Blog do Flavio Gomes
F-1

HOT HOT HOT (1)

[bannergoogle]MOGYORÓD (entendedores entenderão) – Bom dia, macacada. A primeira pauta que a Evelyn Guimarães me deu aqui na Hungria foi: fotografe os carros dos pilotos! Nem suba à sala de imprensa sem as fotos! De início não compreendi bem a determinação. Carros dos pilotos, salvo engano, os que nos interessam especialmente, são aqueles coloridos cheios […]

[bannergoogle]MOGYORÓD (entendedores entenderão) – Bom dia, macacada. A primeira pauta que a Evelyn Guimarães me deu aqui na Hungria foi: fotografe os carros dos pilotos! Nem suba à sala de imprensa sem as fotos!

De início não compreendi bem a determinação. Carros dos pilotos, salvo engano, os que nos interessam especialmente, são aqueles coloridos cheios de patrocínios, uns mais, outros menos, já não muito ruidosos, com pneus grandes e uma estranha alça sobre o capacete cuja função, além de torná-los feios, é proteger seus desmiolados condutores. Mas assinamos serviços fotográficos de agências, as equipes mandam imagens ótimas, há profissionais gabaritados e talentosíssimos espalhados por todas as curvas, retas, cotovelos e zonas de segurança de Hungaroring, enquanto eu, equipado de um parco telefone celular com câmera embutida, nada de muito especial seria capaz de fazer, do ponto de vista estético.

Mas OK, vou lá fotografar os carros dos pilotos, ordens são ordens e quem sou eu para desobedecer a suprema comandante deste site  que de cara nova oferece imagens gigantescas e sofisticadas para seus usuários?

Voltei com exatas dez fotografias de automóveis estáticos dentro dos boxes, alguns sem rodas, outros sem nariz, a maioria deles com pessoas em volta mexendo num parafuso aqui e numa mola ali, considerei que um retrato de cada equipe estava bom, afinal os carros são iguais para ambos os pilotos, e quando mandei uma mensagem de volta informando que a missão estava cumprida, Evelyn me perguntou: qual o carro do Hamilton e qual o do Vettel?, e então achei a pergunta estranha, quase descabida, alguém na posição que ela ocupa na estrutura organizacional da empresa deveria saber que o carro do primeiro é um Mercedes, e do segundo, uma Ferrari, mas sei lá, são muitas responsabilidades, por vezes esses altos cargos deixam as pessoas com a cabeça a mil, e então respondi exatamente o que vocês imaginam e o que responderiam também: o do Hamilton é uma Mercedes prateada (de número 44, adi, certo de que informação nunca é demais) e o do Vettel uma Ferrari vermelha (numeral 5 igual ao do Mansell, que foi campeão aqui em 1992, acrescentei, desta vez para impressionar a chefia com meu conhecimento enciclopédico, e ainda valorizei o dado: “Eu estava aqui, inclusive”).

[bannergoogle]Não fui demitido imediatamente porque gozo de alguma estabilidade na empresa, já que quando cheguei ainda vigoravam as antigas leis trabalhistas. De São Paulo, soube que sugeriram uma suspensão por tempo indeterminado sem remuneração, mas nossa comandante suprema, generosa — embora sempre muito rigorosa –, segurou a onda.

Com muito jeitinho, sem alterar o tom de voz, me chamou diante de seu computador, abriu o e-mail com as fotografias que eu havia enviado (confesso aqui a expectativa de um elogio, orgulhoso que estava de ter feito exatamente o que havia me pedido), e falou: rapazinho, olha o que farei com suas fotos, que além de horríveis não servem para nada. E deu um comando que, aparentemente, apagou tudo que eu tinha feito, trabalho despejado numa lata de lixo virtual, o que é ainda mais dramático porque não pode ser recuperado, não é como uma fotografia de papel amassada e atirada no cesto que podemos catar de volta, desamarrotá-la, alisá-la, colocá-la entre páginas de um livro pesado para que volte à vida, ainda que prejudicada pelo amarfalhar irado de quem a descartou.

As fotos dos carros desejados pela comandante-em-chefe eram outras, e agora parece que deu tudo certo, não fui demitido nem suspenso e continuarei na cobertura. Porque fui além: também fotografei algumas motocicletas, e é isso que nossos chefes esperam de nós, superação, criatividade e iniciativa.

