Blog do Flavio Gomes
F-1

ALLONS ENFANTS (3)

MOSCOU (bendito streaming) – Não sei vocês, mas desconfio que a arrancada que a Mercedes deu no ano passado depois das férias chegou mais cedo nesta temporada. Hamilton confirmou seu favoritismo agora há pouco em Paul Ricard e recuperou a liderança do campeonato. Para melhorar ainda mais seu dia, abriu 14 pontos de Vettel, que […]

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MOSCOU (bendito streaming) – Não sei vocês, mas desconfio que a arrancada que a Mercedes deu no ano passado depois das férias chegou mais cedo nesta temporada. Hamilton confirmou seu favoritismo agora há pouco em Paul Ricard e recuperou a liderança do campeonato. Para melhorar ainda mais seu dia, abriu 14 pontos de Vettel, que viveu um daqueles domingos “para esquecer”, como se diz — ainda que tenha tido uma boa atuação, salvando um quinto lugar depois de cair para penúltimo na primeira volta.

Nos próximos dois finais de semana, na Áustria e na Inglaterra, pistas velozes nas quais motores potentes são muito bem-vindos, o inglês pode disparar na classificação. E acho que isso vai acontecer, a julgar pelo massacre mercêdico na França. O que, para a Ferrari, é o pior dos cenários.

[bannergoogle]A volta da adorável França à F-1 não vai entrar para a história por ter sido um espetáculo inesquecível, mas também não foi tão ruim assim — exceto para os torcedores que ficaram horas presos em congestionamentos enormes rumo ao circuito em Le Castellet. Quando Vettel acertou a traseira de Bottas na largada, jogando os dois para o fundo do pelotão, garantiu a cota de ultrapassagens que as ditas corridas de recuperação oferecem ao distinto público. Não dá para reclamar muito, vai… Já vimos coisa muito pior.

Sebastian assumiu o erro e foi punido por isso com 5s, pagos no seu segundo pit stop, no fim da prova. A primeira parada, obviamente, aconteceu ao final da primeira volta para trocar o bico do carro, todo arrebentado. Aproveitou para colocar pneus macios — os mais duros do fim de semana, para ficar claro — e, se desse, faria a prova inteira com eles.

Mas não deu, porque a borracha, uma hora, abre o bico. Ainda mais quando se exige muito do carro para passar todo mundo.

O ritmo alucinante do alemão, de qualquer modo, valeu o ingresso e lhe rendeu o voto do amigo internauta como “piloto do dia”. Na 13ª volta, depois de sair dos boxes em 17º, já aparecia em nono. Nas arquibancadas, a turma vibrava com gosto.

A corrida já estava desfalcada de dois carros desde o começo, os de Ocon e Gasly, que também ficaram nas confusões distintas da primeira volta. Dois franceses, coitados. Nada pior, para pilotos jovens como eles, do que abandonar o GP da casa logo no início. A vida é cruel, às vezes. Paciência. Terão de engolir o choro.

Lá na frente, as posições estavam estáveis com Hamilton na liderança, seguido por Verstappinho, Sainz Jr., Ricardão, Magnussen e o incrível Leclerc. Raikkonen era o sétimo, depois de perder algumas posições para evitar bater nos seus colegas que decidiram resolver tudo na largada. A prova começou para valer na volta 6, tempo necessário de safety-car para limpar a pista. Kimi se livrou rápido dos dois à sua frente e Ricciardo fez o mesmo com o espanhol da Renault.

[bannergoogle]Quando Vettel chegou à nona posição, os oito primeiros ainda não tinham parado e a distância dele para Hamilton era de apenas 26s5. Dava para sonhar com alguma coisa. Bottas, que vivia uma situação parecida tendo de escalar o pelotão lá de trás, não fazia uma prova tão vistosa. Era 11º quando Sebastian já trocava tinta com a turma da frente, em quinto.

Tinha se livrado de todos que poderiam incomodar, o alemão. Mas o limite parecia ser aquele. O quarto colocado estava muito longe, seu companheiro Raikkonen, 17s à frente. E seus pneus não iriam perdoar o ritmo fortíssimo do começo. Em algum momento seu desempenho iria cair.

Ontem falávamos de possibilidade de chuva, e ela não veio, afinal. O domingo foi de sol entre nuvens, com temperatura na casa dos 24°C. Na metade da corrida, volta 26, Verstappen abriu a janela de paradas e colocou macios, como os de Vettel. Saiu dos boxes um tiquinho à frente do ferrarista e rapidamente sumiu na frente. Ali a borracha do alemão já dava sinais de fadiga.

Ricciardo parou na 29ª, voltou atrás de Vettel, mas logo depois passou por ele sem nenhuma dificuldade, com os mesmos pneus macios — mas muito mais novos. O pit stop solitário de Hamilton aconteceu na volta 33. O de Kimi, na 35ª. E foi o finlandês quem acabou fazendo algo diferente. Em vez de macios, como os demais, calçou supermacios, para fazer um segundo stint mais veloz e lutar pelo pódio. Seu alvo era o australiano da Red Bull.

Na volta 39, Raikkonen tinha um ritmo muito melhor que Vettel e passou por ele sem objeções, assumindo o quarto lugar. Sebastian faria a segunda e inevitável troca duas voltas depois. Estava lento demais depois de abusar dos pneus desde a segunda volta. A briga que restava era pelo terceiro lugar, e Kimi foi à luta. Com uma borracha mais aderente que a de Ricciardo, descontou a diferença que tinha para o australiano da Red Bull até ultrapassá-lo na Mistral na volta 47. Fez uma corridinha muito digna, o tagarela da Finlândia. Para mim, o melhor do dia, e não Vettel.

Houve um pequeno drama nas voltas finais, quando Sainz Jr., num bom sexto lugar, quase chorou ao rádio ao informar à equipe que estava perdendo potência. Magnussen e Bottas aproveitaram e passaram por ele. Um safety-car virtual, por estouro no pneu de Stroll, ajudou o espanhol. A relargada se deu apenas na última volta e ele ainda conseguiu salvar os pontinhos da oitava posição.

[bannergoogle]Foi a 65ª vitória da carreira de Hamilton, na sua 33ª prova seguida nos pontos. Foi a 145 na classificação, contra 131 de Vettel. Verstappen recebeu a quadriculada 7s depois do inglês e Kimi fechou o pódio. Ricciardo, Vettel, Magnussen, Bottas, Sainz Jr., Hülkenberg e Leclerc completaram a zona de pontuação. Destaques aí? Bem, a Renault levou seus dois carros aos pontos, Magnussen conseguiu um ótimo sexto lugar e de novo Leclerc terminou entre os dez primeiros. Acho que nada de muito mais relevante. Dos chiliques de Alonso falaremos amanhã, no “Sobre ontem…”.

Hamilton não estava nem suado ao final das 53 voltas do GP francês. Com serenidade, agradeceu à equipe, ao pessoal dos motores (a atualização do Mercedão impressionou), ao público no autódromo e, para encerrar, saudou a seleção da Inglaterra que pouco antes, na Rússia, havia goleado o Panamá por 6 a 1. “Foi um ótimo domingo para todos”, concluiu.

Não há como negar que para os ingleses, no esporte, o domingo foi mesmo excelente.