Blog do Flavio Gomes
F-1

CING X SING (3)

RIO (sábado livre, nem acredito…) – A alegria, quase êxtase, de Vettel com a pole de agora há pouco em Singapura não me faz crer que a Ferrari estivesse escondendo alguma coisa até a classificação. A equipe achou alguma coisa no carro, tinha começado o fim de semana na direção errada, e corrigiu o rumo. […]

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RIO (sábado livre, nem acredito…) – A alegria, quase êxtase, de Vettel com a pole de agora há pouco em Singapura não me faz crer que a Ferrari estivesse escondendo alguma coisa até a classificação. A equipe achou alguma coisa no carro, tinha começado o fim de semana na direção errada, e corrigiu o rumo. E Sebastian, claro, achou uma volta extraordinária, muito acima da média, para conseguir a terceira pole no ano, 49ª na carreira e quarta no circuito singapuriano.

É um passo enorme para recuperar a liderança do Mundial. Porque Hamilton ficou apenas em quinto, 0s635 atrás do alemão, num circuito em que largar na frente é quase tudo. Das nove edições do GP noturno da cidade-Estado asiática, em sete o pole venceu. As exceções foram em 2008 (Massa na pole, Alonso venceu, no infame episódio do acidente proposital de Nelsinho Piquet) e em 2012 (que teve Hamilton na pole e Vettel em primeiro).

Tião Italiano já venceu essa corrida quatro vezes e conhece o caminho das pedras. Tinha começado mal nos treinos, ontem e hoje, e só começou a se recuperar no Q2 da classificação, quando deu sinais de que poderia brigar mais à frente. Até então, quem dava as cartas era a Red Bull, alternando Ricciardo e Verstappen nas primeiras posições.

[bannergoogle]É uma pista de chassi, como se diz, onde a potência do motor não tem o mesmo peso que em circuitos velozes como os dois últimos, Spa e Monza. Daí que Red Bull e Ferrari tinham mesmo um certo favoritismo em cima da Mercedes, que é muito irregular em Cingapura — em que pese o fato de ter vencido duas vezes lá. Lembro que em 2015, por exemplo, o time prateado teve seu pior desempenho, numa temporada que dominou de cabo a rabo. E, no ano passado, a vitória de Rosberg foi um alívio tremendo pelas expectativas tenebrosas — o resultado foi recebido até com uma certa surpresa.

O sábado tinha mesmo começado com cara de Red Bull, e o Q1 confirmou os prognósticos com Verstappinho e Ricardão em primeiro e segundo. Os coadjuvantes aproveitaram a primeira parte da sessão para seus brilharecos, com McLaren em terceiro (Alonso), Toro Rosso em quarto (Sainz Jr.) e Renault em sétimo (Palmer, quem diria…). Os grandões estavam se poupando. A primeira degola mandou para a balada mais cedo Magnussen, Massa, Stroll, Wehrlein e Ericsson.

Nenhuma surpresa. A Williams — que não terá chefia até o fim do ano, com Frank se recuperando de problemas de saúde e sua filha Claire no fim da gravidez — tem piorado a cada corrida e em circuitos travados não anda nada. Felipe, para piorar, deu com o pneu traseiro direito no muro em sua primeira volta rápida, teve de arrumar o carro na correria e, na segunda, cometeu um erro na última curva que acabou com suas chances de passar ao Q2.

Foi então, na segunda parte do treino, que Vettel deu o ar da graça ao virar 1min40s529 e estabelecer o melhor tempo do fim de semana. Durou pouco, porque Verstappen baixou para 1min40s379 logo depois, mas foi um bom sinal para a Ferrari. Os rubro-taurinos ainda melhoraram no fim, fazendo 1-2 de novo, mas quando Raikkonen surgiu em terceiro a impressão foi de que os italianos tinham, finalmente, acertado a mão.

O fim do Q2 foi divertido, com uma disputa de centésimos para ver quem ficaria pelo meio do caminho. E sobraram Palmer — ufa! –, Pérez, Kvyat, Ocon e Grosjean. Alguém há de argumentar que a Force India ser limada assim, sem mais, nem menos, foi surpreendente. Nem tanto. De novo, tem a ver com as características do circuito. Se tinha um lugar onde os carros rosa iriam andar mal, era em Singapura. Curvas demais, travado demais, freadas demais, muros demais, enfim, tudo demais.

Quando Kimi espetou uma volta em 1min40s069 logo na abertura do Q3, veio a certeza de que a Ferrari estava no jogo. Não com ele, que não tem sido propriamente um foguete em classificações. Mas com Vettel, normalmente mais rápido em voltas lançadas. Verstappinho entrou na casa de 1min39s814 logo em seguida, mas Vettel veio voando para fazer 1min39s669 dando o troco imediatamente.

Foi um balde d’água gelada em todo mundo, e ninguém mais chegou perto do alemão. A segunda rodada de voltas rápidas só serviu para Vettel pisotear ainda mais a concorrência, baixando seu tempo para 1min39s491, abrindo 0s323 de Verstappen, o segundo colocado. Ricciardo ficou em terceiro e Raikkonen, em quarto. A Mercedes teve de se contentar com a terceira fila, Hamilton e Bottas. Depois vieram Hülkenberg, Alonso, Vandoorne e Sainz Jr.

Sebastian estava alucinado ao sair do cockpit. Disse que até chorou depois da última volta, porque, em suas palavras, estava tudo “muito difícil” até ali. O favoritismo anunciado depois de Monza não vinha se confirmando, deixando todo mundo em Maranello numa agonia sem fim.

O time manteve a cabeça no lugar, porém, e não se desesperou. Acho que ganhou a corrida hoje. Acho que Vettel sai de Singapura liderando o campeonato de novo — a diferença pró-Hamilton é de apenas três pontos. Mas acho, também, que todo cuidado é pouco para a Ferrari. Tião Italiano tem ao seu lado na primeira fila um franco-atirador, Verstappinho. A chance da Red Bull de ganhar uma corrida nesta reta final de temporada, em condições normais, é essa. Max vai se atirar feito um doido na primeira curva. Mais: o GP de Singapura teve safety-car em todas as suas edições. Se é verdade que normalmente o pole vence, é igualmente verdadeiro afirmar que coisas estranhas sempre podem acontecer em circuitos de rua. E mais ainda: Hamilton vai se contentar com um medíocre quinto lugar, ou vai inventar alguma coisa? “Esta pista é um cu para ultrapassar e a gente já esperava“, resmungou o inglês.

Por tudo isso, acho que pode ser um corridão, amanhã.