Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE ONTEM DE MANHÃ

RIO (foi bem legal) – Claro que a vitória inesperada de Ricciardo, o segundo lugar espetacular de Bottas (escolhido como imagem do dia neste “Sobre ontem…”) e o pódio surpreendente de Stroll foram os pontos altos do GP do Azerbaijão, mas é igualmente claro que a gente não pode contar a história dessa corrida sem […]

sobrebaku2
Bottas passa Stroll na bandeirada: canadense tirou o pé antes do tempo?

RIO (foi bem legal) – Claro que a vitória inesperada de Ricciardo, o segundo lugar espetacular de Bottas (escolhido como imagem do dia neste “Sobre ontem…”) e o pódio surpreendente de Stroll foram os pontos altos do GP do Azerbaijão, mas é igualmente claro que a gente não pode contar a história dessa corrida sem falar da grande polêmica do domingo.

Quando envolve líder e vice-líder do campeonato, então, é um prato cheio. Foi o caso da inesquecível prova de Baku.

A questão é: Hamilton fez um brake-test na frente de Vettel, justificando a ira do alemão? A telemetria do Mercedão #44 foi analisada pelos comissários e a conclusão foi que não, isso não aconteceu. Segundo eles, Lewis nem freou. “Diminuí a velocidade no mesmo lugar onde tinha diminuído na outra relargada”, jurou o piloto.

[bannergoogle]Sebastian não se convenceu. “Todo mundo viu. Não acho que ele quis causar um acidente, mas que ele fez um brake-test, fez. Eu tive prejuízo, ele teve prejuízo. Não é algo que se faça. A Fórmula 1 é para adultos. Acho que vou conversar com ele e vamos resolver isso”, resmungou o alemão, cuspindo abelhas. Maurizio Arrivabene também chiou: “As decisões dos comissários são sempre contra nossa equipe”.

A realidade é que o clima entre os dois grandes protagonistas da temporada não é bom. Eu diria que degringolou de vez, depois de intensas trocas de elogios nas primeiras corridas da temporada — quando, na prática, eles se alternaram nas vitórias, mas mal se encontraram na pista.

Agora, isso tem acontecido. Ontem, Vettel emparelhou o carro depois do que considerou ter sido um brake-test do rival e deu nos pneus de Hamilton, num lance típico de briga de trânsito. “O que ele fez não é o que se espera de um campeão do mundo. Mas não vou falar mais nisso, não estou muito preocupado com o assunto”, tentou encerrar Lewis.

Agora, que ele ficou bravo, ficou. O que nos leva à…

FRASE DE BAKU

Hamilton: tranquilo, tranquilo

“Se ele quer provar que é macho, que mostre fora do carro.”

Foi o que disse Hamilton sobre Vettel, acrescentando que o que o alemão fez foi “nojento”. Depois, mais calmo, falou que o que passou, passou. E que só queria ir embora para casa.

Hamilton reforçou que não fez brake-test algum com Vettel. “Quem dita o ritmo do pelotão nessa situação é o líder, e eu era o líder. O que aconteceu foi que simplesmente senti uma batida por trás. É ruim, porque jovens pilotos nos assistem no mundo inteiro e espero que não tomem o que ele fez como exemplo.”

E depois dessas lições de moral todas, o inglês concluiu: “Não foi um dia bom”.

Fato. Principalmente porque mesmo com essas tretas todas, ele poderia ter vencido, e só não o fez por um problema idiota: a má fixação daquele protetor de cabeça que é encaixado nas bordas do cockpit, levando-o a uma parada extra. “Sei que a equipe deve estar devastada com o que aconteceu, mas vamos em frente”, absolveu Hamilton. “Estou orgulhoso do que fizemos, da velocidade que mostramos, e minhas respostas darei na pista, lutando para ganhar o campeonato, algo que realmente acredito que podemos fazer, depois do que mostramos hoje.”

[bannergoogle]Hamiltinho paz & amor, em resumo.

Na Mercedes, a equipe também procurou não culpar ninguém. “Não é o caso. Precisamos só entender o que aconteceu, aprimorar os procedimentos e ver onde podemos melhorar, para que não aconteça de novo”, disse Toto Wolff. Quanto à atitude de Vettel, o dirigente foi diplomático: “A FIA tomou sua decisão e o que aconteceu não muda em nada as ótimas relações que temos com a Ferrari.”

Totozinho paz & amor, também.

A decisão à qual o chefe prateado se refere foi o stop & go para o tedesco. Punição que euzinho, humildemente, considerei justíssima. Não se joga o carro em cima de ninguém porque está nervosinho. Sebastian foi juvenil e destrambelhado. Juvenil na reação. E destrambelhado porque não prestou atenção na velocidade de Hamilton. Está atrás, que respeite o ritmo de quem lidera. Se o cara brecar, breca junto. Para mim, se distraiu. Mereceu o que levou.

Foi uma corrida tão especial que, para além das arquibancadas — obviamente felizes com o que viram –, foi difícil encontrar algum canto do paddock onde alguém não estivesse comemorando alguma coisa. Exceção feita, talvez, a um muito irritado Grosjean, que teve problemas de freio de novo. Problemas sérios. E no release da Haas, no espaço para suas declarações oficiais, o que se leu foi: “No post-race comments were made”. Primeira vez que vi isso.

