Blog do Flavio Gomes
F-1

RÓQUENRRAIM (3)

RIO (santa água) – É clichê dos mais abomináveis, mas clichês nada mais são do que verdades absolutas repetidas à exaustão — que não se tornam menos verdades por isso: nada como um dia depois do outro. Né, Neym…, digo, Hamilton? Toda aquela cena ontem, após a quebra na classificação, será relegada ao lixo da […]

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RIO (santa água) – É clichê dos mais abomináveis, mas clichês nada mais são do que verdades absolutas repetidas à exaustão — que não se tornam menos verdades por isso: nada como um dia depois do outro.

Né, Neym…, digo, Hamilton?

Toda aquela cena ontem, após a quebra na classificação, será relegada ao lixo da História. Porque a História registrará que no GP da Alemanha de 2018, um cara chamado Lewis Hamilton venceu depois de largar em 14º — e não que ficou chorando ajoelhado do lado do carro por causa de uma reles pane hidráulica que acontece nas melhores famílias. E registrará também um drama de verdade, o desse rapaz da foto aí em cima, que liderou a corrida quase toda e a 15 voltas do final bateu sozinho, um erro miserável assumido imediatamente após o encerramento da prova em Hockenheim: “A culpa é totalmente minha. Estraguei um fim de semana que vinha sendo perfeito”.

Essas foram as primeiras frases de Sebastian Vettel depois de seu cataclismo particular. É realmente uma tragédia perder uma corrida em casa por um erro bobo, causado pela chuvinha tinhosa que chegou à região do autódr0mo nas últimas 20 voltas do GP. A pista ficou úmida aqui e ali, ninguém sabia direito o que fazer com relação aos pneus, e Tião Italiano se perdeu numa curva de baixa velocidade, dentro do Estádio, na frente da torcida. E como desgraça pouca é bobagem, Hamilton venceu e retomou a liderança do campeonato.

[bannergoogle]Mas, nem por isso, viram-se cenas de auto-imolação nos boxes da Ferrari em Hockenheim, pista onde Vettel jamais venceu. Depois de esmurrar o volante assim que bateu, o piloto respirou fundo e começou a pensar na próxima. “Não vou perder o sono por causa disso. Este fim de semana foi positivo em muitos sentidos. Mostramos que temos um carro forte e que podemos estar confiantes para o resto da temporada. Mais confiantes do que qualquer um”, disse o alemão. “Em resumo, foi um pequeno erro e uma grande decepção.”

É isso. Ninguém precisa se matar porque perdeu uma corrida. Ou porque se deu mal num treino. Hamilton mostrou isso na pista, com o talento que tem, com a capacidade de tomar decisões rápidas junto com a equipe, e com a ajudinha da chefia, também. Nas últimas dez voltas, a partir da relargada — o safety-car ficou na pista entre as voltas 52 e 57 para remoção do carro de Vettel –, seu companheiro Bottas, com pneus mais novos, poderia ultrapassá-lo. Mas foi orientado pela Mercedes, pelo rádio, a ficar onde estava, sem segundo. “Valtteri, mantenha a posição. Desculpe”, foram as palavras do estrategista James Vowles ao finlandês. Elas chegaram logo após a saída do safety-car, no momento exato em que Bottas atacou Hamilton, mostrou que tinha muito mais carro e que era capaz de vencer.

A Mercedes não escondeu as ordens de equipe, nem delas se envergonhou. “Depois dos azares que tivemos nas últimas provas, não podíamos colocar mais nada em risco. E a situação era delicada, com a pista úmida ainda, todos sujeitos a um erro que pudesse comprometer o resultado”, disse o chefe Toto Wolff. “A gente sempre quer ganhar, mas o jogo é assim, eu entendo a decisão. Foi um resultado perfeito para a equipe. Eles pediram para minimizar os riscos”, assentiu o finlandês sem nenhum traço de mágoa na voz.

A dobradinha da Mercedes representou 0 150º pódio do time desde sua volta à F-1, em 2010. Foi também a 66ª vitória de Hamilton na categoria, quarta neste ano. Saltou para 188 pontos, contra 171 de Vettel. Raikkonen fechou a turma dos agraciados com o horroroso troféu entregue na volta da Alemanha ao calendário. Ele mesmo fora vítima de outra ordem de equipe, na altura de 39ª volta, quando a Ferrari pediu que ele abrisse caminho para Vettel. É um negócio meio irritante, mas tem uma explicação. Kimi fizera seu pit stop na 15ª volta. Sebastian, na 26ª. Perdeu a ponta para o parceiro, mas estava detonando sua borracha atrás dele, que perderia rendimento, mais cedo ou mais tarde. Tanto perdeu que foi obrigado a uma segunda parada no momento do safety-car, decisão que pareceu um tanto duvidosa, considerando-se que Hamilton optou por permanecer na pista.

[bannergoogle]Verdade que Lewis tinha pneus mais novos. Ele esticou o primeiro stint até a volta 42, esperando pela chuva iminente. Ela veio duas voltas depois, mas também não parou para intermediários, como fizeram alguns pilotos como Max Verstappen — o holandês tentou dar o pulo do gato, mas a chuva parou logo depois e ele teve de trocar de novo. E não parou por pouco. Uma confusão pelo rádio acabou chamando o piloto para os boxes, mas depois veio a contra-ordem, e ele abortou o pit stop na última hora, quando já estava na entrada do pitlane. Bottas também faria uma segunda parada para um novo jogo de ultramacios no período de neutralização.

Foram essas paradas extras de Kimi, Bottas e Verstappen, além da batida de Vettel, que jogaram Hamilton na liderança, depois de escalar o pelotão sem grandes dificuldades até chegar à quinta posição na volta 14. Em condições normais, era onde terminaria a prova, porque essa turma já tinha se distanciado na frente. Até o momento em que a chuva apareceu, na volta 44, a corrida nem estava muito interessante. Virou de cabeça para baixo com a água marota e acabou tendo uma fase final alucinante, até a quadriculada.

Depois de Hamilton, Bottas e Raikkonen, chegaram nos pontos Verstappinho, Hülkenberg, Grosjean, Pérez, Ocon, Ericsson e Hartley. Enquanto os hinos eram tocados no pódio, o céu desabou de vez em Hockenheim, algo muito típico para a região nos finais de tarde de verão. “É preciso acreditar sempre“, concluiu Lewis com mais um clichê indiscutível depois de uma das maiores vitórias de sua carreira.

Nada como um dia depois do outro, poderia ter dito também.