Blog do Flavio Gomes
F-1

BELEZA AMERICANA (3)

SÃO PAULO (falta pouco) – Uma vitória de Hamilton em Austin, a quinta em seis edições da corrida no circuito texano, não era muito difícil de prever. Foi tranquila, com uma parada apenas, sem grandes sustos, brevíssimos momentos em que não esteve na ponta. Deu mais um passo, enorme, para conquistar seu tetracampeonato. Deve fechar […]

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SÃO PAULO (falta pouco) – Uma vitória de Hamilton em Austin, a quinta em seis edições da corrida no circuito texano, não era muito difícil de prever. Foi tranquila, com uma parada apenas, sem grandes sustos, brevíssimos momentos em que não esteve na ponta. Deu mais um passo, enorme, para conquistar seu tetracampeonato. Deve fechar no México — o de Construtores, matematicamente, a Mercedes ganhou hoje. E ainda recebeu seu troféu das mãos de Bill Clinton, uma das muitas celebridades presentes ao GP dos EUA.

Foi uma corrida legal, e polêmica por conta da última volta, em que Verstappinho, num movimento genial, passou Raikkonen para assumir o terceiro lugar e só foi perder a taça quando já estava na salinha pronto para subir ao pódio. Por cortar caminho por fora dos limites da pista, de acordo com os comissários (e as imagens são bem claras, é preciso admitir), o holandês foi punido com 5s em seu tempo e a posição foi herdada pelo finlandês da Ferrari. Vettel ficou em segundo, onde largara. E a diferença na tabela foi a 66 para o inglês, que para ser campeão no Hermanos Rodriguez precisa apenas de um quinto lugar, mesmo se o alemão ganhar. Acabou.

Depois de Lewis, Vettel, Kimi e Verstappen, os quatro primeiros, chegaram na zona de pontos Bottas (apagado), Ocon (ótimo), Sainz Jr. (estreando muito bem na Renault), Pérez, Massa e Kvyat. Algumas boas atuações e muito oba-oba dos organizadores podem até não ter feito desse GP um evento inesquecível, mas foi divertido e marcante. Já desde antes da largada, quando os pilotos começaram a ser chamados por um famoso locutor de boxe (esqueci o nome, mas não sou exemplo para ninguém, vivo esquecendo nomes), como se adentrassem um ringue. O público adorou.

Sobre essa a apresentação dos pilotos, que para muita gente foi a coisa mais importante do GP, vou falar em outro post, porém. Provavelmente amanhã, e também no “GP às 10” ao longo da semana. Beleza assim? Entendo que tenha causado tanta espécie. É uma mudança estética bem visível e merece algumas palavras. Mas vamos à corrida — que, no fim, é o que mais importa.

A largada de Vettel foi excepcional, finalmente, e ele foi decidido para a primeira curva. Hamilton respeitou, até tentou recuperar a ponta, mas percebeu que o alemão não iria aliviar em nada — e nem deveria. Por isso, evitou uma queda-de-braço prematura. Não era necessário.

Bottas x Ricciardo foi o primeiro duelo de nível, e o finlandês não se rendeu ao sorriso de muitos dentes do australiano, mantendo a terceira posição na primeira investida da Red Bull. Na segunda, também. A questão era ver onde iria parar aquela disputa, até então belíssima.

Sebastian, com outras preocupações em mente, tratava apenas de tentar escapar de Hamilton. Não estava fácil. Lewis não deixava a diferença passar muito de 1s e dava a impressão de que tinha alguma sobra de equipamento. Sem muito esforço, ia fazendo voltas rápidas e ciscando no retrovisor do alemão, que se esgoelava para ficar na frente.

E na primeira tentativa de ultrapassagem, na sexta volta, Hamilton mostrou que estava sobrando, mesmo. Mergulhou na freada para o grampo e passou. Tião Italiano não tinha muito o que fazer. Viu o Mercedão passando à sua esquerda e se conformou com o que o destino lhe reservava para a tarde ensolarada no Texas. No máximo, um segundo lugar.

[bannergoogle]Restou, então, deixar as coisas lá na frente por um tempo para ver o que Verstappen andava aprontando. Lá de trás no grid, 16º depois de várias posições perdidas por troca de motor, o holandês já estava em sétimo na nona volta. Como tinha pneus supermacios contra os ultra-gosmentos da maioria, faria sua primeira parada bem tarde, naquela clássica corrida de recuperação — clichê que não tem nenhum equivalente, então vai esse mesmo. Na décima volta, o jovem Max passou Ocon e assumiu o sexto posto. Com isso, a ordem natural das coisas se estabelecia, com os seis pilotos das três principais equipes nas seis primeiras posições.

Voltando à vaca fria da disputa do título, cinco voltas depois de passar Vettel, Hamilton já abria mais de 3s de vantagem para o alemão da Ferrari. Cheguei a pensar cá com meus botões se Lewis não teria deixado o rival passar na largada de propósito, só para dar uma breve alegria ao entusiasmado público de chapéu, botas, esporas e fivelas enormes nos seus cintos de caubóis. Algo para vibrarem, sacaram? São tão legais, por que não?

No final da volta 13, ao perder Bottas de vista, Ricciardo abriu a janela de pit stops dos ponteiros, logo depois de ser atacado por Raikkonen. Voltou em nono e na minha bolsa de apostas particular anotei: vai chegar atrás do Verstappen, o que fará com que aquele sorriso desapareça por algumas horas.

Mas nem deu tempo para registrar a aposta num cartório. Três voltas depois, Ricardão abandonou com o motor quebrado. Assim, meus possíveis ganhos foram invalidados pelo Alto Comissariado de Apostas no Meio das Corridas. Já era.

