Blog do Flavio Gomes
F-1

TÁ FALTANDO ELE (2)

BLUMENAU (na fumacinha) – “Ah, bom. Obrigado.” Assim, com essa empolgação contagiante, Kimi Raikkonen comemorou pelo rádio sua primeira pole desde 2008. Nove anos de jejum desde aquele GP da França de 2008 em Magny-Cours, quando ele defendia seu título pelo time de Maranello. Depois, Kimi largou a F-1 e foi se aventurar no rali, para voltar […]

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BLUMENAU (na fumacinha) – “Ah, bom. Obrigado.” Assim, com essa empolgação contagiante, Kimi Raikkonen comemorou pelo rádio sua primeira pole desde 2008. Nove anos de jejum desde aquele GP da França de 2008 em Magny-Cours, quando ele defendia seu título pelo time de Maranello. Depois, Kimi largou a F-1 e foi se aventurar no rali, para voltar alguns anos atrás pela Lotus, onde ganhou corrida e se recolocou no mercado até a Ferrari trazê-lo de volta.

Verdade seja dita, neste retorno Raikkonen não vinha fazendo nada de muito extraordinário, especialmente neste ano em que a equipe voltou a lutar por vitórias — mas só com Vettel.

[bannergoogle]Bem, acabou de fazer, como se viu. Pole em Mônaco é daquelas coisas que ficam na memória de qualquer um, não só pela evidente vantagem técnica que se carrega para a corrida, como também por tudo que significa do ponto de vista histórico. Aliás, este é o 75º GP nas ruas do Principado, o que empresta ainda mais importância ao feito.

A Ferrari não vence em Monte Carlo desde 2001 com Schumacher. É bem provável que esse jejum termine amanhã. Além de Raikkonen na pole, o time tem Vettel em segundo no grid. É a segunda vez na temporada que a equipe fecha uma primeira fila — a outra foi na Rússia. E para ajudar ainda mais, Hamilton está fora do páreo. Não se sabe bem por quê, mas seu carro não andou hoje. Aliás, tinha andado muito mal também na quinta-feira e a Mercedes admitiu ter partido para um caminho equivocado no acerto, algo que deveria ter corrigido para a classificação.

“Se eu passasse ao Q3 teria dificuldade para ficar entre os cinco primeiros. A gente precisa ir a fundo para saber o que está errado com o carro”, falou o desolado inglês após empacar no Q2. Tinha tempos horríveis, e na última tentativa Vandoorme bateu, causando uma bandeira amarela que matou também a última volta de Massa — nunca entenderei por que a Williams adora mandar seus pilotos para a pista quando faltam alguns segundos para a quadriculada.

Lewis ficou em 14º, mas com a punição a Button — já falo dele — largará em 13º. É preciso ser algum santo milagreiro para sair daí e fazer alguma coisa nas ruas estreitas de Monte Carlo. Ainda mais numa corrida de apenas uma parada e sem previsão de chuva. O domingo será como hoje, ensolarado e agradabilíssimo, com temperaturas máximas na casa dos 25°C.

Assim, com Comandante Amilton de estrepando de canudinho, o dia foi da Ferrari. Desde o início, diga-se. Já no último treino livre Vettel sobrou e fez o melhor tempo. Para não dizer que ninguém incomodou em momento algum, vá lá: Verstappinho foi o mais rápido no Q1, ainda que todos já tivessem consciência de que a briga de verdade seria Ferrari x Ferrari pela pole, o que de fato aconteceu. A primeira fase da classificação mandou para as águas do Mediterrâneo, pela ordem, Locon, Palmolive, Stroll Pício, Wê Lá, Hein? e Sonyericsson. A Sauber, desde o início, estava condenada aos dois últimos lugares — não está andando nada nessa pista. Palmer e Stroll vão se juntar aos carros suíços quase sempre, pela ruindade absoluta de ambos — seus companheiros de Renault e Williams geralmente passam ao Q2 sem nenhuma dificuldade. Ocon é que decepcionou, ainda mais porque Pérez levou seu carro rosa à oitava colocação no Q1.

O Q2 expôs todas as dificuldades de Hamilton, personagem principal do novelão dramático para o qual a Mercedes o escalou. O carro simplesmente não tinha aderência alguma, e por duas vezes o inglês quase estampou o guard-rail. Mostrou enorme controle para evitar as batidas, mas talvez ele preferisse, mesmo, arrebentar-se na barreira de metal para castigar o automóvel indócil e impertinente. Desde o GP de Cingapura de 2015 que eu não via a Mercedes sofrer tanto numa pista — embora Bottas tenha se acertado no final.

