Blog do Flavio Gomes
F-1

DEU NO PRAVDA (2)

SÃO PAULO (hoje deu) – Só para vocês terem uma ideia de como a pole de Vettel agora há pouco em Sóchi foi… foda. Não encontro outra palavra melhor. Me desculpem, mas “foda”, assim como “pra caralho”, é daquelas unidades de medida que só existem em português. Não se fala em inglês, por exemplo, “this […]

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SÃO PAULO (hoje deu) – Só para vocês terem uma ideia de como a pole de Vettel agora há pouco em Sóchi foi… foda. Não encontro outra palavra melhor. Me desculpem, mas “foda”, assim como “pra caralho”, é daquelas unidades de medida que só existem em português. Não se fala em inglês, por exemplo, “this pole was fuck”. Não. Mas se fala “essa pole foi foda”. Se quiser ampliar, para conferir à tal pole sua real dimensão, pode-se usar “essa pole foi foda pra caralho”, algo que não se diz em inglês (“this pole was fuck for dick” não faz sentido).

Foi foda porque vejam: desde 2014, quando foram introduzidos os novos motores híbridos na F-1 e a Mercedes estabeleceu seu domínio incontestável, tivemos 63 grids de largada, contando com o de hoje. Sabem quantas poles os alemães fizeram para esses 63 GPs? 59. Isso dá 93,65% das poles desde 2014, e dá para contar nos dedos e lembrar de cabeça aquelas que não ficaram em mãos prateadas: uma de Massa na Áustria em 2014, uma de Vettel em Cingapura/2015 e uma de Ricciardo em Mônaco no ano passado.

E, agora, Tião Italiano de novo, encerrando um jejum dele e da Ferrari de 30 corridas sem poles. A Mercedes, por sua vez, quebra uma sequência de 18 poles seguidas.

Mas os italianos têm mais motivos ainda para festejar. Kimi Raikkonen acordou! E ficou com o segundo lugar no grid, formando uma primeira fila vermelha pela primeira vez desde o GP da França de 2008, quando ele mesmo, Kimi, fez a pole e Massa ficou em segundo. De lá para cá, 127 GPs sem que dois carrinhos de Maranello aparecessem lado a lado na dianteira de um grid.

[bannergoogle]É para comemorar, mesmo. Vettel, agora com 47 poles no currículo, dominou os treinos desde sexta-feira numa pista onde só tinha dado Mercedes até hoje em quase tudo. O GP da Rússia entrou na calendário em 2014 e, desde então, nas suas três edições, poles, vitórias e todas as voltas haviam sido lideradas ou por Hamilton, ou por Rosberg. Para não dizer que não sobraram migalhas, OK: Vettel fez a melhor volta em 2015 com a Ferrari e Bottas, em 2014 com a Williams.

Este longo introito, pois, para concluir: a pole do alemão hoje foi foda.

“È stato un piacere questa macchina”, Vettel falou pelo rádio, sempre arrebentando no italiano — eu ia zoar dizendo que ele deve saber três ou quatro frases em italiano, mas seria, primeiro, maldade; segundo, mentira. De fato, o carro atual da Ferrari dá prazer de guiar, ou deve dar, nunca guiei, e de ver. Um bicho equilibrado, sólido, constante, que não engole pneu e não enlouquece seus pilotos. Sebastian virou 1min33s194 na sua melhor volta, a segunda tentativa no Q3, e se teve de suar sangue foi por causa de outra Ferrari, a do surpreendentemente desperto Raikkonen, que tinha feito 1min33s253 em sua primeira volta rápida — acabou não melhorando na segunda.

A diferença entre os companheiros de Ferrari foi de apenas 0s059, e a primeira derrota em grids imposta à Mercedes neste ano confirma o que na própria Mercedes se fala à boca pequena: os caras chegaram.

