Blog do Flavio Gomes
FOX

AO MESTRE COM CARINHO

SÃO PAULO (vale tudo, no fim) – Era para ser apenas uma terça-feira em Interlagos, o que é sempre bom. A Fox fez um evento para clientes importantes e ofereceu a eles uma programação chamada “Um dia de piloto”, com o apoio do pessoal da Escola de Pilotagem Roberto Manzini. Claro que todos adoraram. Os […]

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SÃO PAULO (vale tudo, no fim) – Era para ser apenas uma terça-feira em Interlagos, o que é sempre bom. A Fox fez um evento para clientes importantes e ofereceu a eles uma programação chamada “Um dia de piloto”, com o apoio do pessoal da Escola de Pilotagem Roberto Manzini. Claro que todos adoraram. Os convidados tiveram aulas práticas e teóricas, andaram com instrutores, depois deram muitas voltas na histórica pista com um carrinho delicioso, um Volvo de corrida com uns 150 HP, pneus slick, tudo no lugar, uma graça. Tenho certeza que foi inesquecível para todos que participaram.

Aí nos chamaram para o evento. Thiago Alves, eu e Edgard Mello Filho. O trio que faz o “Fox Nitro”, programa semanal de automobilismo da casa.

Almoçamos, conversamos, trocamos impressões, foi ótimo.

Mas para este que vos bloga, foi especial num nível muito acima da média.

Como vocês sabem, sou metido a piloto de vez em quando, com meus carrinhos antigos que tanta alegria me trouxeram nos últimos 15 anos. Imagino que tenho mais ou menos a noção de como guiar um carro de corrida, e numa pista como Interlagos, mais ainda.

Só que hoje quem estava do meu lado era o Edgard.

[bannergoogle]Conheço o Mello, pessoalmente, desde 1989. Na época eu fazia F-1 para a “Folha” e ele, para a Rádio Bandeirantes. Fomos colegas de viagens por muitos anos, e depois a vida se encarregou de dar a cada um caminhos que, embora semelhantes, não se cruzaram tanto quanto gostaríamos. Um belo dia o Edgard virou administrador do autódromo, depois foi fazer TV, depois voltou ao rádio, nos encontramos em muitas coberturas, mas aquele sujeito, para mim, sempre foi mais do que um ídolo. Sempre foi um exemplo de retidão, picardia, talento, capacidade, atributos que eu jamais alcançaria em grau tão elevado.

Mello, para começo de conversa, foi campeão brasileiro de um monte de coisa. Começou a pilotar guiando um DKW do Crispim, outro mestre com quem divido meus dias atualmente aprendendo a cada palavra que ele diz. Passou por Opala, Maverick, Fiat, tudo que se pode imaginar. Depois virou jornalista, o melhor de todos. Suas narrações do DTM na TV Manchete, por exemplo, são históricas. Aulas. Verdadeiras aulas.

Impossível fugir do clichê, mas quis o destino que no ano passado a Fox contratasse o Edgard para nosso time, e a convivência foi retomada com a ternura de sempre. E hoje o cara estava ao meu lado num carro de corrida.

Primeiro, fui eu dirigindo. Apavorado, sabendo que nunca mais na vida levaria no banco do carona alguém que entendesse tanto do assunto quanto ele. Dei umas quatro ou cinco voltas. Não cometi nenhum erro crasso na primeira, o que foi aliviando a tensão aos poucos. Não olhei para o lado. Tinha medo de ver nos olhos do Egdard qualquer traço de… decepção. Sim, essa é a palavra. Eu apenas não queria decepcionar. Por isso fui de capacete fechado e Hans, para não olhar para o lado.

Descemos do carro e notei que ele sorria. Vai você agora, falei. E pulei para o outro banco.

Então, passei alguns minutos de um êxtase difícil de descrever. Fui saber, bem depois, que fazia 23 anos que ele não dirigia um carro de corrida em Interlagos. Foi só passar WD40, falou. Já desenferrujei.

Ah, Mello… O jeito de trocar as marchas, de segurar o volante, de frear no ponto certo, de encontrar o traçado perfeito, de atacar as curvas, de se irritar com um erro, de fazer o punta-taco, de vestir o automóvel, lamento, mas essas coisas ou o sujeito sabe, ou não sabe.

Eu achava que sabia. Hoje, percebi que o que ainda sei é me encantar. O que já está de bom tamanho.