Blog do Flavio Gomes
F-1

BACK TO THE OFFICE (4)

MOGYORÓD (crise é foda) – Uma das farras dos tempos em que eu viajava atrás deste negócio era esperar começar a temporada europeia para conhecer os motorhomes. Motorhomes. É até meio esquisito chamar essas coisas que eles usam hoje de motorhomes. Motorhome é Kombi Safari. Ou ônibus que tem um puxadinho que vira tenda, coloca […]

MOGYORÓD (crise é foda) – Uma das farras dos tempos em que eu viajava atrás deste negócio era esperar começar a temporada europeia para conhecer os motorhomes.

Motorhomes. É até meio esquisito chamar essas coisas que eles usam hoje de motorhomes. Motorhome é Kombi Safari. Ou ônibus que tem um puxadinho que vira tenda, coloca umas mesinhas embaixo e vamos nessa.

Era assim, inclusive, na F-1. Não tinha Kombi Safari, mas os motorhomes não passavam de ônibus com uma estrutura interna razoavelmente luxuosa e uma área externa coberta onde se colocavam umas mesas desmontáveis, uma máquina de café, um aparador para por os pratos e o rango e a gente ia lá almoçar. Ali ficava todo mundo exposto, inclusive, aos olhares indiscretos da imprensa. Quando se via o Prost almoçando na Williams, ou o Schumacher na Ferrari, era um alvoroço.

Na maioria das vezes, porém, não era nada. Só comida boa, e de graça.

Mesmo assim, observar o movimento nos motorhomes era sempre interessante. Até um dia em que a McLaren apareceu com um troço em Imola que parecia inacreditável. Acho que foi em 2001. Eram dois ônibus, e eles dobravam de altura quando estacionados — elevadores hidráulicos elevavam a bagaça, que ficava com dois andares.

[bannergoogle]Entre os dois, uma estrutura que levava cinco dias para ser montada (diziam, na época, que precisava de cinco dias, o que era mentira) resultava, depois de pronta, num verdadeiro prédio de escritórios com mesas e TVs de plasma por todos os lados, iluminação especial, vidro fumê, salas reservadas, terraço e o caralho a quatro.

Pronto, acabaram os motorhomes, pensei. Na F-1 todo mundo é metido a besta, então todo mundo ia querer fazer o mesmo que a McLaren, ou mais.

E assim foi. As grandes começaram a vender seus velhos ônibus para as pequenas, ou para outras categorias, e contrataram engenheiros, arquitetos, artistas e decoradores para conceberem seus novos motorhomes.

O problema é que como a F-1 começou a correr muito fora da Europa, essa coisa começou a ficar cara demais para a meia-dúzia de GPs que sobraram por aqui. Motorhome era algo muito prático, porque levava tudo que era necessário de um circuito a outro por via rodoviária. Era estacionar no paddock, puxar a tenta, montar as mesas, um cercadinho e acabou. Tinha cozinha, banheiro, ar-condicionado, sofá, estava bom demais.

Depois que a McLaren veio com seu prédio ambulante, as demais se viram obrigadas a fazer algo parecido e caíram do cavalo, porque gastaram os tubos para usar cada vez menos seus dotes exibicionistas — já que começaram a fazer corridas no cu do mundo, como Malásia, Bahrein, Cingapura e Abu Dhabi.

Dei uma volta pelo paddock hoje e notei que alguns times voltaram à austeridade de antes e têm estruturas bem menos impressionantes que no passado recente — casos da Haas, novata que nunca precisou gastar dinheiro à toa, da Sauber e da Renault, por exemplo.

Mercedes, Ferrari e McLaren continuam exageradas. A Red Bull, então… Tem um shopping center no paddock, que abriga também a estrutura da Toro Rosso.

Adorei a Honda. Acho que foram expulsos da mansão da McLaren e estacionaram um motorhome das antigas ao lado. Dá até pena, num primeiro momento, mas certos estão eles. Os japoneses têm coisas mais importantes para resolver, como descobrir como funciona um motor.

Aí embaixo tem uma galeria com todos os motorhomes da F-1 de 2017. Cliquem nas fotos para ampliá-as e digam o que acharam! O mais feio é o da Sauber, com sua tenda na entrada que lembra festa de fim de ano na firma. O da Mercedes lembra prédios da Berrini. Da Red Bull, já falei, é quase uma praça de alimentação. A Renault parece ter aproveitado alguma coisa que era da Lotus. A Williams ganhou o prêmio de arquitetura mais sem graça do século. A McLaren segue opulenta e misteriosa, e a Force India é brega de dar pena.

Menos é mais, como diz o Fogaça. Fico com o da Haas como meu motorhome predileto.