Blog do Flavio Gomes
F-1

DESERTO D’ALMAS (3)

RIO (esse moço…) – “Mamma mia.” Já está se tornando um hábito Vettel comemorar vitórias assim. Porque às vezes nem ele acredita no que consegue fazer. Foi assim hoje na corridaça do Bahrein, uma prova em que muitos pilotos abusaram da excelência no ofício. Sebastian, por óbvio, foi um deles. Bottas, o segundo colocado, também. […]

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RIO (esse moço…) – “Mamma mia.” Já está se tornando um hábito Vettel comemorar vitórias assim. Porque às vezes nem ele acredita no que consegue fazer. Foi assim hoje na corridaça do Bahrein, uma prova em que muitos pilotos abusaram da excelência no ofício. Sebastian, por óbvio, foi um deles. Bottas, o segundo colocado, também. Idem para Hamilton, o terceiro — até as últimas dez voltas, mais ou menos, ele acreditava que os dois primeiros talvez tivessem de parar para uma segunda troca de pneus, e por isso imprimiu um ritmo alucinante, com pneus médios, que lhe daria a vitória se isso acontecesse.

Mas não aconteceu. O plano inicial da Ferrari, aparentemente, era esse mesmo: um segundo pit stop para colocar supermacios no carro do alemão e garantir o primeiro lugar sem muitos sustos. Só que quando a Mercedes espetou médios nos seus dois pilotos, ficou claro que a intenção dos prateados era levar a corrida até o fim com apenas uma troca. E, a partir dessa estratégia, a vitória de Vettel ficou sob forte ameaça. Então, Tião Italiano recebeu a missão: se vira, negão.

[bannergoogle]Missão dada, missão cumprida. O cara se virou, e como. Nas últimas dez voltas, seus pneus macios já estavam em petição de miséria. Ele fizera sua parada na volta 18. Teve de completar 40 com a mesma borracha. E foi justamente nessas últimas dez voltas que Valtteri partiu para cima do ferrarista. Uma perseguição implacável, com tempos de volta quase 1s melhores, até que nas duas últimas ele teve a chance de abrir sua asa para tentar a ultrapassagem.

Sucede que Vettel, nessa fase derradeira do GP barenita, guiou como um anjo. Não que tenha precisado se defender de tentativas do finlandês. Elas não aconteceram, porque no Bahrein não precisa fazer ginástica para ultrapassar. Há duas retas grandes o suficiente nas quais a asa móvel ajuda uma barbaridade. Um carro um pouco mais rápido passa. Bottas chegou. Mas talvez tenha lhe faltado ímpeto para tentar. Ou, o que me parece mais sensato dizer, sobrou talento em Vettel para fazer voltas em tempos praticamente impossíveis com aqueles pneus arregaçados.

O suspense sobre as eventuais segundas paradas de Vettel e Bottas se arrastou até as últimas voltas no circuito do deserto, levando Hamilton, que largara em nono, a perguntar pelo rádio a cada 30 segundos o que deveria fazer para ganhar a liderança quando o rival fosse para os boxes. E foi esse suspense que fez da prova uma das melhores dos últimos tempos.

Mas teve mais. Falei sobre excelência no ofício lá em cima, e como não incluir nessa lista quase todos os outros que pontuaram? Pierre Gasly foi o quarto colocado com a Toro Rosso e com a Honda, levando aos boxes do time de Faenza a mais genuína alegria que se pode ver no automobilismo — um grande resultado de uma equipe pequena. Kevin Magnussen, com o quinto lugar da Haas, também merece cada aplauso que recebeu, a exemplo de Alonso, o sétimo — o cara está em quarto no campeonato, acreditem. E também é necessário tirar o chapéu para um piloto normalmente malhado sem dó, o sueco Marcus Ericsson, que levou a charrete da Sauber até a nona colocação, depois de andar em sexto na primeira parte da corrida, adiando seu pit stop ao máximo.

O GP do Bahrein, no entanto, não foi só de festa. Duas equipes saíram de Sakhir cabisbaixas e derrotadas. A Red Bull, ao perder seus dois carros logo no início da prova. Ricciardo parou com uma pane elétrica, aparentemente, na segunda volta. Estava em quarto, e o carro apagou do nada. Verstappen também estragou seu domingo de cara. Tentou passar Hamilton no meio do pelotão, ainda na segunda volta, e furou um pneu. Se arrastou para os boxes, trocou, mas na sexta volta abandonou. A outra equipe abaixo da crítica foi a Williams, que terminou a prova com seus pilotos em penúltimo e último, entre aqueles que foram até o final.

[bannergoogle]E houve o drama terrível do mecânico da Ferrari que teve a perna quebrada na segunda parada de Raikkonen. Ele segurava o pneu traseiro esquerdo, que acabou não sendo colocado porque a roda original não foi retirada. Mas o responsável pela luz verde que libera o piloto do pit stop deu o sinal mesmo assim, e Kimi arrancou. O rapaz foi atingido pela roda tracionando e a imagem foi horrível,  osso se quebrando aos olhos de todos. A equipe mandou o finlandês parar o carro imediatamente. Vettel não foi informado do que acontecera até o fim da corrida. O mecânico foi atendido no hospital do autódromo e provavelmente seria removido para outro local porque aquela contusão, pelo visual, iria exigir uma cirurgia.

Um GP repleto de atuações brilhantes, resultados surpreendentes e com uma forte carga de drama, no final. Vettel conseguiu sua segunda vitória no ano — mamma mia! — e já tem 50 pontos na bolsa. O campeonato começa parecido com o do ano passado, temporada que o alemão liderou até a 13ª etapa, mas tendo de conviver o tempo todo com a sensação de que Hamilton acabaria passando por ele a qualquer momento, o que acabou acontecendo. A diferença neste ano está nas declarações de Lewis. Ele tem sido muito enfático ao dizer que a Ferrari tem um carro tão rápido quando o seu, tanto em corrida, quanto em classificação.

Se for isso mesmo, sair perdendo de 2 a 0 é de preocupar. Ainda bem que domingo já tem corrida de novo. Essa de hoje deixou gostinho de quero mais.