Blog do Flavio Gomes
F-1

PRO HALO DA HISTÓRIA (1)

RIO (não vai “holar”) – Gente do céu. Como é feio esse negócio. Juro, estava disposto a aceitar o halo com alguma boa vontade. Usei até frases de efeito na TV. “Se salvar uma única vida nos próximos cem anos, já terá valido a pena”, falei. Bobagem. Se tiver de pensar assim, que se extingua […]

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RIO (não vai “holar”) – Gente do céu. Como é feio esse negócio.

Juro, estava disposto a aceitar o halo com alguma boa vontade. Usei até frases de efeito na TV. “Se salvar uma única vida nos próximos cem anos, já terá valido a pena”, falei.

Bobagem. Se tiver de pensar assim, que se extingua a atividade automobilística e motociclística no planeta imediatamente. Óbvio que nos próximos cem anos morrerão pilotos de carros e motos, então pode-se usar raciocínio análogo para afirmar que se sua extinção salvar uma única vida terá valido a pena, certo?

[bannergoogle]Errado. Para morrer, basta estar vivo, não é o que dizem? Morre-se de tudo neste planeta desgraçado, corrida é apenas mais uma causa de, e não é das maiores. É evidente que tudo que puder ser feito para aumentar a segurança de quem corre deve ser feito — e tem sido, os carros e as pistas são mais seguras do que antes, novos materiais são desenvolvidos, padrões são estabelecidos e seguidos. Mas isso tem de ser feito desde que não descaracterize a natureza do objeto em questão — no caso, carros; mas poderiam ser teleféricos, esquis, rodas-gigantes, piscinas, tudo aquilo que está sujeito a um acidente. Vamos proibir aviões porque de vez em quando eles caem e matam todo mundo, e se deixarem de existir milhares de vidas serão salvas nas próximas décadas?

Não. Não, mil nãos a esse halo dos infernos, que acabou com um negócio que é essencial na F-1: a estética.

Um esporte não pode prescindir da beleza. Carros de F-1 são belos, coloridos, harmônicos, sedutores. Aquela merda de tira de chinelo sobre a cabeça do piloto é uma insanidade. Vou defender até o fim da vida sua remoção. Viram como as imagens onboard ficaram horríveis? E os carros, vistos de fora? Podem ser mais feios? Até o gestual dos pilotos para entrar e sair do cockpit, antes charmoso e solene, se transformou numa ginástica bizarra com os caras se pendurando naquela porcaria como se estivessem pulando uma cerca. Que bosta, que bosta!

Feito o desabafo, vamos a uma breve análise do primeiro dia de treinos em Melbourne.

A pré-temporada pode não ser definitiva, mas traz boas pistas sempre, e na prática dá para fazer prognósticos razoavelmente precisos a partir de sua observação. Observamos que a Mercedes foi a mais forte em Barcelona, e que Red Bull e Ferrari estariam na cola como no ano passado. Foi isso que aconteceu, ao fim e ao cabo, e o favoritismo de Hamilton para o título se confirmou.

Mas não é vantagem nenhuma dizer o óbvio. O campeonato é longo e sempre podem acontecer imprevistos. O primeiro deles, inclusive, já está… previsto! Chuva sábado e domingo. Hoje fez sol e calor, 25°C e 45°C no asfalto, condição totalmente diversa da que se verificou na Espanha. Nessas condições, Lewis fez P1 nos dois treinos. No segundo, que é o mais significativo, ficou pouco mais de 0s1 à frente de Verstappinho. Longe de um massacre, portanto — mas deve-se considerar que o Parque Alberto não é bem um padrão para o ano inteiro.

Ricardão já perdeu três posições no grid por não tirar o pé numa bandeira vermelha, que interrompeu o treino por um problema num cabo de cronometragem. Se chover mesmo, não será um grande problema. Mas atrapalha, claro. A surpresa da sexta foi a Haas, com Grojã em sexto, à frente do australiano da Red Bull. A Ferrari escondeu o jogo e não foi buscar tempo com os pneus ultramacios. Estranha decisão, considerando a previsão do tempo para a classificação e a corrida. Mas sinal de que com os macios, se a prova for disputada no seco, Vettel e Raikkonen podem desfrutar bem desses pneus em stints longos.

[bannergoogle]Foi bem a McLaren com Alonso e Vandoorne em oitavo e décimo nas duas sessões, apesar de um problema entre escapamento e carenagem no primeiro treino que tirou os dois da primeira hora de atividade. O resto, tudo mais ou menos previsível: Sauber e Williams lá atrás, Force India (que desistiu de mudar de nome) discreta e muito equilíbrio no segundo escalão.

Vamos torcer pela chuva, ela é sempre bem-vinda para embaralhar as coisas.

E vamos torcer para alguma boa alma extirpar esse halo de nossas vidas e mandá-lo para o ralo da história.

Ah, mais uma coisinha. A Liberty resolveu mudar o padrão gráfico dos caracteres e das informações disponíveis na tela para a transmissão da TV. Não achei nada de mais, nem de menos — ainda. Parece que estão tentando simplificar as coisas, e inventaram umas baboseiras como escrever “zona de perigo”, “alerta de acidente”, “cuidado, meninos”, “curva perigosa”, umas mensagens babacas para retardados. O que notei foi que tivemos menos informação disponível e mais papagaiada desnecessária, uma tentativa de fazer a corrida mais parecida com um videogame — com a justificativa de sempre, atrair público mais jovem.

Na boa, a vida não é um videogame.