Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE ONTEM DE MANHÃ

SÃO PAULO (por enquanto) – Bem, não há dúvidas de que as 500 Milhas ofuscaram Mônaco ontem, ao menos no coração deste que vos bloga. Então, pode ser que, aqui e ali, eu fale da Indy, de Alonso, de Sato, da Honda, do carro laranja #29. Pode ser. Talvez ao final do texto eu não […]

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Vettel, ajudado pela Ferrari: de vez em quando vai acontecer

SÃO PAULO (por enquanto) – Bem, não há dúvidas de que as 500 Milhas ofuscaram Mônaco ontem, ao menos no coração deste que vos bloga. Então, pode ser que, aqui e ali, eu fale da Indy, de Alonso, de Sato, da Honda, do carro laranja #29. Pode ser. Talvez ao final do texto eu não tenha tocado no assunto. Textos vão se escrevendo sozinhos. Vai saber.

Mônaco. O grande assunto do dia foi: a Ferrari favoreceu Vettel? Ou, em português bem claro e tosco: a Ferrari fodeu Raikkonen?

[bannergoogle]Eu não seria tão assertivo, como não fui ontem. Ninguém, na minha modesta opinião, quis deliberadamente estragar o domingo do finlandês. Que a estratégia de parar depois, numa pista que não gasta pneus, acabou se mostrando melhor, isso é fato. Mas ela só funcionaria se o interessado em questão, Vettel, cumprisse aquilo que seria necessário para ganhar a posição, a saber: enfiar uma série de voltas muito rápidas para descontar o tempo perdido atrás de Raikkonen.

Vettel fez isso, ganhou a corrida. Insisto que pilotos não são obrigados a fazer o que não querem. Se Kimi tivesse convicção de que com os ultramacios ainda poderia ficar mais um tempo na pista, poderia ter discutido isso com o time pelo rádio. Em geral, porém, pilotos fazem aquilo que lhes é pedido. Os caras nos boxes têm mais condições de avaliar cenários, orientar estratégias. É preciso confiar neles, como disse Raikkonen. Não funcionou muito bem, como se viu.

Por outro lado, diante de duas estratégias diferentes, quem ficaria com a melhor delas numa situação de campeonato como a que temos em 2017? Aquele que luta pelo título, claro. Não estou, aqui, passando o pano na Ferrari. Não gosto de favorecimentos, ainda mais quando eles podem tirar de alguém a chance de ganhar uma corrida. Ontem, ficou claro que a estratégia para Vettel foi melhor. Mas ela foi deliberadamente traçada para prejudicar Raikkonen? Não sei. Foi deliberadamente traçada para ajudar Vettel? Foi. Ajudar um significa necessariamente prejudicar o outro, ser sacana, escroto, desleal?

[bannergoogle]A resposta deixo para vocês. Na minha cabecinha de mamão, a Ferrari trabalhar para Sebastian ser campeão é algo que faz sentido. E caberá, sempre, ao outro piloto reverter o quadro. É uma luta solitária, claro. Mas Rosberg encarou uma dessas nos seus anos de batalha com Hamilton, até conseguir derrotá-lo. Webber não conseguiu com Vettel. Nem Barrichello com Schumacher. Bottas, se quiser bater Hamilton, terá de fazê-lo por conta própria. Raikkonen, se desejar não passar pelo que passou ontem, terá de se virar sozinho. É assim. Pelo simples fato de que um piloto sempre é melhor que o outro. E o melhor será privilegiado quando for preciso. Na maioria das vezes, isso não é necessário. Mas, às vezes, é.

Hamilton disse não ter dúvidas de que a Ferrari escolheu seu primeiro piloto. Toto Wolff, seu chefe na Mercedes, contemporizou e falou que a equipe italiana não fez nada de propósito. É bom lembrar que o próprio time alemão já fez coisa parecida neste ano, tirando Bottas da frente de Hamilton mais de uma vez para não atrapalhá-lo. Portanto, não sejamos ingênuos. Nesta temporada apertadíssima entre dois pilotos de equipes diferentes, essas coisas vão acontecer de novo. Na Mercedes e na Ferrari. É como digo sempre. Nesses casos, os maiores aliados dos segundos pilotos são os coleguinhas da equipe rival. Se Raikkonen tivesse uma Mercedes entre ele e Vettel, por exemplo, a história poderia ser diferente. Se Bottas estiver na frente de Hamilton um dia desses com uma Ferrari separando os dois, a Mercedes não vai fazer nada para jogá-lo para trás.

É a dura vida de um segundão.

Bem, começamos com o quê?

Bernie: chatonildo

A FRASE DE MÔNACO

“A F-1 agora é gerida como uma filial do Starbucks, com alguém sempre colocando leite no café.”

