Blog do Flavio Gomes
Brasil

DICA DO DIA

MOGYORÓD (à espera) – Muita gente me mandou, e agradeço. Este documentário da TV pública alemã escancara a atuação da Volkswagen do Brasil como colaboradora na delação e prisão de trabalhadores durante o período da ditadura militar. É muito esclarecedor e, sobretudo, honesto. Por parte dos produtores, não da empresa — que, apesar do discurso […]

MOGYORÓD (à espera) – Muita gente me mandou, e agradeço. Este documentário da TV pública alemã escancara a atuação da Volkswagen do Brasil como colaboradora na delação e prisão de trabalhadores durante o período da ditadura militar. É muito esclarecedor e, sobretudo, honesto. Por parte dos produtores, não da empresa — que, apesar do discurso “estamos dispostos a revelar tudo”, impõe dificuldades não só às autoridades brasileiras, como ao próprio pessoal interno contratado para investigar essa página infeliz da sua história.

As entrevistas são muito boas, diretas, objetivas, e me chamou muito a atenção o depoimento de um advogado que trabalhava como diretor jurídico da VW — o protótipo da direita brasileira, chega a dar ódio do sujeito pela desfaçatez, pelo cinismo, pela escrotidão.

Vejam, vale muito a pena. Acabei de assistir aqui na sala de imprensa de Hungaroring, porque cheguei bem cedo e estava com tempo. Fiquei pensando nos meus carrinhos, no carinho que tenho por eles — os Fusquinhas, a Kombi, o Karmann-Ghia, a Variant, o Gol GT, os Passats, se esqueci algum, que me perdoe. Todos nasceram na fábrica de São Bernardo, exatamente no período em que, sob seus faróis e pneus, operários eram espionados pela segurança da companhia e denunciados para os órgãos de repressão, que profanavam seus sagrados portões para levá-los à tortura e à morte.

Os carros não têm culpa, é tudo que consigo pensar. Se pudessem, protegeriam aqueles homens e mulheres que os construíram, que apertaram seus parafusos, montaram seus motores e suspensões, costuraram os tecidos de seus bancos, ligaram seus fios e cabos, os trouxeram à vida.

Enquanto isso, nas sombras de um regime assassino, assassinos iguais entregavam esses homens e mulheres, com pleno conhecimento de todos que usavam paletó e gravata em São Bernardo e em Wolfsburg.

Alguns alemães, às vezes, me dão a sensação de que, apesar do esforço de outros tantos alemães, não conseguem aprender algumas coisas.