Blog do Flavio Gomes
F-1

SHIELDERSTONE (3)

RIO (pronto) – Vai ser uma das imagens do ano, certamente. Depois de vencer o GP da Inglaterra pela quinta vez, quarta consecutiva, Hamilton foi parar nos braços do povo. A alegria, incontida, era mais do que compreensível. Porque para além da marca histórica — igualou as cinco vitórias de Jim Clark no país –, […]

ding175

RIO (pronto) – Vai ser uma das imagens do ano, certamente. Depois de vencer o GP da Inglaterra pela quinta vez, quarta consecutiva, Hamilton foi parar nos braços do povo. A alegria, incontida, era mais do que compreensível. Porque para além da marca histórica — igualou as cinco vitórias de Jim Clark no país –, Lewis conseguiu dominar a prova de um jeito até irritante e animador para sua segunda metade de campeonato: fez a pole, a melhor volta, liderou de ponta a ponta. Um Grand Chelem (já falamos disso? C.H.E.L.E.M, que significa “Como Humilhar Esses Lazarentos [em] Espetacular Massacre”, e “Grand”, que é “grande”, mesmo), o quinto de sua carreira. Que tem, agora, 57 vitórias — quatro delas nesta temporada.

[bannergoogle]E o mais importante, no fim das contas: reduziu, em uma corrida, a diferença que o separava de Vettel na luta pelo título de 20 pontos para um único, mísero, solitário, minguado pontinho. O placar aponta 177 x 176 para o alemão.

E o alemão?

Sebastian não fez uma corrida boa, não.

Na largada, perdeu a terceira posição para Verstappinho, o que condicionou sua prova e cobraria seu preço no final. Por não conseguir passar o holandês — houve uma tentativa forte na 14ª volta, mas levou um chega pra lá –, antecipou sua parada para a volta 19, tentando um “undercut” sobre o piloto da Red Bull. Funcionou. Max parou na volta seguinte para anular a estratégia do ferrarista, mas acabou voltando atrás. E com Hülkenberg entre os dois.

Só que ambos, Vettel e Verstappen, teriam de levar aqueles pneus até a bandeirada, percorrendo mais voltas do que o previsto e o desejado. Não seria fácil.

Lá na frente, a coisa já estava tranquila para Hamilton e Raikkonen, o segundo colocado. A prova até que tinha começado agitadinha, com um esfrega-esfrega entre Kvyat e Sainz Jr. (que vexame, dois pilotos da mesma equipe, coisa feia…) levando o safety-car a ser acionado entre as voltas 2 e 5. Antes disso, a primeira largada fora abortada por conta da quebra do pobre Palmer a caminho do grid. Deixou o carro abandonado na grama, que teve de ser removido pelo automóvel clube local.

Se na ponta o sossego dos dois primeiros causava alguns bocejos, lá atrás, em compensação, o agito era dos bons. Ricardão, que largara na última fila, vinha jantando quem encontrava pela frente. E Sapattos, nono no grid por causa de uma punição (trocou o câmbio, perdeu cinco posições), começava a fazer valer sua estratégia de largar com pneus macios, esticar o primeiro stint e dar um gás no fim com supermacios.

Na metade da prova Hamilton fez sua parada. Ainda voltou na frente de Bottas, àquela altura segundo colocado, graças aos pit stops dos adversários. Só na 32ª volta o finlandês parou, e nessa escalada acabou ganhando a posição do jovem Max, assumindo o quarto lugar. À frente dele, Hamilton, Kimi e Vettel.

[bannergoogle]Lewis voava. A diferença para o segundo colocado, depois das paradas, foi aumentando até chegar a coisa de 14s na altura da volta 35. Raikkonen, por sua vez, tinha uma vantagem confortável de 5s para Vettel e ninguém na Ferrari, pelo menos até ali, tinha coragem de pedir algo esquisito ao finlandês, sob o risco de receber dele um grunhido pelo rádio.

Tirando Ricciardo, que vinha passando todo mundo, a prova viveu um certo marasmo até a volta 43, quando Bottas, com um carro mais rápido e pneus melhores, finalmente chegou em Tião Italiano para lutar pelo pódio. Na primeira tentativa, tchan. Não deu. Na segunda, tchun. Passou. Um trofeuzinho Valtteri levaria para casa. Chegar em Kimi, porém, era mais difícil e não haveria tempo.

Mas…

Mas a borracha traiu Raikkonen. E Verstappen. Faltando duas voltas, os dois apareceram nos boxes com seus pneus estropiados, os dianteiros esquerdos. O risco de se desintegrarem era grande, eles levaram até onde dava, mas tiveram de trocar. Então, Vettel beliscaria um pódio de novo, o que estaria de ótimo tamanho para um desempenho dos menos brilhantes até ali.

Mas…

Mas a borracha traiu Sebastian, também, e sem dar tempo de reagir. O pneu dianteiro esquerdo arregaçou, ele teve de dar uma volta quase inteira todo arrebentado, metal faiscando no asfalto, conseguiu chegar nos boxes, trocou, mas despencou na classificação. Kimi ainda salvou um pódio, estava muito à frente dos demais, e chegou em terceiro. Verstappinho também tinha folga para fazer a parada extra e foi o quarto. Ricardão, Hulk, Vettel, Ocon, Pérez e Massa fecharam a zona de pontuação.

Vettel deveria ter parado antes, prevendo o estouro do pneu? Talvez, mas naquela situação, faltando uma volta, qualquer um faria o mesmo e ficaria na pista, rezando para que aguentasse. Não aguentou. A parada antecipada para passar Verstappen é que fez com que o segundo stint fosse mais longo que o previsto, e essa pode ter sido a razão do desgaste excessivo — mas é apenas uma tese. A Pirelli fala em furo no caso de Sebastian. E desgaste, no caso de Kimi. Uma investigação completa será levada a cabo. Vamos ver quais serão as conclusões.

Restou ao alemão ficar com a tromba arrastando pelo piso do paddock. Tromba também foi vista no rosto fechado de Raikkonen, que se queixou da sorte num desabafo que só não foi comovente porque Kimi não está nem aí para essas coisas. “Azar de merda”, disse, pelo rádio. “Nunca funciona com a gente, parece piada.”

Enquanto Hamilton, depois da cerimônia de pódio, se jogava na multidão que invadiu a pista inglesa, uma imagem entre engraçada e constrangedora surgiu na tela da TV, gerada a partir da sala de entrevistas coletivas dos três primeiros colocados. De um lado, Bottas. Do outro, Raikkonen. Os dois com cara de banana, entediados e meio irritados.

Porque entre eles havia uma cadeira vazia. Era a reservada ao vencedor da prova, que estava lá fora festejando com a turba enlouquecida. Foram longos minutos até Hamilton aparecer. Uma coisa meio desrespeitosa, embora a festa fosse mais do que justificada pelo domingo perfeito, como definiu.

Não sei se pediu desculpas aos companheiros.