Quanto à satisfação geral da nação, vejam por quê:

O NÚMERO DO AZERBAIJÃO

...equipes, entre as dez que disputam o Mundial, pontuaram ontem. A saber: Red Bull (Ricciardo primeiro), Mercedes (Bottas segundo, Hamilton quinto), Williams (Stroll terceiro), Ferrari (Vettel quarto), Force India (Ocon sexto), Haas (Magnussen sétimo), Toro Rosso (Sainz Jr. oitavo), McLaren (Alonso nono) e Sauber (Wehrlein décimo). Só a Renault ficou fora da festa.

Com o nono lugar de Alonsito, todos os times, agora, têm pontos no Mundial. Mas a McLaren segue em último. De qualquer forma, o espanhol conseguiu sorrir em Baku. “Saindo de 19º numa das piores pistas para nós, terminar em nono é irreal, uma completa surpresa”, admitiu.

A história de que poderia vencer, como disse no rádio, não fugiria muito à realidade caso sua realidade particular fosse outra. “Eu estava atrás de Ricciardo no primeiro safety-car. Hamilton teve de trocar o protetor, Vettel foi punido, as duas Force India bateram uma na outra… Era uma corrida que daria para ganhar sim, se…”

E aí é que está a diferença entre a realidade de quem tem um equipamento minimamente competitivo e a realidade específica da McLaren. Poderia ganhar, sim, se… se tivesse um carro.

Mas o que está guiando esse rapaz, de qualquer maneira, é algo que merece ser exaltado sempre. Com essa carroça, só não faz chover. Pior é que quase abandona no final, quando começou a perder potência de novo. Seria um castigo cruel demais.

Alonso, nono: ganharia, se tivesse um carro de verdade

Receio estar falando pouco do vencedor, Ricciardo. O resultado foi tão maluco, que levou Christian Horner da depressão quase profunda no início da corrida a uma euforia incontida ao final. “Acho que envelheci uns dez anos”, disse o chefe da Red Bull.

Ricciardo cumprimenta Bottas: surpresa total

É porque logo no começo da prova o time perdeu Verstappen, que lutava lá na frente pelo pódio. Problema de motor. E o australiano tinha caído para 17º — em condições normais, não teria chance nenhuma de nada. “Daniel pegou muitos detritos na pista e teve de parar muito cedo para limpar as entradas de ar. Mas, depois, foi muito bem nas relargadas, aproveitou as baboseiras de Vettel e Hamilton, e no fim conseguiu manter um ritmo muito bom. Foi muito louco.”

“Eu não apostaria meu dinheiro em mim”, resumiu Ricciardo, com o bom humor de sempre. “Foi uma corrida maluca.” Sua última vitória tinha sido na Malásia, no ano passado. Foi seu quarto pódio seguido, e ele subiu para quarto na classificação, com 92 pontos. Tem mais que o dobro que Verstappinho, que não gostou nada do domingo — já que quebrou de novo, quarto abandono nas últimas cinco etapas do Mundial.

Aliás, Max, no press-release da Red Bull, não se dignou a dizer um “parabéns” ao companheiro de equipe pela vitória. Uma deselegância oficial.

É sempre assim, até na mesma equipe tem dia em que um gosta do que aconteceu; o outro, não.

Como nós, nesta seção impagável.

Stroll: ótimo

GOSTAMOS…

…do terceiro lugar de Stroll >>>, que colocou o Canadá no pódio depois de 16 anos. O último piloto do país a levar um troféu tinha sido Jacques Villeneuve, terceiro colocado no GP da Alemanha de 2001 pela BAR. Os canadenses, agora, têm 37 pódios na F-1 — 23 de Jacques, 13 de seu pai Gilles e o de ontem, do jovem Lance. Agora… ele tirou o pé para comemorar antes do tempo?

Pérez: zangado

NÃO GOSTAMOS…

…de mais uma presepada da Force India, cujos pilotos têm se esfregado demais em disputas por posição, fazendo com que o time desperdice ótimas chances de pontos e pódios. Foi assim ontem quando Ocon forçou a barra sobre <<< Pérez, que estava firme em terceiro e poderia muito bem levar um trofeuzinho para casa. Talvez até vencesse. “Vamos ter de conversar internamente”, disseram ambos.

E para encerrar nosso rescaldão do Azerbaijão, uma palavrinha sobre Massa. Ele poderia ganhar?

Bem, quando a corrida foi retomada, depois da bandeira vermelha, Felipe era o terceiro colocado. Stroll vinha em quarto e Ricciardo, em quinto. Considerando que Hamilton e Vettel, os que estavam à sua frente, despencariam por conta de uma parada extra nos boxes e de uma punição, pode ser. Pode ser. Estávamos na volta 23 de 51, e certamente Felipe teria de contar com alguma valentia de seu companheiro de equipe para segurar o australiano da Red Bull, abrindo um pouco para tentar assumir o controle da corrida. Não sei se conseguiria. E se Ricciardo passasse logo, partiria firme para cima do brasileiro com um carro que estava indiscutivelmente veloz.

Mas pode ser. Pode ser. Nunca saberemos. Uma coisa, porém, é certa: foi sua maior chance de pódio em muito tempo. O problema de suspensão/amortecedor acabou com ela. Terá outras? Ora, ora, sempre tem. Uma hora ou outra a sorte vira. O Azerbaijão provou isso. No mais, Massa fez uma corrida muito boa, ainda que ela tenha durado pouco. Foi legal para mostrar a ele mesmo que ainda tem lenha para queimar. E foi muito bacana com o pupilo Stroll, ao dar uma força para ele pelo rádio nas voltas finais da corrida.

Fechamos com a visão da prova do nosso cartunista oficial Maurício Falleiros, que como sempre captou o que tinha de captar. Genial!

Falle1ros