Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE (ANTE)ONTEM À TARDE

RIO (sempre atrasadinho) – Sabe que eu acho que esse negócio de escrever o “Sobre ontem…” na terça-feira prejudica a temperatura do material? Preciso resolver isso. Mas é que segunda-feira é dose, já devo ter explicado. Mas explico mais uma vez: tenho dois programas na TV e aula à noite. Sobra o período da manhã […]

beijinhosalonso
Alonso e Vandoorne: muito amor

RIO (sempre atrasadinho) – Sabe que eu acho que esse negócio de escrever o “Sobre ontem…” na terça-feira prejudica a temperatura do material? Preciso resolver isso. Mas é que segunda-feira é dose, já devo ter explicado. Mas explico mais uma vez: tenho dois programas na TV e aula à noite. Sobra o período da manhã para produzir tudo, mas ontem de manhã eu estava num avião voltando para cá.

Enfim, peço desculpas de novo e prometo que no ano que vem revejo isso. Ou, talvez, encerre a série. Não porque dá muito trabalho. Estou acostumado. O problema é que a audiência do blog, e desconfio que de blogs em geral, tem caído muito. Incrível. É uma ferramenta — ou plataforma, como queiram — até recente. Os blogs têm o quê? Pouco mais de dez anos? Este aqui faz 12 daqui a menos de um mês, dia 5 de dezembro. Eles surgiram como alternativa à mídia tradicional, golpeada pela velocidade da internet. Ótima ferramenta, diga-se: sem limitações físicas como as impostas pelo preço do papel e pelo tamanho das páginas de jornais e revistas, com possibilidades múltiplas — publicação de fotos, animações, ilustrações, áudios, vídeos — e, sobretudo, espaço para que nós, jornalistas (e quem mais quisesse) pudéssemos escrever sem preocupação com espaço e com liberdade editorial.

[bannergoogle]O problema é que os blogs foram atropelados, nos últimos cinco anos, pelas redes sociais. As pessoas, hoje, leem aquilo que chega a elas por uma lógica ditada pelos algoritmos do Facebook, do Twitter e do Instagram, e pelos grupos de WhatsApp. Não procuram mais nada. Ler um blog dá um “enorme” trabalho, nessa nova realidade: é preciso lembrar dele e acessá-lo com frequência. As redes, por sua vez, entregam tudo em domicílio, sem demandar esforço algum. O sujeito pega seu telefone e as coisas começam a aparecer sem que o usuário precise… pensar.

Pois é, dramas reais de quem vive de escrever. Fiz uma experiência neste GP do Brasil. Em vez de notinhas curtas em ritmo frenético, apelei para os textões, como se diz. Para ver se ainda tem gente disposta a ler, a parar um tempinho diante do celular ou do computador para se informar sem pressa e ter algum prazer com um bom texto (os meus são bons, não sou muito modesto).

Não posso dizer que tenha sido um grande sucesso. E não sou só eu que ando meio preocupado com o futuro deste veículo de comunicação. Meu brother Fábio Seixas anunciou que o seu blog, no ar desde 2006, encerra as atividades depois de Abu Dhabi. No caso dele, excesso de trabalho na TV. E para fazer direito, é preciso dedicar tempo e suor. Para fazer mais ou menos, melhor parar. Foda.

Mas vamos em frente, depois deste breve ensaio sobre as mídias e nossas mazelas.

Escolhi a foto lá em cima como “imagem do GP” pela ternura da cena. Alonso foi um dos grandes nomes dessa corrida e saiu animado de Interlagos, pensando em 2018. “Vai ser divertido”, falou, empolgado com a chegada da Renault. Aliás, já escolhi alguém para torcer no ano que vem. Adoraria ver esse cara lutando pelo título de novo. É um dos maiores talentos da história, que corre o risco de ser subvalorizado pelos resultados ruins de muitas temporadas desperdiçadas no lugar errado — especialmente nesta segunda passagem pela McLaren.

A batalha com Massa ficará na memória dos dois. “Ele não cometeu nenhum erro”, elogiou o espanhol. “Zero, durante a corrida toda. E no fim, ele sabendo que eram suas últimas voltas em Interlagos, jamais me deixaria passar. Eu não teria chance nenhuma, Felipe iria se defender como nunca.” Ao fim da prova, saiu de seu carro e aplaudiu o ex-companheiro de Ferrari na entrada dos boxes. Muito legal.

Outro que andou bem e usou toda sua experiência para não permitir o gran finale da epopeia de Hamilton pelo pódio foi Raikkonen. Todo mundo achou que ele iria perder a posição nas últimas cinco voltas, com Lewis voando. Que nada. “Na verdade, foi bem fácil defender minha posição. Eu tinha um carro bom e sabia que se não cometesse nenhum erro estúpido, ele não passaria”, disse Kimi. E segurou com classe.

