Blog do Flavio Gomes
F-1

ENTRE OS LAGOS (14)

SÃO PAULO (acho que acaba amanhã, sei lá por quê) – Foi por pouco, mas pode significar muito. O décimo de segundo que Hamilton colocou em Rosberg agora há pouco em Interlagos lhe deu uma pole de razoável importância. A primeira dele aqui desde 2012. Aqui onde nunca venceu. Aqui onde largar na pole, em […]

bra16gSÃO PAULO (acho que acaba amanhã, sei lá por quê) – Foi por pouco, mas pode significar muito. O décimo de segundo que Hamilton colocou em Rosberg agora há pouco em Interlagos lhe deu uma pole de razoável importância. A primeira dele aqui desde 2012. Aqui onde nunca venceu. Aqui onde largar na pole, em 26 edições da corrida desde 1990 (quando o traçado foi modificado para o que é hoje), resultou em vitória 11 vezes — 42,3%.

Pausa para o momento memória. Ganharam o GP do Brasil neste “Interlagos pocket” a partir da pole os seguintes cidadãos: Senna (1991), Mansell (1992), Hill (1996), Villeneuve (1997), Hakkinen (1998 e 1999), Massa (2006 e 2008), Vettel (2013) e Rosberg (2014 e 2015).

Não é condição sine qua non para vencer na Pauliceia, pois, largar na primeira posição do grid. Mas na primeira fila, quase. Nove vezes o vencedor estava em segundo no grid, o que leva a uma taxa de 76,9% de sucesso para quem se classifica para as posições mais próximas ao semáforo.

(É preciso alguma ginástica verbal para não repetir “primeiro”, “segundo”, “grid” e “fila” no mesmo parágrafo.)

O vencedor de GP do Brasil — nesta configuração da pista, sempre é bom lembrar — que largou mais longe foi Fisichella, em 2003. Era o oitavo no grid. Mas é o tal ponto fora da curva. Naquele ano, a corrida foi uma zona. Tão bagunçada que Fisico só foi receber o troféu em Imola, semanas depois.

Esse alto índice de vitórias para quem parte na frente em Interlagos é mais ligado à relação de forças do momento do que, propriamente, a alguma dificuldade de se fazer uma ultrapassagem. Em Mônaco e na Hungria, por exemplo, é fundamental se classificar bem porque ninguém passa ninguém. Aqui, dá para passar. Basta enfiar o nariz no S do Senna. Ou na freada para o Lago. Ou, ainda, se alguém abrir mais do que deve no S antigo. Não é tão complicado.

Em Interlagos, como a volta é curta na quilometragem e no cronômetro, raramente se vê uma grande surpresa no grid. E mesmo no resultado final. Olhando a lista de vencedores desde 1990, eu elencaria como surpreendentes apenas as vitórias de Fisichella em 2003, Webber em 2009 e Coulthard em 2001. Em todas as demais, quem levou era favorito, ou pelo menos forte candidato — como Prost em 1990, que venceu apesar de se classificar mal, sexto no grid.

[bannergoogle]O gigantesco nariz de cera acima serve para embasar o palpite óbvio, que seria o mesmo se esta fosse a primeira corrida da história de Interlagos: vai dar dobradinha da Mercedes amanhã. A pergunta, igualmente óbvia, é: com qual dos dois na frente?

Se chegar Rosberg, é campeão. Se chegar Hamilton, o título fica para Abu Dhabi.

Prefiro ver o campeonato sendo decidido aqui. Não por patriotismo ou por ser brasileiro com muito orgulho e muito amor, mas porque acho a pista árabe uma bosta sem tamanho e quem for campeão lá vai ter de encher a cara escondido na comemoração. Interlagos, pela história que tem, é um palco mais apropriado para consagrar pilotos. De 2004, quando a prova foi deslocada para o fim do calendário, até o ano passado, seis vezes o campeão foi definido em São Paulo — metade das últimas 12 edições do GP brasileiro.

Pausa para um novo momento memória. Os títulos decididos aqui foram os de 2005 e 2006 (Alonso), 2007 (Raikkonen), 2008 (Hamilton), 2009 (Button) e 2012 (Vettel). Nos outros anos, os campeões festejaram em outras glebas. Em 2004, Schumacher conquistara o hepta quatro etapas antes do encerramento, na Bélgica. Vettel levou a taça de 2010 em Abu Dhabi e a de 2011 no Japão. Em 2013, o mesmo Vettel seria campeão na Índia. Hamilton, nas últimas duas temporadas, fechou a conta primeiro em Abu Dhabi, depois em Austin.

