Blog do Flavio Gomes
F-1

CHINELADAS (3)

RIO (o que seria da vida sem isso?) – Ah, o imponderável… Foi assim, para quem não viu. A corrida estava meio morna, com Bottas em primeiro, Vettel em segundo, Verstappen em terceiro, Hamilton em quarto e Ricciardo em quinto, isso ali pela altura da 30ª volta em Xangai. Todo mundo muito conservador, uma parada apenas, o […]

chinaric18

RIO (o que seria da vida sem isso?) – Ah, o imponderável…

Foi assim, para quem não viu.

A corrida estava meio morna, com Bottas em primeiro, Vettel em segundo, Verstappen em terceiro, Hamilton em quarto e Ricciardo em quinto, isso ali pela altura da 30ª volta em Xangai. Todo mundo muito conservador, uma parada apenas, o segundo stint da maioria com pneus médios para aguentarem até o fim da prova.

[bannergoogle]Bottas havia assumido a liderança na volta 21, depois de um ótimo pit stop uma volta antes da troca de Sebastian, que ponteava a corrida com alguma segurança desde a largada. Fora, até então, o único momento digno de nota do GP da China — afinal, era uma troca de líder, ainda que consumada num pit stop.

Foi quando, longe de todos eles, bem lá no fundão, a Toro Rosso pediu a Hartley para deixar Gasly passar. Disputavam posição de nenhuma importância, 17º e 18º pela ordem, meritíssimo. Hartley não entendeu, ou não escutou. Gasly mergulhou. Bateram miseravelmente.

Nenhum dos dois abandonou na hora, seria apenas mais uma cagada de equipe pequena com pilotos inexperientes, mas restos mortais de seus carros ficaram espalhados pela pista e o safety-car foi acionado para que uma faxina pudesse ser levada a cabo no local, o grampo que fica ao final da grande reta chinesa.

Ah, o imponderável…

A Red Bull foi muito rápida e ordenou imediatamente que seus dois pilotos corressem para os boxes, já que justo na hora em que a bandeira amarela em todo o circuito foi apresentada garbosamente pelos comissários os dois passavam pela vizinhança. Em ambos, o time colocou pneus macios com dois pit stops de uma precisão arrasadora — a Mercedes comeu bola, poderia ter chamado Hamilton para fazer o mesmo, mas vacilou.

Max caiu para quarto ao sair do pitlane. Ricciardo se manteve em quinto. Mas eles voltaram para a fase final da prova com borracha nova e veloz, dispostos a engolir todos os outros que seguiam com seus pneus de pau e achavam que não seriam incomodados por nada nem ninguém em suas corridinhas medíocres.

Então, começou o show. De horrores, no caso de Verstappen. E de puro talento, no de Ricardão. E uma prova condenada ao lixo da história se transformou numa briga frenética após a relargada, briga que começou com Ricciardo passando Raikkonen na volta 37 — o safety-car deixara a pista na 36ª — e com a primeira pixotada de Verstappinho. O holandês foi para cima de Hamilton com apetite desnecessário numa pista que tem alguns pontos claros de ultrapassagem, levou um chega-pra-lá do inglês, escapou de leve e perdeu duas posições. Uma delas para o companheiro de equipe.

O australiano escancarou seu melhor sorriso naquele momento. A corrida era para Max, com aqueles pneus. Estava à sua frente e iria passar todo mundo. Como se precipitou, deixou caminho aberto para ele. Daniel iniciou então uma série de manobras de altíssima complexidade para passar Hamilton na volta 40, Vettel na 42 e Bottas na 45, assumindo a liderança e correndo para o abraço.

Foram lindas ultrapassagens, contando com pneus melhores, é verdade, mas com uma margem de erro muito pequena diante de carros que, apesar de tudo, ainda carregavam alguma velocidade na reta final do GP. Uma exibição de gala. E uma aula para o parceiro imberbe que é ótimo, mas tem enorme dificuldade para avaliar o melhor momento de realizar determinadas operações.

Verstappen ainda coroaria sua tarde de parvoíces ao tentar passar Vettel na volta 43, depois de se recuperar um pouco e finalmente superar Hamilton, assumindo o quarto lugar. Tentava salvar um pódio ao menos. Só que errou o cálculo, freou tarde demais, travou as rodas, bateu no alemão. Ambos rodaram. Max tomou 10 segundos de multa. Vettel despencou e terminaria a corrida em oitavo, tendo sido passado ainda, no final, por Alonso.

[bannergoogle]Os dois conversaram depois da corrida. Incrivelmente, Tião Italiano perdoou o holandês dizendo que “isso acontece”. Mais incrivelmente ainda, Verstappen assumiu o erro. “Foi meu, claro”, disse. E levou uma dura monstro de Helmut Marko, guru rubro-taurino, por ter desperdiçado a chance de protagonizar uma dobradinha da equipe.

Hamilton terminou em quarto, no fim das contas, e considerou a prova um “desastre” para a Mercedes — o pódio teve Ricciardo, que chegou à sexta vitória na categoria, Sapattos e Kimi.

Tem alguma coisa de errado mesmo com o carro alemão, que não se entende mais com os pneus. Ora ele se queixa do calor, ora do frio. Parece tia velha e chata. Ora se dá bem com a borracha mais dura, ora com a mais mole. Uma confusão total que ninguém está entendendo em Stuttgart e adjacências. Mesmo assim, poderia ter  vencido se não fosse o safety-car, já que Bottas matinha a ponta com algum conforto até então.

Na classificação, a diferença de Vettel para Hamilton, que era de 17 pontos após o Bahrein, caiu para nove. Nesse sentido, não foi um domingo de todo ruim para os prateados. O prejuízo foi minimizado, como se diz. Problema, mesmo, é o desempenho. No sábado, uma tunda de mais de meio segundo na classificação. No domingo, um cacete de desempenho frente à Ferrari e outro de estratégia diante da Red Bull.

A impressão que a Mercedes passa é de que está meio perdida depois de três provas que poderia ter ganhado, dando um rumo para o Mundial e minando a confiança dos adversários, e não conseguiu. Desde o início dessa malfadada era turbo, em 2014, a equipe não ficava três corridas seguidas sem vitória.

É uma situação nova, com a qual o time terá de aprender a lidar.

Só sei que esse campeonato começa melhor que a encomenda. O que é sempre bom.