Hamilton chega em Verstappen: ultrapassagens divertidas

No fim, o resultado poderia ter sido outro se Hamilton largasse na pole. Uma corrida bem chata. Com ele atrás, foi OK, suas ultrapassagens mamão-com-açúcar ajudaram a empolgar a turma nas arquibancadas, assim como as de Ricciardo — que só não fez mais porque, segundo a Red Bull, a Renault ficou com medo de novas quebras e configurou seu motor de uma forma conservadora.

Para a Mercedes, Lewis foi “maravilhoso” e ganharia se não tivesse tido problemas na classificação. “O que vimos não foi a corrida real”, concluiu Toto Wolff. Verdade.

O evento, como um todo, foi bem padrão Brasil. No lugar das muitas atrações — de gosto duvidoso — dos EUA e do México, vimos alguns famosos (deviam ser, a maioria eu não conhecia), a torcida barulhenta e animada de sempre, um bom público de mais de 140 mil pessoas nos três dias e o destaque para a mega-estrela Anitta, que cantou o Hino Nacional.

E é dela a…

FRASE DE INTERLAGOS

Anitta: sem papas na língua

“Vou torcer pra Renault, é por isso que eu estou aqui.”

Foi a resposta da cantora à tradicionalíssima pergunta “vai torcer para os brasileiros?”, que sempre fazem às celebridades em Interlagos. No caso, um brasileiro só, Massa. A repórter da Globo, Mariana Becker, aproveitou para incluir Hamilton na pergunta, já que Anitta e o tetracampeão mundial são amigos. Mas a menina foi honestíssima. Adorei.

Falamos de Massa lá em cima, de seu duelo com Alonso, e o brasileiro também merece algumas palavras pelo bom resultado, the best of the rest, como se diz — tirando as duplas de Red Bull, Mercedes e Ferrari, foi o primeiro a receber a bandeirada. Um resultado bem melhor que a panca do ano passado, que acabou proporcionando uma primeira despedida emocionante em todos os sentidos, mas no fim das contas foi apenas isso, uma panca.

Desta vez, Felipe chegou ao final, e bem. Sua largada, para quem viu pela câmera onboard, foi muito boa. E a batalha com o espanhol, bem bacana.

No ano que vem não haverá brasileiros no grid. E isso fez nosso cartunista oficial Maurício Falleiros cravar:

Falle1ros

É, mas não volta mais. Já era. Ou: é o fim de uma era. Dá para dizer que sim, uma era termina. O primeiro GP do Brasil foi disputado em 1972, 45 anos atrás — não contou pontos para o Mundial, sendo incluído no calendário oficialmente no ano seguinte. Nunca foi disputado sem um brasileiro no grid. Em 2018, não haverá nenhum.

Estou curioso para saber como as coisas vão se desenrolar, em todos os sentidos — venda de ingressos, cobertura da TV, espaço na mídia, comportamento dos torcedores nas arquibancadas… Domingo, por exemplo, a Globo foi bem econômica na transmissão. Em vez de um longo e ininterrupto pré-GP, como acontecia antigamente, quem ligou a TV mais cedo viu “Os Trapalhões”. Sinal dos tempos?

Bom, eu falando lá em cima do preconceito do povo com textos grandes e já perpetrando mais um… Vamos acelerar.

O NÚMERO DO BRASIL

…GPs vendo a bandeira quadriculada tinha Esteban Ocon até a corrida de Interlagos. Uma marca incrível. Desde a estreia pela Manor no GP da Bélgica do ano passado, o jovem francês nunca tinha abandonado uma prova. Aliás, o pessoal do Grande Prêmio me contou — mas não achei essa informação em lugar algum — que ele não abandonava uma corrida desde 2014! Bom, no Brasil foi acertado pelo desastrado Grosjean na primeira volta. Acabaram com sua graça.

E fechamos nosso rescaldão com a gloriosa seção “Gostamos & Não gostamos”, para passar a régua de vez.

GOSTAMOS

Massa & Rubens: vencedores

…de ver Massa >>> no pódio, dando seu último adeus aos torcedores em Interlagos. E foi simbólica a presença, com ele, de Barrichello. Foram os dois últimos brasileiros que venceram GPs na F-1. Felipe, no Brasil em 2008; Rubens, na Itália em 2009.

NÃO GOSTAMOS

Bottas na largada: frouxo

…da largada de <<< Bottas, que partiu da pole, mas não conseguiu nem fazer a primeira curva na liderança. Depois, não ameaçou Vettel em momento algum. Como Hamilton mostrou (embora tivesse um motor zero, o que ajuda), a Mercedes tinha carro para vencer. Foi mal.