Blog do Flavio Gomes
F-1

CARS & COWS (3)

RIO (20 graus) – Antes de mais nada, meritíssimo, registre-se nos autos, por justo, que pela primeira vez em mais de 40 anos de narrações de Fórmula 1, mas obviamente considerando o período de 1984 até esta data, o provecto narrador não citou em nenhum momento, nem uma vezinha só, o ex-piloto Ayrton Senna da […]

carcows3RIO (20 graus) – Antes de mais nada, meritíssimo, registre-se nos autos, por justo, que pela primeira vez em mais de 40 anos de narrações de Fórmula 1, mas obviamente considerando o período de 1984 até esta data, o provecto narrador não citou em nenhum momento, nem uma vezinha só, o ex-piloto Ayrton Senna da Silva, que faleceu em 1º de maio de 1994. Considerando o tema relevante, solicitamos que a menção seja feita por escrita.

Agora, esse GP da Áustria. Essa corridinha sem sal.

Depois de um Baku, qualquer coisa perde um pouco a graça, vocês hão de convir.

Foi assim a prova de Spielberg/A1/Zeltweg/Red Bull/Österreichring. Sem sal. Dizíamos ontem, ó fariseus: se Bottas largar bem e não der nenhuma brecha para que o espertinho Vettel se aproveite, leva a corrida (apesar de minha aposta suicida em Raikkonen).

[bannergoogle]Bom, largar bem seria um eufemismo ao contrário. Sapattos largou muitíssimo bem, tão bem que parecia ter queimado a largada. Sua reação ao apagar das luzes vermelhas, novidade agora informada pela transmissão da TV (dado que sempre esteve disponível, afinal o controle é feito por sensores; podem acreditar que vão dar essa informação direto, agora, para embasar o famoso “fulano larga bem” ou “fulano larga mal”), foi de 0s201. Ou seja, confrades: assim que a última lamparina se foi, o finlandês levou dois décimos de segundo para enfiar o pé no acelerador e soltar a embreagem.

O salto quase instantâneo ajudou, porque Vettel, segundo no grid — responsável por alertar o mundo para a possibilidade de queima de largada ao chiar pelo rádio –, levou 0s369 para executar o mesmo procedimento.

Vocês hão de argumentar que esse mísero décimo de diferença entre a reação de dois pilotos às luzes na largada não pode ser considerado decisivo para o resultado de uma corrida de 71 voltas. Eu hei de concordar, com uma ressalva: ajuda. Ajuda, porque o cara larga melhor, chega à primeira curva com alguma folga, não precisa frear no deus-me-livre, e isso condiciona quase tudo o que vai acontecer a partir dali — especialmente quando se tem um carro muito bom.

Bottas ganhou esse GP da Áustria pela pole e pela largada. E depois, claro, pela condução redondinha e sem erros.

E não aconteceu nada de muito notável atrás dele numa corrida que começou sob a esperança de uma chuva que no fim não veio. O que se passou nos primeiros metros meio que determinou seu resultado final, a saber: Verstappen teve um problema de embreagem, patinou no grid, ficou para trás, alguns desviaram, muitos ganharam posições e nessas Kvyat, que vinha lá de trás, errou o cálculo numa freada e acertou a traseira de Alonso, que rodou e bateu no mesmo Verstappen, que conseguiu sair do lugar e tentava se reposicionar no pelotão.

[bannergoogle]Milagrosamente só os dois tiveram de abandonar após o sinistro e uma turma que estava largando lá na casa do chapéu se aproveitou — mormente Massa e Stroll, que estavam em 17º e 18º no grid e fecharam a primeira volta em 10º e 11º; o pequeno Lance seguiu o chefe e se deu bem. Hamilton, oitavo no grid, ganhou apenas uma posição na largada, pouco depois passou Pérez e Grosjean e depois travou breve batalha no cronômetro com Raikkonen, de quem acabaria ganhando também a posição.

Bottas controlou a corrida sem grandes problemas. Abriu 4s8 sobre Vettel em 15 voltas e foi cozinhando o galo em fogo brando. Lewis foi o primeiro da turma de ponta a parar, confirmando o que ele mesmo disse: a escolha dos pneus supermacios, diante dos ultramacios dos demais, não faria grande diferença, tanto que trocou antes, na volta 32.

Logo depois vieram Ricciardo, terceiro desde o início, e Vettel. Na 41ª, apenas, Bottas parou. E só na 44ª, depois de perder a liderança momentânea, foi a vez de Raikkonen, que voltou em quinto, atrás de Hamilton. Massa, que tinha largado com macios — os mais duros do lote –, levou o primeiro stint até a volta 48 e também não fez muita diferença. Voltou onde estava.

As bolhas nos pneus foram o maior motivo de preocupação de todos os pilotos, mas como todos sofreram igual, ninguém perdeu rendimento de forma significativa. É verdade que nas duas últimas voltas os que estavam atrás pressionaram os da frente. Vettel chegou em Bottas, a ponto de receber a bandeirada menos de 1s atrás do finlandês da Mercedes. E Hamilton colou em Ricardão, que segurou a onda sem maiores problemas e terminou em terceiro — seu quinto pódio consecutivo. Raikkonen, Grosjean, Pérez, Ocon, Massa e Stroll fecharam a zona de pontos.

Hamilton foi quem saiu no prejuízo da Áustria. A diferença de pontos dele para o líder do campeonato, Tião Italiano, passou de 14 para 20 — 171 x 151 no placar, agora. Bottas, com sua segunda vitória no ano, foi a 136 e está 15 atrás de seu companheiro de equipe. Quietinho, quietinho, vai chegando. Mas ninguém deve se iludir demais com a perspectiva de uma briga com o inglês na tabela. Ele é bom, mas não terá tantas chances assim de fazer uma corrida tão tranquila como esta — em que Comandante Amilton amargou a perda de cinco posições no grid, comprometendo seu resultado final.

Resumindo, não foi uma corrida daquelas para entrar na história, da qual nos lembraremos pela eternidade. Talvez Valtteri guarde este domingo no coração, sim. Afinal, está começando a sentir o gostinho da vitória e tal. Mas mesmo ele, daqui a alguns anos, é capaz de se recordar do dia 9 de julho apenas como aquele em que venceu seu segundo GP. E nada mais.