Voltando à vaca fria, a lógica para Interlagos amanhã é essa, os dois prateados sem muitas dificuldades em primeiro e segundo. Mas é claro que as condições climáticas podem mudar tudo. Não porque a Mercedes ande mal na chuva. Não tem a ver com desempenho. Tem a ver com o imponderável. No molhado, as chances de erro são maiores. De todo mundo. Aqui, ainda, há o charme extra de a chuva chegar de repente, molhar mais uma parte da pista, menos outra. Aguardemos.

A montagem do grid hoje acabou derrubando alguns prognósticos no segundo escalão. A Williams, que vinha andando bem em todos os treinos, conseguiu ficar fora do Q3. O vexame colocou Bottas em 11º e Massa em 13º. É a pior posição de largada do brasileiro em Interlagos. Justo na despedida. Conseguiu ser pior que em sua estreia na categoria, pela Sauber, em 2002. Naquela ocasião, Felipe foi o 12º no grid, um resultado bom, inclusive.

O Q1 foi normalíssimo, com a guilhotina decepando Button, Magnussen, Wehrlein, Ocon, Ericsson e Nasr. OK, Jenson poderia ter ido melhor. Mas, a exemplo de Massa, ligou o botão ao lado e está só esperando acabar o ano. Quanto a Felipe II, só não amargará o último lugar no grid porque Ocon foi punido por atrapalhar Palmer e perdeu três posições no grid. 

Nessa fase do treino, Hamilton e Rosberg ficaram na frente, 1min11s511 para o britânico, 1min11s815 para o tedesco. Mais ou menos perto deles, na mesma casa de 1min11s, apenas Verstappinho.

Curioso é que todo mundo se apressou bastante para fazer tempo, diante da possibilidade de chuva. Saíram rapidinho dos boxes, o que causou alguns transtornos com tráfego. Mas a água não veio. A pressa foi deixada de lado nas outras fases da classificação.

O Q2 repetiu a dupla mercêdica em primeiro e segundo, com Nico chegando um pouco mais perto do rival: 1min11s238 para Lewis, 1min11s373 para Rosberguinho. De novo o jovem Max foi o único a ficar por ali, de novo na casa de 1min11s, mas com um tempo ligeiramente pior que o que fizera no Q1: 1min11s834.

Os outros dois que pioraram em relação à primeira parte foram Raikkonen e Massa. Para o finlandês, problema nenhum. Estava lá na frente. Para Felipe, foi um desastre. Fizera 1min12s432 no Q1 e não passou de 1min12s521 no Q2. O resultado é o já sabido, tendo sido superado por quatro carros logo depois de fazer esse tempo, caindo de nono para 13º. Os outros decapitados foram Bottas (na foto abaixo, que achei lindíssima, de verdade), Gutiérrez, Kvyat, Sainz Jr. e Palmer.

Com a Williams fora do Q3, abriram-se vagas inesperadas, que acabaram preenchidas pela dupla da Force India — o time não vinha bem nos treinos livres. Hülkenberg e Pérez se juntaram às duplas cativas (de Mercedes, Red Bull e Ferrari) na decisão das melhores posições de largada, e levaram com eles o sempre aguerrido Alonso e o surpreendente Grosjean, da Haas.

No Q3, o duelo entre Hamilton e Rosberg foi até empolgante. Na primeira saída, o inglês virou um temporal de 1min10s860, 0s162 mais rápido que Nico. Mas, na segunda tentativa, o alemão começou baixando as parciais de Lewis, que também vinha em volta muito boa. No fim, não deu para ele. Hamilton conseguiu baixar ainda mais, para 1min10s736, contra um tempo também muito bom de Rosberguinho, 1min10s838. A diferença ficou em 0s102.

É o tal décimo de segundo que, amanhã, pode significar o adiamento da decisão do Mundial para as arábias.

Raikkonen foi o terceiro, a mui distantes 0s668 da pole. Depois dele vieram, fechando o top 10, Verstappen, Vettel, Ricciardo (anda meio apagado), Gorsjean (igualando o sétimo em Suzuka, melhor posição de seu time, um resultado espantoso), Hülkenberg, Pérez e Alonso.

No fim das contas, ficou todo mundo feliz. Hamilton, porque fez a 60ª pole da carreira e 11ª no ano. Com mais cinco, ele iguala Senna, o segundo maior poleman da história — Schumacher tem 68 e é quem lidera as estatísticas. Rosberg (na foto acima), porque sabe que tem um carro bom o bastante para fazer frente ao companheiro. “Quem faz a pole nem sempre vence“, falou. Continua jogando com o regulamento debaixo do braço e tem total noção do que precisa fazer para ser campeão. A Ferrari, porque conseguiu superar a Red Bull pelo menos com um carro, o de Kimi — e Vettel ficou apenas 0s001 atrás de Verstappen. E a Red Bull, justamente pelo milésimo que colocou Max em quarto, à frente de Tião Italiano.

Agora, é esperar pelo que vem amanhã. Acordar olhando para o céu e tentar adivinhar o que o tempo vai aprontar.