Chegaram e, arriscaria dizer eu, à boca grande, passaram. Em corrida, o ritmo dos italianos é muito bom e numa pista como a soviética, qualquer coisa que não seja uma vitória de um deles amanhã será uma estrondosa surpresa. Digo “um deles”, porque vai que Kimi leva um choque no rabo de manhã e acorda mais ainda, e pode até vencer. Acho difícil, é aposta para ganhar bastante dinheiro, mas pode acontecer.

E a Mercedes? Bom, para se ter uma ideia de como banana tá comendo macaco na equipe alemã, Bottas ficou na frente de Hamilton de novo. Lewis não se achou até agora em Sóchi, e foi muito mal na parte da classificação que importava. Na primeira volta, errou feio e ficou mais de 1s2 atrás de Kimi, que tinha o melhor tempo até ali. Na segunda, conseguiu melhorar um pouco mas fechou o cronômetro a uma mastodôntica distância de 0s573 para Vettel, enquanto o pacato Sapattos se colocava em terceiro no grid só 0s095 atrás do pole.

A gente adora uma crise, então vamos arrumar uma para Comandante Amilton. Ele dá, de fato, uma pirada quando começa a sentir a água batendo na bunda. Agora, além da Ferrari, ainda tem esse Bottas para encher o saco! Claro, é cedo, são apenas duas corridas atrás do finlandês, isso ainda não é um padrão, mas vai que Valtteri decide engrossar o caldo amanhã, com todo direito que tem… Ordens de equipe, teremos? Vamos ver. Muita coisa nesse GP vai ser condicionada pela largada, já que é corrida de apenas um pit stop, sem muitas variações táticas.

Os quatro primeiros no grid estão em outra categoria em relação aos demais. Riccardão, o quinto colocado, ficou a 1s711 da pole. No Q2, Massa, o quinto, terminou 1s785 atrás do mais rápido — no caso, Bottas. No Q1, Verstappen tinha sido o quinto, 1s211 mais lento do que o primeiro — Bottas de novo. É uma pena que a Red Bull e a Williams estejam encontrando tantas dificuldades para se aproximar. Mas, pelo menos, a briga neste ano envolve duas equipes diferentes. Deixou de ser um samba de uma nota só.

[bannergoogle]Massa foi o sexto, uma boa posição para o carro que tem. Ficar à frente de um Red Bull é louvável, e ele o fez. Verstappinho, que foi apagado no Bahrein e está igualmente opaco na Rússia, parte em sétimo. Depois, fechando o top-10, vieram o bom Hülkenberg da também boa Renault, e os bons Pérez e Ocon da também boa Force India. Todo mundo bom.

Depois vêm os não tão bons. Sainz Jr., Stroll, Kvyat, Magnussen e Alonso foram os eliminados no Q2. No Q1, ficaram pelo caminho Palmer, Vandoorne, Wehrlein, Ericsson e Grosjean.

Algumas palavrinhas sobre essa turma. Is Troll apanhou do carro de novo, quase rodou, mas deixou para amanhã. A Toro Rosso começou o fim de semana mal, melhorou e depois piorou de novo. Alonso, para variar, andou mais que o carro. Palmer é um desastre, um dos piores pilotos que já vi, e bateu sozinho no Q1 de uma forma plangente. Não Doorme vai largar em último porque já trocaram seu motor, seu MGU, seu IPVA, seu GPS, a porra toda, e perdeu 15 posições no grid. A Sauber encontrou seu lugar, o de pior equipe. E Grojã ficou em 20º porque a Haas resolveu trocar a marca do freio, de Brembo para Carbon Industries, não deu muito certo, voltou atrás, colocou Brembo de novo, e essas merdas não devem ser feitas num mesmo fim de semana de GP porque caga tudo. Disco na frente e tambor atrás, sai para assentar as pastilhas e soca o pé, é o que sempre digo. E cuide das lonas atrás.

Não espero uma prova muito bonita de se ver amanhã, porque o traçado é meio besta nesse sentido — as corridas na Rússia não foram grande coisa até hoje em suas três chances. Mas como a disputa Prata x Vermelho está boa, vale a pena conferir, como sempre. E aí vai meu pódio para nossas apostas informais: Kimi, Vettel e Bottas. Vocês?