Bernie Ecclestone, mal-humorado, criticando a gestão dos americanos da Liberty. Acho que ele está sendo injusto. O Starbucks é realmente ruim, chato, invasivo com aquela história de te chamar pelo nome (eu sempre dou “Fora Temer”) para entregar um copo de café. Mas sempre vamos reforçar aqui o que têm de positivo essas lufadas de ar fresco que o grupo está impondo à categoria. Todos estão gostando, por exemplo, da intensa atividade nas redes sociais. Menos o Bernie.

Voltando à corrida de ontem, importante dizer que no segundo escalão aconteceram alguns eventos merecedores de certo destaque. Como, por exemplo, a primeira vez que a Haas terminou um GP com seus dois carros nos pontos — Grosjean em oitavo, Magnussen em décimo. Em compensação, a Force India, que vinha colocando seus dois carros na zona de pontuação desde a primeira prova do ano, zerou. E Pérez ainda foi punido por bater em Kvyat no final. Não aconteceu nada com sua posição, 13º. Mas deixou o russo bem zangado.

Falando em 13º, uma coincidência boba, mas sempre uma coincidência. Foi a posição de largada de Hamilton em Monte Carlo. A única vez que ele tinha largado em 13º na vida fora no GP da França de 2008. Justamente o último em que Raikkonen tinha feito uma pole até a de sábado, encerrando um jejum de 8 anos, 11 meses e 6 dias — o maior entre duas poles da história, superando os 8 anos e 18 dias que Mario Andretti levou para voltar a largar na pole-position entre os GPs dos EUA de 1968 e do Japão de 1976.

É verdade que a pole não resultou em vitória para Kimi, mas a primeira fila da Ferrari, sim. O que nos leva a…

O NÚMERO MONEGASCO

…dobradinhas na história alcançou a equipe italiana com o 1-2 de Vettel e Raikkonen. E foi a primeira desde o infame “Fernando is faster than you”, informação passada a Felipe Massa no GP da Alemanha de 2010 em Hockenheim, lembram?

Aliás, vencer a partir da primeira fila não é novidade em Mônaco, como se sabe. Em 64 GPs de F-1 disputados nas ruas do Principado (esta foi a 75ª corrida, mas nessa conta entram as provas anteriores ao nascimento da categoria, em 1950), nada menos do que 28 vezes o pole ganhou, e em 15 oportunidades venceu o segundo no grid. Dá um total de 43 vitórias para quem largou na primeira fila, 67,2%. Bastante.

Quem esteve visitando os amigos ontem foi Nico Rosberg, atual campeão aposentado, que mora por aqueles lados. Outro que poderia ter apenas feito uma visitinha foi Jenson Button, chamado pela McLaren para correr no lugar de Alonso. No fim das contas, fez um ótimo treino de classificação, levou o carro laranja ao Q3, mas largou em último por troca de componentes do motor. Nas últimas voltas, bateu em Wehrlein e foi… punido! Não vai pagar nunca, porque a punição foi a perda de três posições no grid da próxima corrida. Da qual ele não participará. Button acabou sendo um dos personagens da corrida, como notou nosso cartunista oficial Maurício Falleiros, com sua pena genial.

Falle1ros

Maldade com a Honda? Bem, somos pagos para pegar no pé. De todo mundo. E pegamos no pé quando não somos pagos, também. A Honda está devendo. E ainda largou Alonso a pé em Indianápolis. Sorte dos japoneses que acabaram vencendo a corrida com Takuma Sato. Incrivelmente. E, pela vitória, está de parabéns. Gostamos muito de ver Taku com sua garrafinha de leite. A gente sempre gosta e não gosta de algumas coisas, como nossa premiadíssima seção faz questão de nos lembrar.

Sainz: bom

GOSTAMOS…

…muito do sexto lugar de <<< Carlos Sainz Jr. com a Toro Rosso, piloto que vem mostrando serviço com frequência nesta temporada. Há quem diga que já tem gente de olho grande no menino. E é gente graúda, que veste vermelho e fala italiano.

Pódio novo: ruim

NÃO GOSTAMOS…

…nada do novo pódio de Mônaco >>>, tirando todos do chão, onde a festa era mais autêntica, divertida e ensopada de champanhe. Era o único pódio diferente da F-1, desde o início dos tempos. Agora, ficou praticamente igual aos demais. Chatice, isso.

Bem, acho que é tudo. Desculpem a demora. Os dias têm sido curtos para a quantidade de coisa que tenho de resolver às vésperas de uma mudança grande que vem por aí. Nada a ver com o blog, nem com a F-1, nem com nada que vos diga muito respeito. Coisas da vida, mesmo, esta maluquice que nos cabe viver.