Vettel parou na volta 17 e colocou pneus macios. Duas voltas depois, foi Bottas a levar o carro para os boxes. Na 20ª volta, Hamilton trocou os pneus também e, como fizera a Ferrari com Sebastian, colocou macios. Saiu dos boxes numa preguiça comovente e, quando se deu conta, Vettel estava colado nele. Oh, vai ter briga pela liderança de novo!

Coitado de Vettel… Se pensou o mesmo, também se deixou levar pelo otimismo exagerado. Lewis olhou no espelhinho e viu um carro vermelho chegando rápido, é verdade. Opa, esse aí não é o Vettel? Era. Tomou um sustinho. Durou duas curvas. Acelerou e foi embora de novo. Depois, deu uma cornetada na equipe, dizendo que “foi perto”, dando a entender que a Mercedes poderia tê-lo chamado antes.

Verstappen assumiu a liderança, então, sem pit stops, ainda. Hamilton chegou nele rapidinho e, com pneus novos, passou sem grande dificuldade reassumindo a ponta. Max finalmente parou na volta 25, no mesmo instante em que Alonso, que fazia boa corrida em oitavo, abandonou — motor, claro.

O holandês tinha uma estratégia para pódio. Restava saber quanto tempo seus pneus macios aguentariam com uma performance aceitável. Voltou em quinto, pouco mais de 21s atrás do líder. Teoricamente, todos à sua frente ainda teriam de fazer mais uma parada. Ele, talvez não. Até um segundo lugar seria possível. Pensei em apostar novamente, mas o Alto Comissariado de Apostas no Meio das Corridas vetou porque já estávamos na volta 28, exatamente metade do GP dos EUA — e a jogatina só é válida, de acordo com o regulamento, até uma volta antes da metade.

[bannergoogle]Felizmente não apostei nada, porque Verstappen acabou parando de novo, na volta 38. A borracha não iria suportar tanto. E a decisão da Red Bull foi esperta. Max estava bem perto, já, de Bottas e Raikkonen. Ao parar antes dos dois, teria pneus novos por mais tempo. A ideia era ganhar, pelo menos, as posições de ambos, que já tinham pneus mais velhos e não iriam parar mais. A Ferrari reagiu rápido chamando Vettel, para não correr o risco de perder o segundo lugar, também, e deixá-lo até o fim da corrida com borracha nas mesmas condições que o garoto rubro-taurino.

Kimi, enquanto seus pneus aguentassem, estava disposto a mostrar serviço. Na volta 42, foi para cima e passou Bottas, assumindo o segundo lugar. Não faltava muito para acabar a corrida. Hamilton estava 9s5 à frente. O inglês não iria parar mais. Àquela altura, seria um suicídio. Se fosse para uma segunda troca, Kimi se manteria na pista até se não tivesse mais borracha em torno de suas rodas. Enquanto isso, Verstappen vinha chegando. Do ponto de vista estratégico, era um bom GP. As definições ficariam para as voltas finais, e tudo dependeria daquilo que os pneus de cada um entregariam.

Vettel, em quarto com pneus ultramacios novos, se aproximava rapidamente de Bottas. Verstappen vinha babando junto. Os três primeiros, já estava claro, tinham uma estratégia de pit stop único, mesmo perdendo rendimento no fim. Hamilton era o único tranquilo, podendo administrar a vantagem sobre Kimi, que já saltava para mais de 12s a oito voltas do final. Ele e Bottas, por sua vez, teriam de se preocupar mesmo era com Vettel e Verstappen.

Sebastian, então, começou a sair à caça do segundo carro da Mercedes, para garantir pelo menos uma tacinha. E chegou muito rápido. Na volta 51, com pneus em condições bem melhores, se atirou por fora na Curva 1 e levou, numa manobra linda. Na sequência, chegou igualmente rápido em Raikkonen, que não ofereceu resistência, e assumiu de novo o segundo lugar. Mais atrás, Verstappen também passou Bottas, que praticamente sem pneus acabou parando para uma segunda troca — o pódio já estava perdido, mesmo.

Restando três voltas, o máximo que poderia acontecer era Verstappen atacar Kimi pelo terceiro posto. Havia uma chance, estava mais rápido por conta de seus ultramacios mais novos que os macios esgarçados do #7 da Ferrari. E ele chegou de vez na última volta, que seria um martírio para Raikkonen.

Foi mesmo. Max, com uma destreza muito acima da média, não se jogou como um doido, esperou pela hora exata e na penúltima curva conseguiu a ultrapassagem num ponto improvável, recebendo a bandeirada em terceiro de forma brilhante. Seria um pódio dos mais merecidos e belos da temporada. Mas não levou.

A direção de prova considerou que Verstappen fez a ultrapassagem por fora dos limites da pista, perdendo 5s em seu tempo de prova. Assim, Kimi recuperou a terceira posição. O piloto da Red Bull foi avisado na salinha. Não falou nada. Nem olhou para a cara de Raikkonen, que fora chamado para seu lugar. Desceu as escadas e foi embora.

Do ponto de vista legal, acho que as imagens não deixam muitas dúvidas sobre a irregularidade nesse exato instante. Mas… Mas… Ah, sei lá. Não pode, não pode. Mas deveria poder. Ou não. Acho que pôde o fim de semana todo, vi gente andar no vermelho o tempo todo. E não aconteceu nada, nem nos treinos, nem na corrida. Sei lá. Regra é regra, é o que dirão os legalistas. Eu responderia apenas que é pena que existam algumas regras.

Para tudo na vida.