Blog do Flavio Gomes
F-1

TÁ FALTANDO ELE (3)

BLUMENAU (acelera, filhote!) – Será esta a pergunta eterna deste GP de Mônaco, para a qual acho que tenho resposta (e antecipo: nada): o que a Ferrari fez que tirou a vitória de Raikkonen? Se alguém tem alguma prova de que retardaram Kimi de propósito, chamaram-no para o pit stop cinco voltas antes de Vettel […]

mondom17b

BLUMENAU (acelera, filhote!) – Será esta a pergunta eterna deste GP de Mônaco, para a qual acho que tenho resposta (e antecipo: nada): o que a Ferrari fez que tirou a vitória de Raikkonen?

Se alguém tem alguma prova de que retardaram Kimi de propósito, chamaram-no para o pit stop cinco voltas antes de Vettel de propósito, colocaram pneus quadrados em seu carro de propósito, desligaram o turbo de propósito, que mas apresente. Delação premiada e convicção não valem. Se Raikkonen tem como mostrar que estragaram sua corrida, que diga.

Caso contrário, calem-se para sempre e enxerguem em Vettel o pilotaço que é — tetracampeão mundial, nunca é demais lembrar.

[bannergoogle]A vitória de Sebastian em Monte Carlo se construiu sobre dois pilares bastante simples de compreender, inclusive. O primeiro, da largada até a parada de Raikkonen. Na pole, o finlandês largou bem e trouxe a outra Ferrari junto. Como seria natural, pois estamos falando de carros parecidos, não disparou na frente. Os dois abriram um pouco de Bottas, o terceiro, mas Tião Italiano ficou sempre ali pertinho. Essa era a primeira parte da missão: não deixar Raikkonen escapar, para tirar dele qualquer chance de ter alguma folga na hora de definir a estratégia de parada.

E se Kimi tinha alguma pretensão de fazer algo diferente, ela escorreu pelos dedos quando começou a chegar em retardatários, mais cedo do que o normal para Mônaco, já na volta 26. Encontrou Button pela frente. O inglês tinha largado dos boxes e já havia feito uma parada. Por isso, estava muito atrasado em relação ao pelotão.

Mesmo sem atrapalhar ninguém deliberadamente, Jenson fez com que os três primeiros tirassem um pouco o pé até conseguirem, nas vielas estreitas do Principado, passar por ele. Na prática, não havia mais diferenças entre Raikkonen, Vettel, Bottas e Verstappen, que também se aproximaram. Faz parte, é Mônaco.

O jovem Max, então, parou na volta 32 para tentar dar o bote em cima de Bottas. A Mercedes chamou seu piloto na volta seguinte para fazer a marcação, e as posições se mantiveram. Então, foi a vez de Raikkonen, na volta 34, fazer sua troca. Voltou em terceiro, atrás de Vettel e Ricciardo.

Esses dois foram os que se saíram melhor ao tomarem a decisão de permanecer um pouco mais na pista. Ricardão sentou o pé, cravou duas voltas voadoras sem ninguém na frente, correu para os boxes na volta 38 e quando saiu para a pista, bingo! Tinha passado Bottas e Verstappen, pulando de quinto para terceiro. Ainda contou com um ótimo trabalho da Red Bull em sua parada, 24s183 contra 25s343 de Verstappinho, que perdeu 1s160 na operação em relação ao companheiro de equipe, ficando razoavelmente puto dentro do macacão.

Vettel fez o mesmo que o australiano, e essa era sua segunda missão dominical para ganhar a prova. Até a 39ª volta, quando foi para os boxes, acelerou como se disso dependesse tirar o pai da forca, e voltou na frente de Raikkonen. Um tiquinho só, mas o suficiente.

“Ah, a Ferrari demorou na troca do Kimi, canalhas, vagabundos, vermes, sacripantas!” Bem, de fato o pit stop de Sebastian foi mais rápido: 24s306 no tempo total da entrada à saída dos boxes, contra 24s833 da parada de Raikkonen. A diferença: 0s527.

[bannergoogle]Gente, não se perde uma corrida por meio segundo de diferença numa parada. A diferença esteve mesmo em pelo menos duas voltas num ritmo fortíssimo que Vettel conseguiu emplacar no período de cinco entre a parada de Raikkonen e a sua. Ali ele descontou o que tinha de desvantagem para o parceiro enquanto ficou atrás.

