Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE ONTEM DE MANHÃ

RIO (já foi) – A lista de fotos que eu poderia escolher como “imagem da corrida” para marcar o GP do Azerbaijão é grande. Poderia ser o carro de Alonso todo estropiado no começo. Ou o pneu de Bottas voando no fim. Ou ainda os sorrisos largos e abertos de Pérez e Leclerc. A freada mal calculada […]

RIO (já foi) – A lista de fotos que eu poderia escolher como “imagem da corrida” para marcar o GP do Azerbaijão é grande. Poderia ser o carro de Alonso todo estropiado no começo. Ou o pneu de Bottas voando no fim. Ou ainda os sorrisos largos e abertos de Pérez e Leclerc. A freada mal calculada de Vettel, talvez. E, claro, o óbvio registro da batida de Ricciardo em Verstappen, acidente pelo qual será lembrado eternamente essa corrida de Baku.

Mas fico com outra. A imagem da solidariedade. Hamilton se atrasou para ir ao pódio receber seu troféu de vencedor improvável porque, antes, fez questão de passar pelos boxes da Mercedes para dar um abraço em Bottas. E, lá no degrau mais alto, não comemorou com muito entusiasmo o resultado que, sabia, não mereceu. Assim, fiquemos com o abraço. São raras essas demonstrações de afeto na F-1.

Lamento, amigão: Hamilton abraça Bottas, vítima de um pneu furado a duas voltas do final em Baku

“Vida de piloto é assim”, falou o desafortunado finlandês. “Tem dia bom, tem dia ruim, e tem dia muito ruim.” Sábias palavras. Seria uma ótima frase para este glorioso rescaldão, mas tenho preocupações estéticas com a seção e não vou repetir a cara triste de Bottas, não. Ela já está aí em cima. No lugar do lamento do piloto da Mercedes, vamos dar uma canja a Fernando Alonso, El Fodón de la Puntuación. Ele tem sido bom de declarações nos últimos tempos. A de ontem:

A FRASE DE BAKU

Alonso: persistente e dedicado

“Corri pela honra. Qualquer piloto abandonaria se seu carro estivesse todo arrebentado como o meu, só com duas rodas, bico e assoalho quebrados. Não é qualquer um que faria o que eu fiz, não. Foi a melhor corrida da minha vida”

Fernando Alonso, que se envolveu num acidente com Sergey Sirotkin logo na primeira volta, se arrastou com dois pneus furados até os boxes, consertou o que deu, voltou e terminou em sétimo

Foi, de fato, uma atuação heroica do espanhol. Que, entre os 20 pilotos que começaram o campeonato, agora se coloca ao lado de Hamilton e Vettel como os únicos que pontuaram nas quatro corridas disputadas até agora. É o sexto colocado na classificação do Mundial com 28 pontos.

[bannergoogle]Fernandinho está tirando leite de pedra numa McLaren que melhorou com a Renault, sim, mas ainda está longe de se colocar como candidata a pódios, por exemplo. O motor não quebra tanto quanto o da Honda e não é ruim. Mas também não é bom o bastante para fazer frente aos Mercedes e Ferrari.

O carro é mais ou menos. Em classificação, não paga placê. Quando começar a frequentar o Q3 com assiduidade, poderemos esperar alguns showzinhos do asturiano. Por enquanto, ele está mesmo é pagando de piloto guerreiro.

Em menor escala, Brendon Hartley também mereceu cumprimentos calorosos da Toro Rosso. Afinal, conseguiu marcar um pontinho com a décima colocação, o primeiro de sua vida. O que nos leva ao…

NÚMERO DO AZERBAIJÃO

…pilotos fazem parte da lista dos que marcaram pontos na história da Fórmula 1, lista que ontem recebeu o neo-zelandês Brendon Hartley após o décimo lugar em Baku e o monegasco Charles Leclerc, sexto colocado. Desde o GP da Espanha de 1976 que um piloto da Nova Zelândia não pontuava. O último fora Chris Amon, quinto colocado em Jarama. E o último monegasco tinha sido Louis Chiron, no GP de Mônaco de 1950. A estatística foi surrupiada do blog do Rodrigo Mattar. Com o resultado no Azerbaijão, apenas dois dos 20 desta temporada estão zerados: Grosjean e Sirotkin.

Bom, estou rodeando, rodeando, e chegou a hora de falar sobre os meninos da Red Bull. Notei, de ontem para hoje, que a imensa maioria dos seguidores da categoria está jogando nas costas de Verstappinho a culpa pelo acidente, ainda que Ricciardo tenha batido atrás. E, normalmente, quem bate atrás é culpado.

