Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE (ANTE)ONTEM DE MANHÃ

RIO (não atrasarei mais) – Bem, apesar de a corrida de Singapura não ter sido grande coisa, largada à parte, este foi um daqueles finais de semana em que muita coisa aconteceu — McLaren trocando a Honda pela Renault, Honda fechando com a Toro Rosso, Sainz Jr. assinando com a Renault, Force India renovando com […]

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Arrivabene percebe o tamanho da desgraça na largada: “Madonna mia!”

RIO (não atrasarei mais) – Bem, apesar de a corrida de Singapura não ter sido grande coisa, largada à parte, este foi um daqueles finais de semana em que muita coisa aconteceu — McLaren trocando a Honda pela Renault, Honda fechando com a Toro Rosso, Sainz Jr. assinando com a Renault, Force India renovando com seus dois pilotos para 2018, Mercedes fazendo o mesmo com Bottas, a notícia de que Kubica estaria fazendo uns testes nos simuladores da Williams, Red Bull atrás de novo fornecedor de motores (que em algum momento pode vir a ser a Aston Martin), teve de tudo um pouco.

Mas é claro que os primeiros metros da prova em Marina Bay concentraram as conversas de bar, se é que alguém ainda conversa sobre F-1 em bares, cabarés, saunas, banhos turcos, escritórios, padarias, bancas de jornal & similares.

[bannergoogle]Como todo mundo a essa altura deve ter uma opinião formada, reforço a minha. Acidente de corrida, causado por uma série de decisões erradas em sequência de pilotos — vejam bem: erradas, não ilegais — e largadas ruins de pelo menos três dos que estavam nas primeiras filas, a saber: Verstappen, Ricciardo e Vettel.

Acho que Vettel tomou a decisão errada de imediatamente guinar para a esquerda para se defender de um eventual ataque de Verstappen, sem nem perceber que o holandês tinha largado mal. Era um risco desnecessário, porque o moleque poderia ter largado bem e encheria sua traseira se tivesse feito isso.

Acho que Raikkonen tomou a decisão errada de guinar para a direita antes de concluir totalmente a ultrapassagem sobre Verstappen, achando que o piloto da Red Bull iria fazer o mesmo para evitar uma batida. Talvez tenha esquecido dos pneus mais largos.

Acho que Verstappen não fez nada de errado, exceto largar mal. E Ricciardo também vacilou, o que lhe salvou a vida, diga-se — ele mesmo admitiu. Hamilton, em compensação, largou muito bem e fez, pelo lado direito da pista, o mesmo que Kimi pelo lado esquerdo: passou um carro da Red Bull que empacou quando deveria estilingar.

O azar de Raikkonen foi ficar perto do muro demais, correndo o risco de pegar a parte pintada da pista muito molhada — o que explicaria sua ânsia para tomar logo uma linha decente e fazer a primeira curva. As fotos abaixo mostram um pouco do que aconteceu. O sanduíche de Verstappen parece evidente. Sobrou para Kimi voltar a pé depois de uma de suas melhores largadas no ano.

Lewis, por sua vez, ao ver o melê todo à sua frente, até tirou o pé e não foi para a briga com Vettel, que escapou da primeira panca, mas não sobreviveu ao carro todo furado, vazando água, óleo, creme de leite e azeite de oliva. Rodou e bateu. O inglês, então, assumiu a ponta para não largar mais.

Hamilton teve muita serenidade para descrever o incidente e atribuiu a desgraça de Vettel ao azar. “Ele provavelmente não viu que Kimi estava passando pelo outro lado”, especulou, explicando que a defesa da posição, para quem está na pole, é absolutamente natural.

[bannergoogle]Acredito que sua leitura se aproxima do que, afinal de contas, aconteceu: um azar desgraçado de Vettel, que, no entanto, não pode dar sopa para o azar nessa altura do campeonato. E por isso é que acho que a decisão de se proteger foi equivocada, diante do tanto que ele teria a perder em caso de um acidente. Algumas coisas que são normais e corriqueiras em começo de temporada têm de ser evitadas numa reta final com título sendo disputado. Ainda mais com Verstappen logo atrás. O cara jamais iria tirar o pé, como não tirou.

A foto lá no alto, na verdade um “frame” capturado da TV, foi a que escolhi como a mais significativa do domingo, por mostrar bem o tamanho da tragédia ferrarista. Maurizio Arrivabene percebeu na hora que seu campeonato poderia estar escorrendo pelos dedos, com um abandono duplo de seus pilotos — o primeiro desde o GP do México de 2015.

Foi, realmente, trágico para Maranello. Mas menos trágico para Verstappinho, que com seu jeito arrogante de sempre disparou a…

Max: desta vez não fui só eu

FRASE DE SINGAPURA

“Eu não tinha para onde ir porque os dois me espremeram. Sebastian foi muito agressivo para a esquerda, o que não entendo. Quando se está brigando pelo campeonato, com Lewis bem atrás no grid, não me parece ser o movimento mais inteligente a fazer. Mas no fim das contas estou feliz porque os três abandonaram, e não só eu.”