SEBASTIAN VETTEL – O alemão, como faz em muitas corridas europeias, vem para o circuito numa das motos clássicas de sua coleção. Claro que ele não vem montado lá de onde mora, na Suíça. É muito longe e perigoso, também, embora as estradas sejam ótimas. A Ferrari coloca a magrela na bagagem e quando chega à cidade entrega para o piloto com o tanque cheio e os pneus calibrados. Essa Triumph aí, pelo pouco que sei de motos, é uma Bonneville T120R (de escapamento baixo), 650 cc. Não sei o ano, começo da década de 60, provavelmente. A placa é do Cantão de Turgóvia, que fica no nordeste da Suíça, fronteira com a Alemanha.

NICO HÜLKENBERG & CARLOS SAINZ JR. – Os dois correm pela Renault, então é de bom tom que venham para a pista em modelos da marca bem chamativos, no caso pintados na clássica cor Gemme d’Oeuf Paysan Jaune — amarelo gema de ovo caipira, numa tradução livre. Emprestaram carros de frota para os dois, certeza, porque eles têm placas da França. Alguém os trouxe dirigindo. O Mégane R.S. é um carrinho metido a bravo que faz de 0 a 100 km/h em 5s8 com seus 280 declarados cavalos-vapor de potência. Motorzinho turbo 1.8 e preço na loja de 37,6 mil euros — o que dá quase 180 mil têmeres-golpistas. Sou mais o Twingo, mas estão de bom tamanho.

PIERRE GASLY & BRENDON HARTLEY – Às vezes acho que as equipes deveriam ser mais cuidadosas com sua imagem pública. Eu, quando corria de Lada, só ia para a pista de Lada. É muito óbvio. É preciso valorizar a marca, os parceiros, não custa nada. Por que diabos a Toro Rosso não arranjou uns carrinhos da Honda para os dois? Sei lá, tem um Civic esportivo no mercado, não tem? Não sei se é GT, S/R ou algo parecido. Mas sei que existe. Aí colocam os caras em dois sedãs criados para tiozões de 40 anos. Um Skoda Octavia e um Jetta TSi. Sem mais comentários. Me recuso a ter qualquer opinião sobre sedãs de tiozões.

FERNANDO ALONSO – Sério, a McLaren não é mais aquela. Na boa. Os caras fabricam carros. Carros superesportivos, caríssimos, acho até que hoje eles são o principal negócio do grupo, já que seus laranjões de F-1 estão cheios de espaço disponível para publicidade. Por que não colocar dois desses no caminhão e trazer para seus pilotos se exibirem por aí? Budapeste é uma cidade de gente rica, os carros chamariam a atenção nas ruas, têm o maior ronco, parecem os Miúra, lembram dos Miúra? Mas, em vez disso, o sujeito que cuida da logística vai na Avis e aluga um (uma?) SUV da Audi para o Alonso. Um (uma?) Q7, ótima para levar a família para um piquenique. Só que corrida de F-1 não é piquenique, ninguém tem de trazer a família, nem sei se Alonso tem família, cacete, o que o cara vai fazer com um trambolho desse tamanho num autódromo? Juro, eu odeio SUVs.

MARCUS ERICSSON – Bom, pelo menos tem a ver com o nome do motor. Ou do patrocinador, porque o motor da Sauber é Ferrari, não tem nada de Alfa Romeo. Sei lá, talvez tenha até um Luigi ou um Gianluca que trabalhou na Alfa ajudando a montar os motores, então pode ser que tenha alguma coisa de Alfa. Enfim. Mas é um (uma?) SUV… Como é que a Alfa Romeo, histórica marca de carros luxuosos e de design sofisticado, com seu inconfundível “cuore sportivo” na frente, se mete a fazer um furgão desses? Mais um para levar toda a família, possivelmente com banco extra no porta-malas. Parece uma Giulia inchada. Stelvio Q4 é o nome desse modelo. A (o?) SUV da Alfa Romeo. Quem mais falta fazer SUV? O que sei desse utilitário é que ele é 2.2 turbodiesel, 4×4 (nossa, tão necessário nas vielas de Roma), tem 210 HP e custa 64 mil euros, o que dá quase 300 mil têmeres-golpistas — uma afronta. E azul, ainda. Isso lá é cor para furgão de entrega de leite?

