiro “match point”. Mas a diferença ainda é grande. A tarefa de Nico-Nico é marcar o companheiro de perto. Fez isso no México. Sai de lá tranquilo e falando espanhol, ainda — poliglota, Rosberg saudou o povo com vários “gracias” e “viva México”.

O trio que subiu ao pódio foi saudado por uma multidão entusiasmada no estádio. Corrigido, com as punições, a corrida teve nos pontos, pela ordem, Comandante Amilton, Rosberguinho, Ricardão, Verstappinho, Tião Italiano, Kimi Dera Uma Tequilla Agora, Incrível Hulk, Sapattos, Massacrado e Maria do Bairro. Force India e Williams seguem brigando pelo quarto lugar entre as equipes, e os primeiros abriram um pouquinho mais. Foram sete pontos para os force-índicos, contra seis para os meninos de Grove. O placar aponta 145 x 136 para a turma de Bombaim. É uma disputa que, do ponto de vista esportivo, não vale nada. Mas em termos de grana, tem um peso danado.

Enfim, foi um GP mais ou menos com um final legal. Tipo aqueles filmes que se arrastam insuportavelmente, até que nos últimos cinco minutos o vilão mata o mocinho, a namorada deste descobre que é apaixonada pela irmã daquele, o padre larga a batina e se casa com o pai-de-santo do terreiro de macumba em frente e um disco-voador pousa em Trafalgar Square e devolve John Lennon à Terra. Emoções concentradas em poucos minutos. Com prorrogação no tapetão. Foi assim este domingo mexicano. Melhor que nada.