Meu amigo Alberto Sabbatini, da “Autosprint”, escreveu até uma “carta aberta” ao jovenzinho holandês, defendendo uma curiosa teoria: ele precisa que alguém o agarre pelo pescoço e mostre que é preciso ter juízo, que lhe ensine a correr como adulto, que lhe explique que não se pode fazer o que der na telha na F-1. Segundo o jornalista italiano, Senna viveu esse rito de passagem quando ainda corria pela Lotus e Mansell lhe deu uma dura em Spa. E o mesmo Senna faria algo parecido com Schumacher em Magny-Cours anos depois, explicando ao então imberbe alemão da Benetton que um certo código de conduta deveria ser respeitado naquele universo de fodões.

[bannergoogle]Sabbatini atribui também ao pai de Max, Jos Verstappen, o comportamento arrogante, competitivo e “estou cagando pra todo mundo” que seu filho desenvolveu desde os tempos de kart. É uma boa tese para papo de bar.

Eu mantenho minha opinião de ontem. Acho que Ricciardo se precipitou. O vácuo daquela reta enorme “chupou” seu carro e ele não conseguiu frear quando Verstappinho assumiu a linha de dentro para fazer a curva. O holandês mudou de direção duas vezes? Há duas maneiras de ver o movimento. Para culpá-lo, é só dizer que sim. Para absolvê-lo, pode-se argumentar que ele mexeu para a direita, apenas; quando foi para a esquerda, o objetivo era fazer a curva porque ela era para a… esquerda, ora bolas!

Enfim, discussão eterna, muitas vezes conduzida pela simpatia ou antipatia que se tem por um ou por outro. Eles não se culparam mutuamente em público. Acho que ambos perceberam que fizeram cagada.

Ricciardo sabe que poderia ter tentado depois, de uma forma menos arriscada. Afinal, sabia com quem estava lidando. E Max sabe que a leve guinada para a esquerda poderia ser interpretada como uma segunda mudança de direção. E que era desnecessário defender de forma tão agressiva uma posição não muito importante, num momento em que seu companheiro estava claramente mais rápido. Poderia ter dado o lado de fora da curva. Poderia sair da frente, retardar a freada e deixar Ricciardo passar direto. Poderia fazer um monte de coisa. Preferiu correr o risco de levar um tranco na bunda e se submeter ao tribunal da opinião pública. Todo mundo se deu mal nessa história.

E o passado recente de Max o condena, além de tudo. Entendo aqueles que, por isso mesmo, enxergaram nele o culpado exclusivo pelo sinistro. Paciência. Verstappen paga pelo que já aprontou. Neste ano, inclusive.

Mas voltemos à corrida. E o safety-car, hein? Foi decisivo mais uma vez. O que não passou despercebido, obviamente, por nosso cartunista oficial Maurício Falleiros. A pergunta do garoto aí do lado, acredito, se referia a todas as intervenções do Mercedão para neutralizar a prova. Afinal, chamar de quê a batida de Ocon em Raikkonen? E o sanduíche de Sirotkin entre um Renault e uma McLaren, tudo isso na primeira volta? E Hülkenberg, então? Se bem que ali não teve safety-car… Que voltaria apenas no final, após a mega-cagada da dupla rubro-taurina.

E encerraria de forma sublime sua participação graças a outra cagada monumental, de Grosjean, sobre quem falaremos abaixo. Porque é hora da nossa inconfundível seção…

GOSTAMOS…

Leclerc: sorriso de moleque

…muito do sexto lugar de <<< Charles Leclerc, que com uma atuação exuberante levou a fraquíssima Sauber ao sexto lugar, tornando-se o primeiro monegasco a pontuar na F-1 desde Louis Chiron, terceiro colocado de Maserati no GP de Mônaco de 1950. Apadrinhado da Ferrari e campeão da F-2 no ano passado, o menino vem deixando uma ótima impressão no ano de estreia.

 

NÃO GOSTAMOS…

Grosjean: vergonha inenarrável

…da batida ridícula de Romain Grosjean >>>, que fazia uma corrida brilhante, de último para sexto, quando deu no muro ao aquecer pneus atrás do safety-car — fazendo com que ele ficasse mais tempo na pista e abreviando as emoções das voltas finais. O francês da Haas assumiu a culpa. Disse que mexeu sem querer num botão que jogou a carga do freio para trás e as rodas travaram quando ele brecou. Aff.