ROMAIN GROSJEAN & KEVIN MAGNUSSEN – Nesse caso, justifica-se a presença de um Mercedes e um VW na garagem. A Haas tem parceria com a Ferrari, mas não se aluga uma Ferrari por aí tão barato, e a austeridade da equipe americana é mais do que conhecida. Então, meio que pega o que tem disponível na locadora, desde que tenha trio elétrico, ar e direção. A Avis, pelo jeito, estava com preços bons nesta semana. O fato de terem dado SUVs aos pilotos se explica por serem eles quem são. Em caso de acidente, a chance de sobrevivência é maior.

LANCE STROLL & SERGEY SIROTKIN – “Pai, eu quero um Audi.” Qual, filho? “Um branco, grandão, pra pegar as mina na balada.” OK, filho. Ele que aproveite, porque no ano que vem vai usar carros cor-de-rosa da Mary Kay. E com esses não pega mina nenhuma. Já o discreto soviético foi o único a estacionar seu carro de ré, talvez porque saiba que, em geral, sai mais cedo das corridas. No caso, embora a fotografia não seja digna de prêmio, informo que é uma perua. Tipo Belina, Caravan, Quantum. Não sei o modelo, porém. Não sei também por que as placas são da Áustria. Como se nota, na Williams anda meio difícil de explicar as coisas.

SERGIO PÉREZ & ESTEBAN OCON – Nunca compreendi a lógica que a Mercedes usa para determinar a nomenclatura de seus carros. São muitas letras e números e admiro profundamente aqueles que os declamam com intimidade e segurança. Sempre preferi nomes a siglas. Belcar, Vemaguet, Laika, Niva. Por conta de tal desconhecimento fui procurar saber que pito toca esse modelo GLC 250d da montadora alemã. De início descobri que o “d” é de “diesel”, algo que já intuía. Mas parei imediatamente de pesquisar sobre o indigitado veículo quando apurei que se trata de um (uma?) SUV cupê. Uma perua anabolizada com a capota achatada atrás, em resumo. Quem, por Nosso Senhor Jesus Cristo, por Alá, Buda e Olorum, teve a coragem de criar uma categoria “SUV cupê”? Cupê é um Shelby Daytona. É um Lancia Flaminia. É uma Ferrari 375 Scaglietti. É um Jaguar E-Type. É um Aston Martin DB6. SUV cupê, com todo respeito, é a puta que pariu.

DANIEL RICCIARDO & MAX VERSTAPPEN – Aí sim, nenhum reparo à escolha da Red Bull, automóveis que combinam com seus motoristas e que, apesar das placas inglesas, têm volante do lado esquerdo, tudo bonitinho. Não fosse o fato de terem colocado adesivos nas portas onde se lê “Aston Martin”, o que os transformou em uma espécie de táxi especial ou carro de concessionária para “test-drive”, ganhariam nota 10 deste que vos bloga.

VALTTERI BOTTAS – Mercedes GLE 350, mais uma letrinha que não consegui distinguir. Sim, outro (outra?) SUV. O que seria GLE? Se me perguntam o que é um Corcel II LDO, eu respondo: Luxuosa Decoração Opcional. Um Gol GT? Claro, meu senhor, é Gran Turismo. Passat TS? Touring Sport, ao seu dispor. Mas o que seria GLE? Uma corruptela para “geleia”? “Gostamos de Ludibriar Estultos”? “Gente, Levem Esta [merda daqui]? E o 350? Motor 3.5? Se sim, para que o zero no final? 350 cavalos? Tem tudo isso? Capacidade para transportar 350 kg de cebolas ou rabanetes? Nem para ambulância serve um negócio desses.

LEWIS HAMILTON – Olha, se não me equivoco, tem uma edição limitada da MV Agusta assinada pelo Hamilton. RR Brutale (ui), acho que é isso. Não saberia dizer, também, se é exatamente essa aí, mas acredito que sim. Afinal, se o cara tem uma linha exclusiva feita pela MV Agusta, não vai sair por aí de CG 125 bolinha a álcool. Aliás, vi uma CG a álcool para vender um dia desses, preta e vermelha, deu uma vontade louca. Creio que essa Brutale (ui) é 800 cc, mas não tenho certeza porque não entendo muito bem dessas motos grandes e velozes, pelo simples e justo motivo que meu tamanho me impede de andar nelas, daí minha opção por Vespas e Lambrettas.

Bem, tudo fotografado e registrado, creio que agora posso descer para comer um lanche. Mas preciso de autorização.