Blog do Flavio Gomes
Indy, IRL, ChampCar...

A PRIMEIRA DE GUGELMIN

RIO (por onde anda?) – A seção “Na Garagem” de hoje no Grande Prêmio lembra, em texto de Gabriel Curty, os 20 anos da primeira — e única — vitória de Maurício Gugelmin na Indy. Foi em Vancouver, Canadá, no dia 31 de agosto de 1997. Maurício não vencia uma corrida havia dez anos, desde […]

gugelmin97RIO (por onde anda?) – A seção “Na Garagem” de hoje no Grande Prêmio lembra, em texto de Gabriel Curty, os 20 anos da primeira — e única — vitória de Maurício Gugelmin na Indy. Foi em Vancouver, Canadá, no dia 31 de agosto de 1997. Maurício não vencia uma corrida havia dez anos, desde a F-3000, em 1987. No ano seguinte foi para a F-1, onde ficou cinco anos até migrar para os EUA como tantos outros que entraram pela porta aberta por Emerson Fittipaldi.

Convivi bastante com Gugelmin nos seus anos de F-1, quatro temporadas pela March-Leyton House e uma pela Jordan — que quando ele correu lá, em 1992, usou um motor Yamaha que era um problema.

Ele correu o tempo todo sob a sombra de dois monstrengos, Piquet e Senna, e acabou não tendo o destaque que merecia. Era ótimo piloto, mas aparentemente, na F-1, nunca esteve no lugar certo na hora devida.

Lembro-me de duas passagens dele em 1989, seu melhor ano na categoria — aliás, estou ficando repetitivo, porque já escrevi sobre isso quando Gugelmin fez 50 anos. A primeira, em Jacarepaguá. Numa corrida em que todos os olhos se voltavam para Senna, foi ele quem foi ao pódio, com um brilhante terceiro lugar — atrás da Ferrari de Mansell, que conseguiu a primeira vitória de um carro cujas marchas eram trocadas por borboletas atrás do volante, e da McLaren de Prost.

Na entrevista coletiva na sala de imprensa, que ficava sob uma tenda onde a temperatura passava fácil dos 40 graus, as perguntas foram quase todas dirigidas aos dois primeiros colocados. A imprensa brasileira, em bom número, era tímida e não fazia perguntas em inglês. Quando o mestre de cerimônias encerrou os trabalhos, Maurício falou: “Ninguém vai perguntar nada pra mim?”. Então, os jornalistas locais se aproximaram dele com seus gravadores e bloquinhos de notas.

Na nossa equipe da “Folha”, coube a mim cobrir Gugelmin e Piquet. Nem mencionei o episódio no texto que escrevi — falha grave. O relato, na capa do caderno de Esportes, contava apenas como foram as últimas voltas da corrida e a perseguição a Prost, destacava que o piloto tinha cumprido seu primeiro objetivo no ano, e igualmente não incluía uma curiosidade que felizmente foi percebida pelo meu companheiro Mario Andrada e Silva em outro texto, nas páginas internas: Maurício esqueceu de pegar o troféu e a garrafa de champanhe, que ficaram no pódio e foram recolhidos pelos mecânicos da March.

Na pequena matéria sobre Piquet, em compensação, a descrição de sua saída do autódromo antes de terminar o GP foi mais divertida. Ele disse que estava indo embora mais cedo para fugir do trânsito, falou que ia para casa “tomar um banho e comer” e saiu dirigindo um Opala Diplomata. E arranhou a ré quando foi manobrar o carro para deixar o estacionamento.

[bannergoogle]A segunda passagem aconteceu em Paul Ricard, minha primeira cobertura de GP fora do Brasil. Maurício capotou na largada, ao tentar passar entre Boutsen e Berger. O carro decolou e foi-se arrastando pela área de escape. Naquela época, ainda podia usar o carro-reserva. Ele voltou correndo para os boxes, com o capacete arranhado, e foi para a nova largada. Acabou fazendo a melhor volta da prova, mas terminou em 14º, nove voltas atrás do vencedor, Alain Prost. Foi a única vez em que registou uma volta mais rápida de um GP.

O acidente foi mais cinematográfico do que grave, propriamente. Mas, por causa dele, Senna amargou uma quebra de câmbio na segunda largada. “É quando a gente força mais o câmbio, se não fosse a segunda largada não teria acontecido nada”, resmungou o então campeão mundial depois do terceiro abandono seguido. Dois dias antes dessa prova, Prost anunciou que iria deixar a McLaren no fim da temporada.

Na Indy, Gugelmin ficou por nove temporadas, sete delas na equipe PacWest. Quando parou de correr, em 2001, desapareceu. Estabeleceu-se nos EUA, onde vive até hoje, e passou a trabalhar nas empresas da família, creio que na área de reflorestamento, no Paraná e em Santa Catarina. Adora barcos e passa longas temporadas no mar. Faz muito tempo que não ouço falar dele.