RIO (estou é com fome) – Nossa, que horror de corrida. Abu Dhabi é a coisa mais jeca que existe na F-1. Iluminação feérica, hotel de não sei quantas estrelas, iates, parque temático da Ferrari, pôr-do-sol, piscina de borda infinita (isso não sei se tem), luxo, milionários por todos os lados e uma pista de bosta. Nunca teve um GP bom nesse buraco artificial do mundo. Torço para que, um dia, um tsunami varra o autódromo do mapa. Ou que alguém perfure um poço de petróleo ali do lado e abra-se uma cratera no deserto grande o bastante para engolir esse circuito de merda.
Isso dito, palmas para Valtteri Bottas, que fez o que tinha de fazer, ganhou de ponta a ponta, fez a pole e a melhor volta, terminou o ano bem — apagou, de certa forma, a derrota em Interlagos. Hamilton, o segundo, chegou a ameaçar em um único momento, na 49ª das 55 voltas do GP. Chegou a colar no companheiro, mas depois deu uma erradinha e desistiu. “Não dá para ultrapassar nesta pista, eles precisam fazer alguma coisa com esse traçado”, foi o que disse após a prova. Não diga… Bom, lamento dizer que não farão nada. Pagam, e bem, para fazer esse espetáculo deprimente, do ponto de vista esportivo. Enquanto pagarem, será assim.
[bannergoogle]A prova não teve nada de bom. Ah, a disputa entre o Stroll e o Grosjean pelo 13º entre as voltas 9 e 12!, observará o mala mais atento. Filhote, Stroll x Grosjean não entra na minha categoria de “algo de bom” para corridas de F-1. Ah, Alonso x Massa na volta 24 quando o espanhol saiu dos boxes e passou o brasileiro!, seguirá o ainda atento mala das redes sociais. Filhote, Alonso passou na primeira tentativa e foi embora. Ah, então a corrida virtual de sábado foi melhor!, vai gritar esse mesmo mala.
Tenderei a concordar. Deve ter sido, porque essa aí, de verdade, foi de doer.
Até a 15ª volta, do primeiro ao 12º não houve nenhuma mudança de posição. Foi quando Verstappen abriu a janela de pit stops — uma parada para todos foi o padrão. Quando Ricciardo abandonou com problemas hidráulicos na volta 21 — na hora em que pegou carona na lambreta da organização, o cara que estava pilotando mandou o australiano colocar o capacete, e ele obedeceu, talvez não confiando demais naquele sujeito –, todo mundo subiu uma posição. Foi péssimo o abandono para o sorridente canguru. Ele perdeu o quarto lugar no Mundial para Raikkonen, quarto na corrida.
Se a Renault fez presepada com o jovem espanhol, com Hülkenberg só tinha a comemorar. Mesmo com uma punição de 5s no pit stop por ter passado Pérez por fora da pista, o alemão terminou a corrida em sexto, levando o time a superar a Toro Rosso na classificação entre as equipes. O time francês ficou em sexto, o que representa uma bela grana a mais na premiação. Por isso tantos abraços ao final da corrida. Hulk, aliás, foi a única coisa que prestou na prova.
Bottas, Hamilton, Vettel, Raikkonen e Verstappen foram os cinco primeiros. O ferrarista, que confirmou o vice-campeonato, chegou cerca de 20s atrás de Valtteri — que, por sua vez, venceu pela terceira vez no ano e na carreira (as outras foram na Rússia e na Áustria). Um vexame e um retrato do que foi a segunda metade da temporada: Mercedes voando, os outros comendo migalhas. Aí veio Hülkenberg em sexto e, fechando os pontos, Pérez, Ocon, Alonso e Massa.
Felipe encerrou sua carreira estacionando o carro no meio da reta, junto aos dos dois primeiros colocados. Foi aplaudido pelo público e pelos colegas. Pelo rádio, agradeceu a todos na Williams e recebeu palavras carinhosas do time. Fechou a temporada com 43 pontos, em 11º — na frente do jovem Stroll, pelo menos. Foi uma despedida digna, mas acho que já falamos bastante disso em outras oportunidades. Já deu.
Hamilton terminou o ano pontuando em todas as corridas. Aliás, será o “número de Abu Dhabi” amanhã no nosso rescaldão. Porque apenas duas vezes na história alguém foi campeão pontuando em todas as etapas: Schumacher em 2002 e, agora, Lewis (Fangio, em 1954, pontuou em todas menos na Indy 500, que contava pontos para o Mundial, mas ninguém da Europa ia para lá correr). É um negócio importante, acho. E mesmo se não for, é prova mais do que robusta de que mereceu, e muito, o tetra.
E já voltamos para falar da mudança do logotipo da F-1.