Max Verstappen na linha “se eu tenho de me dar mal, que eles morram, também”

Hamilton, o vencedor, acabou dando uma sorte danada com esse acidente, depois de amargar um sábado horrível, conseguindo apenas o quinto lugar no grid. Lembram do que ele disse depois da classificação? Que teria um domingo dificílimo, porque o circuito de Singapura “é um cu para ultrapassar”.

Nosso cartunista oficial Maurício Falleiros não deixou escapar:

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Lewis voltou a evocar o nome de Ayrton Senna para falar de sua terceira vitória seguida, sétima na temporada. Falou que lembrou de seu ídolo para manter a concentração e que o brasileiro “conversou” com ele durante toda a corrida para que não se repetisse o que acontecera em 1988, em Mônaco — para quem não lembra, Senna liderava a prova com um ano de vantagem sobre Prost quando bateu miseravelmente na entrada do Túnel, atribuindo a barbeiragem à “falta de concentração” num momento em que a corrida estava fácil e parecia ganha. OK.

Menos bafejado pelas vozes do Além, quem comemorou um recorde em Singapura foi Nico Hülkenberg. Bem, “comemorou” talvez não seja exatamente o termo…

O NÚMERO DE MARINA BAY

…GPs completou o alemão da Renault na F-1, tornando-se o piloto com maior número de corridas disputadas sem um pódio sequer na história da categoria. Ele superou seu conterrâneo Adrian Sutil, que disputou 128 sem levar uma única tacinha para casa. Hulk tem três quartos lugares como melhores posições em sua trajetória que começou em 2010 na Williams, com passagens posteriores por Sauber e Force India até chegar ao time francês. Ele até brincou com o tema. “Acaba a era Sutil e começa a era Hülkenberg”, disse. Levou na boa.

Quem acabou comemorando de verdade na equipe amarela, apesar de receber a notícia de que será dispensado no ano que vem, foi Jolyon Palmer, sexto colocado, que agora inicia uma luta inglória para permanecer na F-1.

Receio que será em vão. O roteiro de sua passagem pela categoria tende a ser muito parecido com o de Felipe Nasr. Não haverá lugar para ele em 2018. Paciência. Também não fará muita falta, embora seja justo reconhecer que fez uma boa corrida em Singapura.

Outro personagem da prova de Marina Bay foi Alonso. “Era corrida para chegar no pódio”, lamentou o espanhol no Instagram. De fato, ele tinha a chance de fechar a primeira volta em segundo, atrás apenas de Hamilton, depois de uma largada excepcional. Não seguraria uma Mercedes e uma Red Bull ao longo de duas horas de prova, talvez. De qualquer forma, sonhar não paga imposto. Ainda mais na situação em que a McLaren se encontra.

Molecagem: geralmente, é quem ri

“Mas o que é um peido para quem já está todo cagado?”, argumentará alguém com aquele linguajar típico de marmanjos bêbados no botequim. Sobre isso, Ricciardo teria o que dizer. Aliás, nem precisou dizer nada, no caso. Na entrevista coletiva pós-corrida, não é que o cara disparou um clássico pum ao lado de Hamilton e Bottas? O finlandês quase não conseguiu falar, de tanto dar risada. É carisma demais, desse australiano. Que, aliás, acabou sendo um dos grandes nomes da prova, conseguindo seu sétimo pódio na temporada. Está guiando muito. E continua divertindo o paddock.

Fechando o rescaldo, escolhi dois pilotos para nossa seção “Gostamos & Não gostamos”, um que está se preparando para uma nova vida numa equipe bem razoável, e outro que já tem de começar a pensar no que fazer no futuro.

GOSTAMOS…

Sainz: ótimo

…do quarto lugar de <<< Carlos Sainz Jr., que não foi bem na classificação, mas acabou se recuperando na corrida com um ótimo quarto lugar. Pelo rádio, o pessoal da Toro Rosso brincou com ele: “Não vamos deixar você sair daqui”, disse o chefe Franz Tost. Dá para perceber que o menino vai chegar com moral à Renault. É muito bom, inteligente, combativo e promissor. Ficar perto do pódio correndo em time pequeno é uma proeza e tanto.

NÃO GOSTAMOS…

Massa: péssimo

…da atuação de Felipe Massa >>>, que escolheu os pneus errados na largada — um dos poucos com o modelo para chuva forte –, teve de fazer uma parada extra para corrigir a bobagem e colocar intermediários e, como demorou para fazer isso (por que não parou no safety-car?), se arrastou um tempão até colocar slicks. Ele mesmo admitiu que deu tudo errado e que fez uma corrida “horrível”. Para piorar, Stroll pontuou.