“Ah, e por que a Ferrari não chamou ele primeiro e deixou o Kimi tranquilo na frente?” Porque se o fizesse, era capaz de Sebastian perder o segundo lugar para Bottas. O que a equipe fez foi defender a posição de Vettel, não comprometer a de Raikkonen. Quanto a este, era sua obrigação acelerar feito um louco com pneus novos na saída do pit stop, ou mesmo ficar mais tempo na pista se seus pneus estivessem bons, adiando a parada. Kimi é experiente o bastante para saber se o ritmo era suficiente. Como líder, ele teria prioridade para escolher o momento do pit stop. Se o fez antes que Vettel, deve ter tido suas razões. Se se submeteu a uma orientação da equipe sem questionar, é porque anda meio desligado da vida.

Então, sem chorumelas. Vettel ganhou porque ganhou. Fez o que tinha de fazer, e fez bem feito. Logo que assumiu a ponta, começou a abrir muito de Raikkonen, que ou ficou desanimado, ou não se entendeu com os pneus supermacios da segunda metade da prova. “Não me sinto bem com o segundo lugar“, resmungou. Eu também não me sentiria. “Se você não confia na sua equipe, é algo complicado. Mas eu confio neles”, disse, via press-release oficial da Ferrari.

A corrida não foi grande coisa, pelos motivos que todos conhecem. Mônaco é mais um espetáculo cênico do que esportivo, na maioria das vezes — embora reserve algumas surpresas épicas como vitórias de Panis e Trulli, para ficar apenas em duas que a memória alcança.

Houve um acidente meio estranho, quando Button tentou passar Wehrlein na entrada do Túnel, tocaram rodas e o Sauber do alemão tombou e ficou encostado no guard-rail. O safety-car foi acionado (das voltas 60 a 66), mas felizmente nada de mais grave aconteceu com o piloto. Jenson, com a suspensão quebrada, abandonou.

Aliás, foi dele, Button, o momento mais engraçado da corrida, antes da largada. Colocaram-no em contato com Alonso, do outro lado do Atlântico. Fernandinho, no aguardo das 500 Milhas, pediu que ele tomasse conta de seu carro. “Vou mijar no banco”, respondeu o inglês.

[bannergoogle]Enfim, o GP do Principado, desde sempre, é uma corrida em que aqueles que fazem menos besteiras acabam voltando para casa com alguma coisa em mãos. No caso, troféus, ou pontos. Os troféus ficaram com a dupla da Ferrari e Ricciardo em terceiro. Foi a terceira vitória de Vettel no ano, 45ª na carreira, segunda em Monte Carlo. Sapattos, Verstappinho, Sainz Idade (está guiando, esse rapaz…), Comandante Amilton, Grojã, Massacrado e Magnólia Arrependida fecharam a zona de pontos.

Olhando para essa lista dos dez primeiros, é preciso tirar o chapéu para a Haas, que nela colocou seus dois pilotos. Felipe usou a experiência para esperar pelas cagadas dos outros e também marcar seus pontinhos. Hamilton, 13º no grid, foi outro que se valeu da tática de adiar a parada ao máximo para ganhar posições, e deu certo — terminou em sétimo, depois de um pit stop na volta 46.

A Ferrari não vencia em Mônaco desde 2001, com Schumacher. Foram 16 anos de jejum, uma seca encerrada com estilo — dobradinha é sempre uma coisa estilosa. Teve até pódio novo. Depois de séculos, acabaram com o charme da comemoração ao rés do chão, apenas uma escadinha levando à família real monegasca para a entrega de troféus e champanhe.

Para este ano, fizeram uma ante-sala no térreo, uma escada e um gabinete elevado, levaram todo mundo lá para cima, e a coisa ficou meio fria e impessoal. Primeira bobagem do Liberty, se é que isso partiu da empresa — pode ter sido uma decisão local, talvez por motivos de segurança em tempos tão bicudos.

Raikkonen ficou com cara de bunda no pódio, o que não quer dizer muito — arrisco dizer que seria a mesma se tivesse vencido. Não dá para afirmar, apenas por sua expressão inabalável, que estivesse com ódio de seus chefes ou algo parecido. Pode ser que tenha ficado com raiva dele mesmo. Pode ser que não tenha ficado com raiva nem dele, nem da equipe, e que estivesse apenas querendo ir embora logo para casa. Pode ser qualquer coisa.

Na classificação, Vettel foi a 129 pontos, contra 104 de Hamilton. Abriu uma vitória de vantagem. É uma gordurinha importante. Mas está longe de ser definitiva.