[bannergoogle]Lá na frente, a Ferrari nadava em águas calmas, com Raikkonen entrando na casa de 1min12s231 e Tião Italiano na escolta. Nos boxes da Mercedes, mexeram em tudo que era possível no carro de Hamilton e mandaram-no para a pista a cinco minutos do final para tentar algo. Tentou uma, não deu. Na segunda, vinha num tempo que talvez desse para passar ao Q3, mas Vandoorne bateu na última chicane e todos que ainda estavam na pista tiveram de tirar o pé. Com isso, foram ceifados K-Vyado, Incrível Hulk, Magnólia Arrependida, o próprio Hamilton e Massacrado.

Foi uma pena para Vandoorne, a batida. O rapaz vinha se colocando sempre entre os primeiros com a maluca McLaren, que resolveu andar bem de um dia para o outro — Alonso deve estar se perguntando se o problema é ele. O belga ficou em sexto no Q1 e em sétimo no Q2. Com o carro todo arrebentado, obviamente não participou do Q3. No fim das contas, vai largar em 12º — tem uma punição trazida de Barcelona. E Button? Button foi sensacional! Sempre entre os dez primeiros, sempre perto de Stoffel, isso depois de meses sem sentar num carro de corrida, apenas flanando pelo planeta em provas de triatlo e atrás do suco verde perfeito. Largaria em nono, se não fosse a perda de 15 posições por troca de um monte de componentes do motor, o que acabou lhe atirando para o último lugar do grid. Uma pena. Mas ele deve ter se divertido. E mostrou não só talento, como muita seriedade no trabalho — embora esteja louco para subir o Kilimanjaro de patinete o mais rápido possível.

Subiram ao Q3, então, as duplas de Ferrari, Red Bull e McLaren — primeira vez no ano que o time laranja passou com seus dois pilotos do purgatório para o paraíso. Juntaram-se a eles um piloto da Mercedes, um da Force India, um da Haas e um da Toro Rosso. E sem Lewis para encher o saco, a Ferrari se impôs com autoridade. Raikkonen já começou com um excelente 1min12s296, e depois baixou para 1min12s178. Vettel não foi bem na primeira tentativa, mas na segunda melhorou bem e acabou ficando a apenas 0s043 do companheiro. Bottas foi outro que fez uma segunda volta muito boa, e terminou 0s045 atrás de Kimi. A Red Bull veio na sequência com Verstappinho e Ricardão em quarto e quinto. Sainz Idade fez um excepcional sexto lugar (foi quinto no grid de Barcelona, ele é muito, muito bom), e depois vieram o ótimo Pérez, o hoje surpreendente Grojã — juro que não esperava, o francês neste ano tem sido irregular como um eletrocardiograma — e a dupla punida da McLaren.

Foi a 17ª pole da carreira de Kimi, que não é exatamente um destruidor de cronômetros em classificação. Desde aquele longínquo GP da França de 2008, foram disputados 128 GPs na F-1 (ele não esteve em todos, é bom que se diga, porque houve aquele período sabático correndo na lama e na neve). Para a Ferrari, é uma chance enorme de voltar a ganhar no Principado. Espero, do fundo da alma, que a equipe não faça nenhuma babaquice na linha “vamos ajudar o Vettel”. Se não fizer, o finlandês é franco favorito à vitória.

Quanto a Lewis, pode-se esperar uma corrida para minimizar os prejuízos da classificação desastrosa. Um pódio não é muito provável, mas pode ser possível se ele e a equipe lidarem bem com eventuais entradas do safety-car ao longo da prova, algo que sempre acontece em Mônaco. O fato é que, numa luta ponto a ponto contra Vettel pelo título, essa corrida pode cobrar seu preço lá na frente. Não estava, definitivamente, no roteiro. OK, perder para a Ferrari faz parte, o campeonato será assim até o final — ganha aqui, perde ali. Mas se arrastar do jeito que se arrastou é o que preocupa a equipe.

Assim, veremos o que vai dar para fazer amanhã de manhã. Mas veremos torcendo para passar rápido, porque logo depois a gente quer mesmo é ver Alonso!

Agora vou aos DKWs.